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Transição verde requer apoios nos planos nacionais

O objetivo de atingir uma economia europeia neutra em emissões de carbono até 2050 exige a inclusão do sector dos transportes nos planos nacionais de recuperação, advoga um consórcio do ramo, dada a forte inovação e modernização necessárias.
13 Junho 2021, 10h00

Um dos focos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) desenhado pela Comissão Europeia para uma economia mais virada para o futuro e para o mundo pós-pandemia prende-se com a transição climática e a passagem para uma economia neutra em emissões de gases com efeito de estufa. Nesse âmbito, um dos sectores que mais importa avaliar e transformar é o dos transportes e da logística, que representa uma das principais fontes atuais de dióxido de carbono na atmosfera. Mas o digital também terá um forte impacto na modernização e agilização do sector.

Os desafios que enfrentará o ramo nos próximos tempos serão consideráveis, não só pela recuperação e aceleração da economia, mas também pela transição para um paradigma verde e digital que obrigará a mudanças profundas na forma de transportarmos pessoas e bens.

Em primeiro lugar, é preciso distinguir entre as duas principais facetas dos transportes na Europa, o pessoal e o de carga e mercadorias. A mobilidade dos cidadãos europeus tem sido um tema crescentemente debatido e valorizado, especialmente num mundo pré-Covid onde as grandes cidades europeias frequentemente se debatiam com engarrafamentos e dificuldades de mobilidade que causavam sérios transtornos aos seus habitantes, tanto de saúde, como económicos.

No que concerne ao transporte pessoal, os princípios orientadores da Comissão passam sobretudo por dois vetores: mobilidade suave e veículos elétricos. Enquanto que a primeira característica passa sobretudo pela organização das cidades, que necessitam de uma infraestrutura ao nível, por exemplo de ciclovias para permitir o uso destes meios de transporte, a segunda exigirá uma rede de carregamentos que representa um investimento considerável.

Assim, e procurando atingir a meta de 50% do parque automóvel europeu ser elétrico até 2030, a Comissão pretende investir numa rede robusta de carregamento para estes veículos em linha com a posição alcançada em 2020 do maior mercado de automóvel elétricos do mundo. Esta foi a primeira vez que o Velho Continente alcançou esta posição nos últimos cinco anos, refere a Standard & Poor’s, depois do crescimento de 43% nas vendas no ano passado.

No entanto, o impacto para o ambiente vindo do transporte de mercadorias é extremamente significativo e, como provou a pandemia, o sector é absolutamente fundamental para o funcionamento da economia. Este é um desafio que terá de ser abordado, reconhece a consultora de transportes TIS.

“O caminho está já a ser feito para alguns tipos de transporte, com base em baterias financeiramente mais acessíveis para os modos ligeiros e que oferecem níveis de autonomia crescente, decorrentes de aumentos da densidade energética. Para os modos mais pesados ou exigindo maior autonomia, há várias opções emergentes possíveis sem certezas quanto às que virão a ser dominantes”, afirma Daniela Carvalho, consultora sénior e membro do Conselho Executivo da TIS.

Um dos mecanismos disponibilizados por Bruxelas para a obtenção destes objetivos designa-se por Mecanismo Interligar Europa II (MIE). Este instrumento terá uma dotação de 33,71 mil milhões de euros, dos quais 25,81 mil milhões se destinam ao sector dos transportes, com 11,29 milhões reservados para os países beneficiários do Fundo de Coesão.

No entanto, a meta de uma economia europeia neutra em emissões de carbono até 2050 não será possível sem um forte investimento na inovação em termos de transportes e infraestrutura associada, relembra um consórcio pan-europeu de associações de transportes. Num comunicado conjunto enfatizando a necessidade de se apoiar este sector, estas organizações consideram que o MIE não será suficiente para levar a cabo as transformações precisas.
Assim, advoga este consórcio, cabe aos governos nacionais incluírem estas preocupações nos seus planos, promovendo um “transporte sustentável económica e socialmente e a digitalização do sector”, lê-se na declaração intitulada “Os transportes fazem-nos andar para a frente”.

“Os dados estão lançados e todos faremos parte da solução”, antecipa Daniela Carvalho. “Nos fundos geridos a nível nacional, a simplificação de procedimentos e as avaliações rigorosas e independentes permitirão desatar o nó górdio que limita a capacidade de concretização dos parceiros nacionais. Por outro lado, [é precisa uma] aposta em mecanismos de monitorização contínua que permitam reagir atempadamente e não correr atrás do prejuízo”, sublinha.

Mas os desafios não se esgotam aqui. Em Portugal, “a capacidade de concretização dos investimentos nos prazos previstos, um calcanhar de Aquiles que nos tem acompanhado ao longo dos anos, tem de ser reconhecida, analisada e alterada em conformidade”, alerta. Além disto, existe uma “morosidade administrativa, a capacitação técnica, a lentidão no processo de decisão e a aposta no preço como critério principal de adjudicação” como dificuldades adicionais.

Ainda assim, a previsão da TIS é otimista. “O impacto do digital será forte na organização de stocks e fluxos de forma mais conexa, abrangente e eficiente. O seu impacto terá um impulso decisivo quando se expandir a automação nos transportes, que já existe em terminais portuários e espaços fechados, para as autoestradas”, explica Daniela Carvalho, ao mesmo tempo que permitirá uma diminuição de custos, fazendo também cair a necessidade de armazenamento prolongado.

No domínio ambiental, “terá de haver investimentos vultuosos no desenvolvimento das tecnologias, na adaptação dos veículos e das redes de distribuição dos vetores energéticos”.

“Esses investimentos exigirão um modelo de fiscalidade distinto, pago simultaneamente pelos utilizadores das novas soluções e pelos utilizadores das antigas, através de taxas de carbono ou similares, de que atualmente estão isentos os combustíveis dos modos marítimo e aéreo”, sugere, considerando que tal fiscalidade “ajudará a acelerar a transição”.

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