Conhece as principais escolas de economia e gestão de Portugal como a palma das mãos: no ISCTE-IUL fez o doutoramento e o MBA, no ISEG uma pós-graduação e na Nova SBE a licenciatura. O seu percurso de 20 anos no ensino universitário é marcado pela integração e desenvolvimento de projetos. Pragmática e determinada, a primeira mulher a liderar a Universidade Europeia afirma, com os olhos postos nos próximo três anos: “Teremos que ter a capacidade de olhar mais à frente do nosso tempo”.
Especializada em Marketing e Turismo, áreas em que a Universidade Europeia tem faculdades, e muito virada para a ação. O seu perfil encaixa como uma luva na Universidade que vai dirigir. Por acaso, foi recrutada por um ‘headhunter’?
É natural que uma organização procure, para um lugar de topo, um perfil que encaixe com o seu posicionamento. Foi o que aconteceu neste processo, onde passei por diferentes fases, conhecendo e dando-me a conhecer aos principais decisores/quadros da entidade instituidora da Universidade Europeia (em Portugal e Espanha). Este processo permitiu-me conhecer a visão que existe para a Universidade e, com isso, perceber que se tratava, de facto, de um desafio irrecusável.
Sente-se a pessoa certa no lugar certo, no momento certo? Que desígnios tem para o mandato?
Sinto a responsabilidade do lugar que ocupo, mas não teria dito sim a este enorme desafio se não me sentisse com a vontade, motivação e capacidade para levar a Universidade mais além. Ao aceitá-lo, assumo que procurarei apoiar as ambições de crescimento e consolidação da posição da Universidade Europeia em Portugal. A palavra chave será Transformação. Atualmente, com a tecnologia e a digitalização, as fronteiras diluem-se, por conseguinte, é importante apostar na mobilidade e na interculturalidade, de forma a capacitar os estudantes para um mercado de trabalho global e cada vez mais dinâmico. Para tal, continuaremos a trabalhar no sentido de fazer evoluir o nosso modelo académico, centrando-o na aprendizagem experiencial – “learning by doing” – com a apresentação permanente de projetos e desafios, no qual os diferentes stakeholders terão um papel fundamental. Não menos importante, será o estabelecimento de parcerias fortes, nacional e internacionalmente, um portefólio com uma oferta formativa mais ampla, assim como modelos de aprendizagem atrativos, entre outros. Cumprindo estes pressupostos, espero contribuir para o reforço do posicionamento da Europeia como instituição de referência no ensino universitário português.
Falemos das suas prioridades nas áreas do ensino e da investigação. Qual é a primeira?
Uma universidade só existe com alunos. Talvez pela minha formação e experiência académica na área do marketing, tenho bem vincada esta orientação para as necessidades dos nossos estudantes. Uma universidade forte só se constitui garantindo capacidade de atração de estudantes e esse objetivo só se concretiza através de um ensino superior de qualidade. Para isso, é fundamental apostar na qualificação do corpo docente, excelentes infraestruturas, nível de serviço, conteúdos atualizados e orientados para a garantia da excelência do processo de formação dos nossos alunos. Todavia, uma universidade forte também decorre da força da área da investigação. Estamos a desenvolver um plano estratégico para a investigação na nossa universidade que terá de pautar-se por padrões internacionais. Os resultados da investigação terão que servir os desígnios da excelência na formação que queremos garantir e que referi anteriormente. Como tal, ensino de excelência e investigação de grande qualidade são dois elos inseparáveis para a qualificação da nossa Universidade e a sua consolidação no panorama nacional e no processo de internacionalização que queremos alavancar.
E as restantes, quais são?
Costumo referir-me a um triângulo que, garantindo a otimização dos três vértices, permite a uma universidade passar a ser uma referência no setor. Os primeiros dois foram referidos na resposta à questão anterior. O terceiro, passa por transferência de conhecimento – a necessária relação entre a academia e o meio empresarial. Só uma universidade intimamente ligada, e conhecedora dos problemas, perspectivas e tendências do mercado de trabalho, poderá estar habilitada para formar profissionais de excelência. É nossa intenção apostar nesta relação através de uma formação de executivos mais forte, projetos de investigação aplicada, apoio a processos de inovação, projetos e desafios que tragam as empresas para dentro do campus numa relação que pretendemos forte e win-win para ambas as partes.
Diz que quer desenvolver conhecimento em áreas emergentes. Que áreas são essas?
