[weglot_switcher]

Trump e a cobiça pela Gronelândia: o que está em causa?

Petróleo, gás, ouro, diamantes ou cobre. O subsolo de uma das maiores ilhas do mundo, e que pertence à Dinamarca, está cheio de riquezas, motivando a cobiça do presidente dos EUA.
U.S. President Donald Trump speaks in the East Room of the White House in Washington, U.S., November 4, 2020. REUTERS/Carlos Barria/File Photo
16 Janeiro 2025, 07h00

É a segunda maior ilha do mundo, atrás da Austrália, e tem estado debaixo do foco mediático em todo o mundo nas últimas semanas com o súbito interesse do novo presidente norte-americano.

Donald Trump já ameaçou impor tarifas à Dinamarca se não ceder controlo da Gronelândia, mas por que a súbita cobiça pelo gelado território dinamarquês?

Na verdade, a cobiça estará mais relacionada com o que está no subsolo da ilha: minério, petróleo e gás. É que existem mais de 500 diferentes minerais em 1.460 depósitos, como ouro, diamantes ou urânio. A ilha é rica em metais raros necessários para a eletrificação de todo o mundo e conta com potenciais reservatórios de petróleo e gás natural.

Mas há mais, nomeadamente a nível geoestratégico e comercial. Fica numa posição estratégica equidistante entre a Europa e a América do Norte. E a rota marítima do Ártico fica próxima e vai ser cada vez mais usada nas próximas décadas.

Mas o caminho promete ser longo: tanto a extração de petróleo como de gás natural foi proibida por razões ambientais. Já o desenvolvimento do setor mineiro enfrenta desafios burocráticos e uma forte oposição da população indígena, o povo Inuit, que constituem a maioria da população.

Dos 34 minerais considerados críticos pela Comissão Europeia, 25 encontram-se na Gronelândia, o que inclui grafite, cobre, níquel, zinco, ouro, diamantes, ferro, titânio, tungsténio, vanádio e urânio.

A ilha já alberga uma base militar norte-americana que monitora o espaço e deteta ameaças de mísseis. E o desejo de Trump pelo território dinamarquês tem lugar a três meses das eleições regionais.

A ilha conta com apenas 57 mil habitantes para um território 20 vezes maior do que Portugal.

“Trump está a capitalizar no desejo da Gronelândia por independência. Posso imaginar um cenário onde a Gronelândia sai debaixo da alçada da Dinamarca após as próximas eleições”, disse à “Bloomberg” Jacob Kaarsbo, conselheiro de segurança e ex-analista nos serviços de inteligência dinamarqueses.

O território está dependente da Dinamarca para sobreviver. Por ano, Copenhaga transfere 600 milhões de dólares para pagar os sistemas de saúde e de educação, ambos gratuitos.

“Podemos dizer que existe um grande potencial para matérias-primas críticas. Muitas são de grande importância para a economia europeia, mas não estão limitadas à Europa. Muitas estão na lista dos EUA”, disse à “CNBC” Jakob Kløve Keiding, do centro geológico da Dinamarca e Gronelândia (GEUS).

A economia da ilha vale um total de 2,4 mil milhões de dólares e está fortemente dependente do setor da pesca.

“Se querem ter controlo sobre a Gronelândia, ou aproximá-la dos EUA, têm de oferecer mais dinheiro do que a Dinamarca oferece atualmente. Se Trump oferecer um acordo melhor ao povo da Gronelândia, posso imaginar que a maioria da população irá declarar independência”, segundo Peter Viggo Jakobsen, professor na University of Southern Denmark.

Mas a ambição de explorar petróleo aqui tem, pelo menos, 50 anos, tendo sido enterrada em 2021. Atualmente, tanto a exploração de petróleo como de gás estão proibidas.

No passado, foi feita pesquisa por grandes companhias, mas sem sucesso, pelas gigantes Shell, Chevron, ExxonMobil e Eni.

Os riscos ambientais nas águas puras do oceano Ártico e a falta de retorno financeiro considerado viável para os projetos irem avante levaram a que nunca avançassem.

Um estudo feito pelo US Geological Survey em 2007 estima que o nordeste da ilha tenha, pelo menos, mais de 31 mil milhões de barris equivalentes de petróleo.

“Dada a sua proximidade com os EUA, torna-se um destino natural para investimento significativo norte-americano”, disse Roderick McIllre, da mineira britânica 80 Mile, que tem vários projetos na ilha. “Muitos estudos independentes apontam que a ilha tem entre 20% a 25% dos últimos recursos minerais do planeta. Se estiver certo, é uma grande oportunidade para a Gronelândia”.

Donald Trump Jr., o filho do presidente eleito, chegou mesmo a realizar recentemente uma visita surpresa à ilha.

A suspensão em 2021 teve em conta “considerações climáticas, considerações ambientais e senso comum económico. Suspender a estratégia para o petróleo foi a escolha certa”, disse na altura Naaja Nathanielsen, ministra regional dos recursos naturais. O Governo concluiu que os projetos iriam gerar baixos lucros ou não seriam rentáveis de todo.

Várias licenças onshore na costa leste e uma offshore no sudoeste só expiravam em 2027 e 2028. Entre 2002 e 2014, foram concedidas mais de 20 licenças offshore.

Trump e os seus aliados procuram agora apoios no Congresso para serem autorizados a iniciar conversações para a compra da ilha.

Já o Governo regional quer iniciar conversações com os EUA, mas apenas sobre defesa e mineração.

A deputada regional Aaja Chemnitz já avisou que a “Gronelândia não está à venda, nunca esteve e nunca vai estar”.

Tanto a Alemanha como a França avisaram Donald Trump que a Gronelândia pertence à Dinamarca, um membro da União Europeia e da NATO.

 

RELACIONADO
Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.