Estamos a dias de uma eleição presidencial. Mas esta eleição, que deveria ser banal, até porque temos um vencedor aceite pela maioria, está a tornar-se uma espécie de plebiscito contra André Ventura e o partido Chega. Nunca umas eleições presidenciais foram tão marcadas por uma figura e um partido recém-criado.

Ana Gomes, a candidata que as sondagens colocam em segundo lugar, está contra Marcelo (o virtual candidato vencedor) mas está sobretudo contra Ventura. Marisa Matias, a candidata do Bloco, está de acordo em quase tudo com Ana Gomes, está contra Marcelo mas sobretudo está contra Ventura. João Ferreira, o candidato da CDU, faz o tirocínio para secretário-geral do PCP, está contra Marcelo e está sobretudo preocupado com Ventura. Tiago Mayan, o candidato da IL, está contra Marcelo mas está sobretudo contra Ventura. Resta Tino de Rans, que está contra Marcelo mas atira uma “pedras” (sem ofensa) a Ventura.

Quanto a partidos, temo um PS que não tem candidato e a divisão dos seus militantes. O PSD tem candidato mas o atual líder, Rui Rio, passa o tempo preocupado com Ventura. Numa entrevista recente disse mesmo temer pelos efeitos de um grande resultado de Ventura acima dos 15%. Nenhuma sondagem o colocou ainda perto desta meta.

O Bloco volta a apostar em Marisa que não há semana em que não fale do partido de extrema-direita, embora o PCP, moribundo e que luta como um leão para se manter no poder autárquico e joga o futuro da liderança com João Ferreira, também não há semana nem dia que não fale de Ventura e do Chega.

O CDS está a caminho da extinção, tem um líder fora do parlamento e nem percebe como a deputada Cecília Meireles não cede o lugar ao líder em nome de um futuro para o partido. E este mesmo CDS não há dia ou semana que não queira vincar aquilo que o distingue do Chega. A IL tem um deputado no parlamento, uma “multidão” no Twitter e vários apoios nos media, mas o seu candidato (que tem ideias inteligentes mas sem suficiente suporte eleitoral) e o seu líder também insistem em afirmar as diferenças entre as “direitas”.

Mas que diabo, a política portuguesa parece ter-se resumido nos últimos meses, e em particular nas últimas semanas, ao Chega e a Ventura, ao RSI, ao Chega de direita ou de extrema-direita, ao regime presidencialista ou semipresidencialista, se está a cooperar com Le Pen, Salvini ou Bolsonaro!

Só que a verdade é que todo este ruído, entourage e onda negativa que todos tentam criar à volta do Chega e de Ventura o vão empurrando para cima nas sondagens, enquanto se cria uma distração para o caos em que o país parece estar a mergulhar, com o encerramento de pequenos negócios, falta de emprego generalizada, incapacidade para as famílias pagarem a prestação da casa ao banco, a impossibilidade de as famílias arrendarem casa, ou a mera incapacidade de pagar as contas mensais ou de receber assistência hospitalar decente.

Ora, foram os partidos do arco da governação que se infiltraram e dominaram as universidades, os meios de comunicação, de comentadores a empresários e decisores, que, na prática, são os responsáveis pela ascensão dos extremos. E o eleitorado dos extremos cresce porque é o resultado dos efeitos nefastos da máquina trituradora socialista e social-democrata, e hoje os “descamisados”, os “injustiçados” e os excluídos procuram aquele porto de abrigo. Vocês, os do arco da governação, são os responsáveis.