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Transações de private equity caíram 26% em valor no ano passado, diz McKinsey

A McKinsey & Company publicou o seu Global Private Markets Review 2023, uma análise exaustiva da evolução e desempenho do setor que abrange capitais de risco, imobiliário, dívida, infraestruturas e recursos naturais. O relatório mostra que 2022 marcou o desempenho do mercado de investimento privado devido às grandes mudanças que sofreu tanto por fatores internos como externos.
23 Março 2023, 19h40

Foi publicado o Relatório da McKinsey Global Private Markets Review 2023. Após um ano recorde em 2021, as transações de private equity diminuíram aproximadamente 26% em valor e 15% em número. No total, as empresas de private equity concluíram menos 2.639 aquisições, uma diminuição na ordem dos 14% em relação ao ano anterior, e o valor médio por transação diminuiu cerca de 7%, refere o estudo.

Apesar de grande parte do setor sentir o abrandamento da atividade, 2022 foi o segundo ano com o maior número de transações de que há registo, conclui a Mckinsey & Company.

Na lista de fatores adversos que influenciaram este desempenho está o aumento da inflação e das taxas de juro, a invasão russa na Ucrânia e a queda das cotações em bolsa, “o que levou ao aumento das contribuições dos parceiros para os mercados de private equity”. O relatório revela também que 2022 foi um ano de grandes contrastes geográficos no que respeita ao levantamento de capital. Enquanto nos mercados privados na América do Norte aumentou 2% em comparação com o ano anterior, na Ásia e na Europa caiu cerca de 39% e 28%, respetivamente.

Alejandro Beltrán, sócio sénior da McKinsey e líder global da Prática de Private Equity, refere em comunicado que “uma das razões para esta queda no levantamento de capital na Ásia, particularmente na China, é o rápido aumento consecutivo ao longo de vários anos até 2017 e que levou a uma grande quantidade de liquidez disponível para as empresas”.

“A resposta foi um abrandamento no levantamento de capital na Ásia com o objetivo de investir a sua liquidez excedentária. Além disso, as consequências da pandemia de Covid-19 e dos confinamentos prolongados na China também tiveram impactos negativos no levantamento de capital”, adianta Beltrán.

O Global Private Markets Review 2023 faz uma análise exaustiva da evolução e desempenho do setor  que abrange capitais de risco, imobiliário, dívida, infraestruturas e recursos naturais. O relatório mostra que 2022 marcou o desempenho do mercado de investimento privado devido às grandes mudanças que sofreu tanto por fatores internos como externos.

“O ano de 2021 foi um ano excecional para os private equity, e o primeiro semestre de 2022 continuou a um ritmo semelhante, apesar da inflação e da queda das cotações em bolsa”, afirma Tomeu Palmer, sócio da McKinsey e líder da Prática de Private Equity & Principal Investors na Península Ibérica. O sócio da Mckinsey diz que “no início do verão, o aumento das taxas de juro e a menor disponibilidade de dívida afetaram os mercados privados, provocando a queda do número de transações com as avaliações a caírem acentuadamente em certos setores”.

“Embora 2022 tenha sido um ano moderado para os mercados privados e os níveis de levantamento de capital em private equity tenham caído 15% versus 2021, o dry powder (capital disponível) global continua a aumentar e há provas de que os limited partners (LP) continuam mais poderosos do que na última recessão, em 2008, e mantêm uma visão de longo prazo” afirma Tomeu Palmer.

A consultora desta como outro tema relevante em 2022, o “efeito denominador”, que consiste um aumento exponencial nas alocações dos investidores institucionais nos mercados privados devido à rápida queda das cotações em bolsa. “Os grandes fundos beneficiaram desta incerteza, uma vez que os investidores têm sido mais hesitantes em afetar fundos aos mercados privados e optaram por general partners (GP) mais consolidados e com melhor track record, que atingiram o seu auge em 2022”, refere o relatório.

Fundos com mais de 5 mil milhões de dólares angariaram 445 mil milhões de dólares em 2022, o que representou 35% do total da angariação de fundos de capital privado. Em contrapartida, os fundos com menos de 5 mil milhões de dólares diminuíram cerca de 44% e foram criados apenas 2.141 fundos em 2022, menos 1.600 do que em 2021, lê-se no comunicado.

A Mckinsey refere que na dívida privada, o levantamento de capital aumentou durante cinco anos consecutivos, tendo crescido cerca de 2% em 2022. “Num contexto de incerteza macroeconómica, a estabilidade do levantamento de capital depende da diversidade das estratégias de dívida privada”, defende a consultora que lembra que “em 2022, as dívidas mezzanine foram as mais favorecidas, com totais de levantamento de capital para esta estratégia a triplicar em relação ao ano anterior, graças a três fundos que angariaram mais de 5 mil milhões de dólares cada um”.

