Foram 48 horas intensas para Donald Trump. Os seus apoiantes querem a divulgação dos ficheiros Epstein, mas o presidente norte-americano chuta para canto e tenta distrair a opinião pública com outros temas.
No meio de uma tempestade com a sua base de apoio conhecida por MAGA (Make America Great Again), Donald Trump teve dois dias intensos em que tentou lançar uma cortina de fumo sobre a sua relação com Jeffrey Epstein, condenado por agressões sexuais e organizador de uma rede de pedofilia que suicidou-se na prisão.
Várias notícias têm dado conta da relação de amizade entre Trump e Epstein com muitos a questionarem se Trump sabia ou se esteve envolvido nas atividades ilegais e moralmente decadentes de Epstein.
“Trump tem um medo de morte dos ficheiros Epstein”, disse o ex-congressista republicano Joe Walsh citado pela “ABC”.
No seu melhor estilo, ameaçou bloquear a construção de um novo estádio em Washington DC a não ser que a equipa. os Commanders, mudem o seu nome novamente para Redskins (os peles vermelha, considerado uma expressão racista para designar os nativos americanos).
Depois, acusou Barack Obama de “traição” apontando que tentou sabotar a sua primeira presidência ao ligá-lo à interferência russa nas eleições de 2016. “Tentaram roubar a eleição”, afirmou na Casa Branca.
Um porta-voz de Barack Obama respondeu dizendo que esta era apenas uma “fraca tentativa de distração”.
Em terceiro, divulgou documentos relativos ao assassinato do reverendo Martin Luther King Jr, ativista que lutou pelos direitos dos afro-americanos, e que foi assassinado em 1968.
A sua família opõs-se à divulgação dos documentos, que inclui relatórios de vigilância do FBI, por considerar que podem ser usados para distorcer a vida do ativista. “Durante a sua vida, foi alvo de uma campanha de vigilância e desinformação predatória, invasiva e profundamente perturbadora por parte de J Edgar Hoover através do FBI”, segundo os seus dois filhos, citados pela “BBC”.
Já o líder de direitos civis reverendo Al Sharpton disse que a divulgação dos ficheiros é uma “tentativa desesperada de distrair” da “tempestade que envolve Trump sobre os ficheiros Epstein e da revelação pública sobre a sua credibilidade”.
Nas suas redes sociais, divulgou compilações de vídeos completamente aleatórios, incluindo pessoas a fazer truques em motos.
Noutra publicação, criticou a juíza federal responsável pelo processo da universidade de Harvard contra a administração Trump, chamando a magistrada de um “desastre total”.
No final da semana passada, o presidente dos EUA processou o Wall Street Journal e os seus donos em 10 mil milhões de dólares por uma notícia relacionada com Jeffrey Epstein, que realizava festas sexuais com celebridades e onde participavam menores de idade.
O dono do jornal é a News Corp detida pelo empresário dos media Rupert Murdoch, curiosamente, conhecido por ser apoiante do Partido Republicano. A empresa já se prometeu defender nos tribunais.
A notícia relacionava Donald Trump com Jeffrey Epstein e o presidente diz sentir-se difamado e que sofreu “pesados” danos reputacionais e financeiros.
Muitas das festas tinham lugar na sua ilha privada nas Caraíbas transportadas a bordo do jato privado do financeiro: o “Lolita Express”, numa referência óbvia ao livro de Vladimir Nabokov.
Para parte do eleitorado nos EUA, o caso ilustra como o sistema protege os ricos e poderosos, mesmo que tenham cometido crimes graves.
Epstein chegou a ser condenado por abusos sexuais de menores e por organizar uma rede de pedofilia.
O facto de Jeffrey Epstein ter mantido uma relação de amizade com o ex-presidente democrata Bill Clinton foi usado como arma política de arremesso nos EUA pelo Partido Republicano. “O Bill Clinton esteve na ilha?”, chegou a questionar Trump, tendo o ex-presidente democrata rejeitado a acusação.
Donald Trump chegou a anunciar que iria divulgar todos os ficheiros Epstein ao público, para gáudio da sua base de apoiantes, mas recentemente recuou e começou a ser atacado pela sua própria base, conhecida como MAGA – Make America Great Again.
Nos ficheiros, estará, em teoria, uma alegada lista de clientes de Epstein, que frequentariam as suas festas incluindo na sua ilha privada nas Caraíbas.
Os adversários políticos acusam Trump de se estar a encobrir, apontando que o presidente mantinha uma relação pessoal com Jeffrey Epstein.
A pressão aumenta sobre Trump que viu o tiro agora sair pela culatra depois de anos a usar a teoria da conspiração à volta deste caso para ganhos políticos. Antes, chegou a promover outra teoria da conspiração de que Barack Obama não tinha nascido nos EUA e que não podia ser presidente. A polémica levou Obama a responder-lhe à letra em 2011 durante um discurso num evento onde Donald Trump estava presente.
Na carta citada pelo jornal, assinada por Trump, e que desejava feliz aniversário a Epstein, com conotações sexuais, fazendo referência a “segredo” e assinada por “Donald”, um sinal de proximidade.
“Conheço o Jeff há 15 anos. É um tipo fantástico. É muito engraçado. Até dizem que ele gosta tanto de mulheres bonitas como eu, e muitas são assim para o mais novo”, disse Donald Trump em 2022 em entrevista à revista “New York”.
Mais tarde, em 2019, tentou criar espaço entre si e Epstein, afirmando que tinham-se afastado 15 anos antes.
Em 2017, Epstein disse que foi o “melhor amigo de Donald durante 10 anos”, acusando-o de ter relações com as mulheres dos seus amigos e de trair as suas esposas. Considerava-o “charmoso” e “sempre divertido” com qualidades de vendedor, mas que era um homem sem coração incapaz de ser bondoso, segundo as declarações citadas pelo “Daily Beast”.
“Entregámos um processo poderoso contra todos os envolvidos na publicação das ‘fake news’ falsas, maliciosas, difamatórias, usadas no trapo inútil que é o Wall Street Journal”, escreveu Donald Trump nas redes sociais.
O presidente terá de provar que os acusados atuaram com “malícia” e com conhecimento de que o artigo era falso ou que agiram sem respeito pela verdade.
A “Reuters” destaca que os 10 mil milhões de dólares de compensação superam em muito qualquer decisão tomada recentemente em processos de difamação.
“É um número ridículo. Seria o maior caso de difamação na história dos EUA”, segundo Jesse Gessin, advogado com experiência em difamação.
O Departamento de Justiça concluiu este mês que Epstein suicidou-se e que não existia uma lista de clientes ou provas de que teria chantageado pessoas.
Entretanto, perante a pressão, Trump deu ordens à Procuradora-Geral para libertar os ficheiros tanto do caso de Epstein como da sua sócia Ghislaine Maxwell, que foi condenada a 20 anos de prisão pelo seu envolvimento na rede de abusos sexuais de menores de Epstein.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com