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Eleições no FC Porto: listas convergem na análise financeira e nos ‘remédios’

Ambos as candidaturas detetam que as contas são um dos problemas que o FC Porto tem em mãos a carecer de uma solução rápida. Jorge Nuno Pinto da Costa (há 42 anos no cargo) e André Villas-Boas (antigo treinador e sócio do clube) vão a votos este sábado e espera-se que este seja o escrutínio mais renhido da história do emblema.
27 Abril 2024, 08h00

É consensual para as duas listas mais importantes a concorrerem às eleições para o FC Porto – uma delas encabeçada por Jorge Nuno Pinto da Costa e a outra por André Villas-Boas – que a área financeira é o suporte do futuro da organização. Não há aí nenhuma novidade – mas o facto é que é a primeira vez que os sócios (os eleitores) foram assoberbados com basta informação sobre a matéria. Sinal dos tempos.

O JE ouviu os dois principais responsáveis pela referida área – João Rafael Koehler (por Jorge Nuno Pinto da Costa) e João Pedro Pereira da Costa (por André Villas-Boas) – e o mínimo que pode dizer-se é que, apesar de todo o ruido causado pelas eleições, a análise do balanço é muito semelhante. Desde logo porque ambos detetam o evidente: as contas são um dos problemas que o FC Porto tem em mãos a carecer de uma solução rápida. Para os dois lados, o problema principal é de tesouraria: a falta de dinheiro em caixa não só obriga ao recurso constante a empréstimos, como impede o desenvolvimento de negócios numa base concorrencial. Ou seja, dinheiro em caixa é a primeira solução para que a organização possa abordar os negócios que tem em mão numa posição negocial confortável.

Neste contexto, ambas as listas têm em vista o mesmo tipo de ‘remédios’ para solucionar o problema. A base é mais receita e menos despesa. Ninguém precisa de andar anos a fio numa universidade para encontrar esta solução – mas o facto é que até nos ‘remédios’ as duas listas estão próximas. A diminuição dos custos com a administração faz parte do ’caderno de encargos’ de ambos – diminuição de salários (para Villas-Boas) e o fim dos prémios milionários e mais ou menos inexplicáveis (para ambas as listas) estão na linha da frente. João Rafael Koehler quer ir mais longe e fechar algumas empresas que na sua ótica não fazem sentido e só servem para consumir recursos cada vez mais escassos. Está neste capítulo o Porto Canal, que para aquele responsável consome cerca de 10 milhões de euros por ano sem que dali venham benefícios correspondentes. Para a lista de Villas-Boas, é possível que se detete um número exagerado de funcionários – e Pereira da Costa não desmente que pode ser necessário recorrer a rescisões.

Outra medida que aproxima as duas listas é o aumento das receitas por via da bilhética e do merchandising – numa tentativa de ‘imitar’ os adversários diretos, que têm mostrado bastante mais capacidade nestas áreas específicas. Neste ponto, Pinto da Costa decidiu ‘inovar’: o programa ‘FC Porto Loyalty’, apresentado como “um ecossistema completo que transforma o cartão de sócio num poderoso meio de pagamento digital e centraliza a gestão de benefícios e interações. Com tecnologia de ponta, incluindo NFC e QR Codes, os nossos sócios poderão desfrutar de uma experiência de estádio totalmente cashless, fazer compras diretamente de seus assentos e aproveitar as vantagens exclusivas em uma rede ampliada de parceiros comerciais”. As funcionalidades do sistema permitem fazer compras, carregar saldo e verificar movimentos. “Além disso, cada transação alimenta o clube com recursos essenciais, aumentando a nossa capacidade de investir e crescer”.

A lista de Villas-Boas é mais assertiva no que tem a ver com a gestão dos passes dos jogadores – área que critica fortemente, acusando a atual equipa de ter deixado entrar no clube interesses estranhos ao próprio clube, que têm minado as contas da organização. E que lhe retira das mãos um dos instrumentos mais poderosos para a gestão dos ativos. Inscrevendo-se indiretamente nesta área, a questão das academias é um ponto de divergência. A lista de Pinto da Costa – correspondendo a um desejo antigo – quer construir um projeto de raiz, que desde logo irá aumentar a despesa: avaliado em 40 milhões de euros (mínimo) o complexo a construir na Maia já está a criar ‘anticorpos’: a própria autarquia (ou alguns dos seus vereadores) tem mostrado estar pouco confortável com o plano. André Villas-Boas não quer academia nenhuma, mas antes um centro de alto rendimento que pode bem ter o epicentro no Olival – um complexo instalado em Gaia e que tem um aluguer muito barato, que não precisa de grandes investimentos.

Depois há ainda a história dos direitos televisivos. Que não há. Estes foram hipotecados por vários anos há vários anos, e não contam para o futuro imediato das contas.

Outro ponto de convergência tem a ver com a dívida e com o seu serviço. A lista de Villas-Boas entende que tem possibilidade de a reformar e de recorrer a taxas de juro próximas dos 5%. A lista de Pinto da Costa tem sérias dúvidas que isso seja possível – e Koehler convidou Villas-Boas a explicar onde raio irá buscar dinheiro tão barato. Villas-Boas não explicou e o assunto é mais um daqueles que está a servir de arremesso.

Acabe-se com uma divergência: no limite, se tudo o mais falhar, a lista de Villas-Boas coloca a hipótese de permitir a entrada no clube de um grande investidor – por ‘muito estrangeiro’ que ele seja. Não há oligarcas russos disponíveis, mas as companhias aéreas do Médio Oriente têm sido, historicamente, uma alternativa interessante. E como, apesar das COP, ninguém está a pensar deixar de comprar petróleo a bom ritmo, é uma fonte que permanece financeiramente inesgotável e utilizável. A lista de Pinto da Costa parece estar menos disponível para encontrar um parceiro internacional para entrar no capital. Mesmo que, para os negócios que envolvem o estádio, se tenha socorrido de uma empresa estrangeira com créditos formados – uma solução que Villas-Boas criticou fortemente.

O facto de haver mais convergências que divergências entre as duas listas na área financeira, aponta em definitivo para a evidência de que o FC Porto tem realmente um problema com o seu deve-e-haver. Quanto ao mais, são assuntos do foro da ‘paixão’ clubística, que costuma ser pouco mais que ruído.

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