Só é possível pensar em áreas emergentes se conhecermos aquelas que serão as competências mais relevantes para os profissionais do futuro. Estas estão em mutação evidente e teremos que ter a capacidade de olhar mais à frente do nosso tempo. A orientação para a solução, e não para o problema, com enfoque no pensamento crítico e analítico, criatividade e iniciativa, resiliência e flexibilidade; novos modelos de liderança e a presença constante da tecnologia, serão o mote para novas e emergentes áreas de conhecimento. Os programas, especificamente, serão desenvolvidos, de forma customizada, em função destas premissas.
Que novos modelos de formação poderão os alunos esperar futuramente? Crescimento do B-learning? Mais oferta online?
Temos assistido a grandes mudanças nos últimos anos e a tecnologia tem estado ao serviço de um processo de ensino/aprendizagem cada vez mais interativo e orientado para um estudante que é, também ele, cada vez mais tecnológico e que procura diferentes soluções para as suas necessidades académicas. Não obstante, o ensino presencial continua a ser essencial para as instituições de ensino superior. Para a Universidade Europeia, tal facto também se verifica, mas como instituição vanguardista, considerámos essencial a adaptação do nosso modelo de ensino, conhecido por Experiential Learning Hyflex, e o desenvolvimento de processos de inovação pedagógica que permitam dar resposta aos atuais e futuros desafios que o setor enfrenta. Estas alterações permitem preparar-nos para a emergência de novos perfis de estudantes, que procuram modelos de ensino diferenciadores, mais flexíveis, híbridos e, muitas vezes, totalmente online. Neste sentido, à semelhança do que aconteceu noutros países, acreditamos que as modalidades de B-learning e Ensino a Distância irão gerar cada vez maior interesse por parte dos estudantes e faz parte do nosso plano reforçarmos a oferta formativa nestas áreas.
A licenciatura em Medicina poderá voltar a estar na mira?
A área da saúde tem sido trabalhada e desenvolvida há vários anos nas nossas Instituições. A Universidad Europea de Madrid, por exemplo, foi a primeira universidade privada em Espanha a ver a licenciatura de medicina aprovada. Hoje em dia conta com uma oferta vastíssima que vai da Farmácia à Medicina Dentária, passando pela Enfermagem ou Nutrição. No nosso caso, e desde há vários anos, ministramos formação na área da saúde e em ciclos de estudos diferentes. Destaco, por exemplo, a Psicologia, a Fisiologia do Exercício ou a Gestão da Saúde. Iremos continuar a apostar na formação nesta área tão nobre porque consideramos que podemos acrescentar valor e porque, por virtude de anos de trabalho e elevada experiência, poderemos oferecer cursos diferenciadores onde a inovação e a tecnologia ganham um papel importante.
Recentemente, em Espanha, a Universidade Europeia, que também é detida pelo fundo Permira, cortou 225 empregos com o argumento de “dar continuidade à transformação e enfrentar as mudanças da digitalização”, aceleradas pela pandemia. Poderá acontecer o mesmo em Portugal, no futuro?
As nossas instituições, em Espanha, estão a passar por um processo de transformação e modernização que vai mais além da mera digitalização e engloba mudanças em muitas áreas e processos, o que significa que a sua situação, em comparação com a nossa, é muito diferente em termos de necessidades e desafios. Pelo que as linhas de ação são específicas a esta realidade que, como já disse, é diferente da que temos em Portugal.
Quantas escolas e quantos alunos tem a Europeia?
A Universidade Europeia conta com quatro escolas e uma ampla oferta formativa em áreas tão importantes como o design, a tecnologia, a gestão, o desporto ou o turismo. Quanto ao número de estudantes, estamos a falar de cerca de 5.000 alunos.
Qual é a área mais relevante da Universidade na investigação? Quais são os vossos objetivos aí?
A aposta na investigação de qualidade é um dos objetivos mais determinantes no mandato que agora iniciei. Estamos a preparar, como já referi, um plano estratégico para esta área e queremos, num horizonte temporal não muito longínquo, ter um cenário ainda mais positivo nesta área. Temos neste momento três doutoramentos – Gestão, Psicologia e Design –, mas temos outros em fase de preparação e de avaliação. Os programas doutorais são incubadores muito interessantes para investigação de qualidade. Temos um centro de investigação – UNIDCOM, na área do Design, com uma avaliação de Muito Bom por parte da FCT – que dispõe de 129 investigadores. E vamos apostar na criação de, pelo menos, mais um centro que possa garantir recursos, projetos e autofinanciamento para outras áreas de conhecimento determinantes para o posicionamento da Universidade.