“No total, entre todas as estratégias, o levantamento de capital de fundos de dívida privada cresceu 11% ao ano, nos últimos cinco anos”, explica a Mckinsey

Alejandro Beltrán diz que “a dívida privada foi a classe de ativos privados a registar o maior crescimento ao longo da última década e a mais atrativa ao longo do ciclo, como evidenciado pelo crescimento no levantamento de capital durante as recessões de 2020 e 2022”, revela o relatório que acrescenta que “no ano passado, os credores privados captaram ainda mais quota de mercado e continuaram a financiar negócios no segundo semestre do ano, quando os canais de financiamento tradicionais tinham praticamente encerrado” assinala.

Ativos sob gestão sobem 19% no primeiro semestre de 2022

O relatório deste ano também examinou o desempenho dos ativos sob gestão (AUM), que cresceram 19% no primeiro semestre de 2022 nos mercados privados face ao período homólogo. Este desempenho foi influenciado pelo crescimento do valor do património líquido (NAV), que conduziu a 80% do resultado.

Além disso, “o desempenho positivo no crédito privado e nas infraestruturas veio acrescentar valor aos ativos em carteira. Em termos de mercados privados globais, o levantamento de capital diminuiu 11% em relação a 2022, com o imobiliário a cair mais abruptamente em relação aos máximos de todos os tempos alcançados em 2021, na ordem dos 23% abaixo”, acrescenta.

Por outro lado, no campo dos investimentos sustentáveis “foi possível registar um crescimento notável em relação a outras áreas, com 2022 no bom caminho para ser o melhor ano de sempre para os chamados fundos ambientais, sociais e de governação (ESG), com 23,6 mil milhões de dólares angariados na primeira metade de 2022”.

“Além disso, os investimentos relacionados com a sustentabilidade aumentaram 11%, em contraste com a quebra de 14% no private equity face ao ano anterior”, refere o comunicado.

“Em consonância com esta realidade, o setor energético também está em franca expansão”, conclui a Mckinsey que adianta que os investimentos tradicionais em energia aumentaram devido à crise energética e ao aumento dos preços do petróleo e do gás natural, “mas a transição energética continua a ser a estrela do investimento a longo prazo, atingindo um máximo histórico de 158 mil milhões de dólares em 2022, com cinco fundos a angariar mais de 10 mil milhões de dólares, representando 47% do total de capital levantado”.

Principais conclusões do relatório

Após um ano recorde em 2021, as transações de private equity diminuíram aproximadamente 26% em termos de valor (dólares) e 15% em número. Enquanto diversas áreas neste setor sentiram o abrandamento da atividade (especialmente na segunda metade do ano), 2022 foi o segundo ano mais movimentado de que há registo.

O levantamento de capital nos mercados privados mundiais caiu cerca de 11% em 2022, com o setor imobiliário (-23%) e o private equity (-15%) a cair mais abruptamente em relação aos máximos de todos os tempos alcançados em 2021. O crédito privado (+2%) foi mais resiliente.

Desde 2017, os ativos sob gestão (AUM) cresceram a uma taxa anual de quase 20%, atingindo 11,7 biliões de dólares a 30 de junho de 2022.

O dry powder ultrapassa os 3 biliões de dólares, refletindo um aumento anual de 8,4% e marcando o oitavo ano consecutivo de crescimento.

O ano de 2022 foi o primeiro ano desde 2016 em que o capital privado não foi a classe de ativos privados com melhor desempenho, registando uma rentabilidade de -9% até setembro.

No setor imobiliário, as rendas cresceram em todos os setores, mas o valor das transações diminuiu 20%. Após mais do que duplicar em 2021, o valor das transações multifamiliares caiu 29% em 2022, representando quase metade do declínio global da atividade multifamiliar deste tipo de ativos.

Tal como no caso do private equity, as transações imobiliárias do primeiro semestre permaneceram próximas do ritmo recorde do segundo semestre de 2021, mas os valores do segundo semestre caíram acentuadamente.

O aumento da dívida privada cresceu 2% em 2022, e cresceu 11% ao ano nos últimos 5 anos. À medida que o financiamento bancário secava no segundo semestre do ano, os investidores privados preenchiam a lacuna, financiando mais de 80% das transações de private equity no mid market.

O levantamento de capital para fundos de infraestruturas e recursos naturais cresceu 7% para um máximo histórico de 158 mil milhões de dólares em 2022, beneficiando do levantamento de um total de cinco fundos de mais de 10 mil milhões de dólares; estes foram responsáveis por 47% do total do levantamento de capital.

O ano passado está no bom caminho para ser o melhor ano de sempre para fundos focalizados no ESG; foram angariados 23,6 mil milhões de dólares durante a primeira metade de 2022, aproximando-se rapidamente do recorde anterior de 27,5 mil milhões de dólares em todo o ano de 2021.

A partir de 2021, 52% dos GP partilharam as suas métricas de DEI durante os seus processos de levantamento de capital, contra apenas 7% em 2015 e 2016.

As mulheres representam agora 48% das posições de entrada, mas apenas 22% das posições de liderança. As minorias étnicas e raciais representam 39% dos postos de nível básico, mas baixam para apenas 17% a nível da direção.

 

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