É a segunda maior ilha do mundo, atrás da Austrália, e tem estado debaixo do foco mediático em todo o mundo nas últimas semanas com o súbito interesse do novo presidente norte-americano.
Donald Trump já ameaçou impor tarifas à Dinamarca se não ceder controlo da Gronelândia, mas por que a súbita cobiça pelo gelado território dinamarquês?
Na verdade, a cobiça estará mais relacionada com o que está no subsolo da ilha: minério, petróleo e gás. É que existem mais de 500 diferentes minerais em 1.460 depósitos, como ouro, diamantes ou urânio. A ilha é rica em metais raros necessários para a eletrificação de todo o mundo e conta com potenciais reservatórios de petróleo e gás natural.
Mas há mais, nomeadamente a nível geoestratégico e comercial. Fica numa posição estratégica equidistante entre a Europa e a América do Norte. E a rota marítima do Ártico fica próxima e vai ser cada vez mais usada nas próximas décadas.
Mas o caminho promete ser longo: tanto a extração de petróleo como de gás natural foi proibida por razões ambientais. Já o desenvolvimento do setor mineiro enfrenta desafios burocráticos e uma forte oposição da população indígena, o povo Inuit, que constituem a maioria da população.
Dos 34 minerais considerados críticos pela Comissão Europeia, 25 encontram-se na Gronelândia, o que inclui grafite, cobre, níquel, zinco, ouro, diamantes, ferro, titânio, tungsténio, vanádio e urânio.
A ilha já alberga uma base militar norte-americana que monitora o espaço e deteta ameaças de mísseis. E o desejo de Trump pelo território dinamarquês tem lugar a três meses das eleições regionais.
A ilha conta com apenas 57 mil habitantes para um território 20 vezes maior do que Portugal.
“Trump está a capitalizar no desejo da Gronelândia por independência. Posso imaginar um cenário onde a Gronelândia sai debaixo da alçada da Dinamarca após as próximas eleições”, disse à “Bloomberg” Jacob Kaarsbo, conselheiro de segurança e ex-analista nos serviços de inteligência dinamarqueses.
O território está dependente da Dinamarca para sobreviver. Por ano, Copenhaga transfere 600 milhões de dólares para pagar os sistemas de saúde e de educação, ambos gratuitos.
“Podemos dizer que existe um grande potencial para matérias-primas críticas. Muitas são de grande importância para a economia europeia, mas não estão limitadas à Europa. Muitas estão na lista dos EUA”, disse à “CNBC” Jakob Kløve Keiding, do centro geológico da Dinamarca e Gronelândia (GEUS).
A economia da ilha vale um total de 2,4 mil milhões de dólares e está fortemente dependente do setor da pesca.
“Se querem ter controlo sobre a Gronelândia, ou aproximá-la dos EUA, têm de oferecer mais dinheiro do que a Dinamarca oferece atualmente. Se Trump oferecer um acordo melhor ao povo da Gronelândia, posso imaginar que a maioria da população irá declarar independência”, segundo Peter Viggo Jakobsen, professor na University of Southern Denmark.
Mas a ambição de explorar petróleo aqui tem, pelo menos, 50 anos, tendo sido enterrada em 2021. Atualmente, tanto a exploração de petróleo como de gás estão proibidas.
No passado, foi feita pesquisa por grandes companhias, mas sem sucesso, pelas gigantes Shell, Chevron, ExxonMobil e Eni.
Os riscos ambientais nas águas puras do oceano Ártico e a falta de retorno financeiro considerado viável para os projetos irem avante levaram a que nunca avançassem.
Um estudo feito pelo US Geological Survey em 2007 estima que o nordeste da ilha tenha, pelo menos, mais de 31 mil milhões de barris equivalentes de petróleo.
“Dada a sua proximidade com os EUA, torna-se um destino natural para investimento significativo norte-americano”, disse Roderick McIllre, da mineira britânica 80 Mile, que tem vários projetos na ilha. “Muitos estudos independentes apontam que a ilha tem entre 20% a 25% dos últimos recursos minerais do planeta. Se estiver certo, é uma grande oportunidade para a Gronelândia”.
Donald Trump Jr., o filho do presidente eleito, chegou mesmo a realizar recentemente uma visita surpresa à ilha.
A suspensão em 2021 teve em conta “considerações climáticas, considerações ambientais e senso comum económico. Suspender a estratégia para o petróleo foi a escolha certa”, disse na altura Naaja Nathanielsen, ministra regional dos recursos naturais. O Governo concluiu que os projetos iriam gerar baixos lucros ou não seriam rentáveis de todo.
Várias licenças onshore na costa leste e uma offshore no sudoeste só expiravam em 2027 e 2028. Entre 2002 e 2014, foram concedidas mais de 20 licenças offshore.
Trump e os seus aliados procuram agora apoios no Congresso para serem autorizados a iniciar conversações para a compra da ilha.
Já o Governo regional quer iniciar conversações com os EUA, mas apenas sobre defesa e mineração.
A deputada regional Aaja Chemnitz já avisou que a “Gronelândia não está à venda, nunca esteve e nunca vai estar”.
Tanto a Alemanha como a França avisaram Donald Trump que a Gronelândia pertence à Dinamarca, um membro da União Europeia e da NATO.
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