A Universidade integra duas marcas fortíssimas: IADE e IPAM. O que está previsto para ambas?
De uma forma muito simples, queremos uma Universidade Europeia cada vez mais forte, mas reconhecemos a relevância, o ADN, o expertise e a história do IPAM e do IADE, instituições reputadas e reconhecidas nacional e internacionalmente.
Acreditamos que ambas, integrando a estrutura de forma diferente (o IPAM tem uma gestão própria, pois trata-se de ensino politécnico, ao contrário do IADE, que se colocou como uma unidade orgânica dentro da UE), irão contribuir para o posicionamento e crescimento do nosso projeto.
Qual a percentagem de alunos estrangeiros que estudam convosco? De onde vêm?
Em termos globais, podemos dizer que um em cada seis estudantes da Universidade Europeia é internacional e, em termos de países de origem, embora exista uma transversalidade grande, há a destacar o Brasil e outros países lusófonos, como principais fontes de proveniência de estudantes.
Investir na internacionalização é um propósito? Por que vias pretende fazê-lo?
A internacionalização faz parte dos objetivos estratégicos do mandato que inicio. Desde logo, com novos e ainda mais valiosos protocolos de colaboração e parcerias com universidades estrangeiras que garantam aos nossos alunos uma experiência potencialmente mais global e que permitam uma atração de alunos estrangeiros maior e mais qualificada, nos mais variados graus de ensino.
O ensino superior português tem, no geral, um corpo docente envelhecido. Qual é a média etária na Europeia?
Não diria envelhecido, mas sim, reconhecido. As universidades portuguesas, no geral, têm um corpo docente de prestígio, composto por profissionais que se distinguem nos seus domínios de estudo e áreas de atuação. Na Universidade Europeia, o corpo docente tem em média 50 anos, entre doutorados, profissionais de topo e membros de associações internacionais.
Para si, a empregabilidade de um curso conta? Os cursos da Europeia estão desenhados tendo em conta as saídas profissionais?
Sofreria de miopia de mercado se respondesse que não. A capacidade de colocar os nossos graduados no mercado de trabalho é um dos requisitos fundamentais para os programas que oferecemos. A Universidade Europeia há muito que trabalha este tema, fazendo uma prospecção intensa de mercado para recolher insights sobre novas tendências que possam consubstanciar-se em programas apelativos para sectores cada vez mais exigentes e à procura de competências muitas vezes específicas. Nos programas existentes, temos feito um trabalho constante de adaptação dos planos de estudo às necessidades do mundo laboral com o objetivo de garantir ao máximo a preparação dos nossos estudantes para o mercado de trabalho.
No final do seu mandato, onde gostaria de ter colocado a Universidade Europeia?
No final do mandato, conto ter cumprido todos os objetivos a que me desafiei e que tenhamos uma Instituição mais forte, inovadora e diferenciadora.
Defende que o aluno deve ser o centro do processo de ensino e investigação. O que significa?
O estudante está na base de toda a estratégia para a Universidade Europeia. Por todos os motivos que já enumerei anteriormente, e principalmente, porque o nosso objetivo último é formar empreendedores e profissionais de topo, através de métodos inovadores, e prepará-los para o mercado global.
Na sua perspetiva, o que falta no ensino superior português?
O ensino português tem crescido em qualidade evidente nos últimos anos. Não gosto de falar do que falta, mas sim do que podemos, ainda, fazer melhor. 1) Ouvir mais: os diferentes stakeholders (alunos, professores, entidades empregadoras, parceiros) que permitam às universidades estar permanentemente na vanguarda do conhecimento. 2) Orientar para o mercado: com programas efetivamente relevantes para o desenvolvimento económico e social do país. 3) Apostar decisivamente na internacionalização. 4) Não perder o comboio do desenvolvimento tecnológico e colocá-lo ao serviço do sector. As universidades portuguesas, até pela dimensão do país, devem olhar, em muitas vertentes, umas para as outras como potenciais parceiras e não como concorrentes. Há muito a fazer, muitos projetos que podem ganhar escala, se a visão for no sentido de um interesse maior, o de catapultar Portugal como embrião de modelos de ensino/aprendizagem, investigação, transferência de conhecimento, efetivamente inovadores, grande qualidade e valor acrescentado.
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