Do Canadá à União Europeia, o presidente eleito dos EUA quer castigar os países com quem os EUA tem um défice comercial: a China lidera com um superavit de 280 mil milhões de dólares, dados de 2023.
Mas os peritos avisam que isto iria travar fluxos comerciais, subir custos para famílias e empresas e provocar retaliação contra os bens que os EUA vendem.
A Europa é o maior comprador do gás natural líquido (GNL) norte-americano: mais de 50% das entregas dos EUA em 2023 tiveram como destino a Europa. No entanto, as compras à Rússia continuam no segundo lugar.
No seio da União Europeia, há muito que se fala de aumentar o nível de sanções à Rússia, apesar da forte diminuição das compras desde a invasão da Ucrânia. Contudo, a Europa arrisca-se a ver os preços do gás dispararem novamente, tal como no inverno de 2022, que arrastou o bloco para um crise energética sem precedentes. Ao mesmo tempo, vários países a leste continuam muito dependentes do gás russo.
“A Europa já está perto da sua capacidade máxima para o crude dos EUA, existe pouco espaço para importações mais fortes no próximo ano”, disse o analista Richard Price da Energy Aspects à “Reuters”, apontando que o encerramento de refinarias europeias em 2025 não vai ajudar às importações.
Mas será fácil reforçar o fluxo para a Europa? No curto prazo, dificilmente. O mercado do GNL funciona com contratos de longo prazo. Quem fechou estes contratos teria de concordar em abdicar dos mesmos para irem para a Europa. Mas o volume total previsto não aumentaria, apenas o destinatário final.
Já no longo prazo, vários projetos vão arrancar nos EUA nos próximos anos. Mas nem tudo é um mar de rosas, que o diga a Galp que recorreu à arbitragem contra a norte-americana Venture Global LNG por falhas nas entregas de gás ao abrigo de contratos de longo prazo. A empresa argumenta que a sua fábrica no Louisiana ainda não está concluída. Várias outras companhias também recorreram à arbitragem para exigir compensação, incluindo a Shell, BP e Repsol.
Tanto a EDP como a Galp tem contratos firmados com outra gasista americana, a Cheniere.
Já no petróleo, as compras europeias subiram depois da invasão da Ucrânia.
Por dia, os EUA vendem dois milhões de barris à UE, acima da Arábia Saudita ou África ocidental.
O petróleo funciona num regime de mercado livre: as empresas refinadoras compram o crude que precisam, ao preço mais baixo possível, para vender os combustíveis de que o mercado precisa.
“Estes fluxos funcionam numa lógica de mercado livre e é difícil saber a diferença que qualquer tipo de intervenção governamental pode fazer”, questiona a “Bloomberg”.
A Comissão Europeia tem poderes para impor tarifas ou outras medidas punitivas para responder a eventuais tarifas impostas pelos EUA.
Além de que Bruxelas tem também poderes para punir empresas estrangeiras que tenham recebido subsídios do seu Estado, podendo-as impedir de participar em concursos públicos ou de comprar outras empresas, ou de se fundirem.
Donald Trump tem ameaçado impor tarifas a muitos países, com muitos a serem aliados históricos dos EUA.
Trump não tem poupado os ataques à UE: Bruxelas foi considerado um “buraco infernal” e já ameaçou deixar a Rússia fazer o que quer se os países da UE não cumprirem nos seus gastos orçamentais junto da NATO.
Em Portugal, a maioria do gás armazenado no país até novembro tem origem na Nigéria (51%). Segue-se EUA (41%) e Rússia (5%), segundo os dados da REN.
Em 2023, o Brasil foi o principal fornecedor de energia ao país (18%), seguido da Nigéria (13%), Espanha (9%) e dos EUA (7%). Juntos, estes quatro países pesaram 70% no saldo importador de energia (inclui petróleo, gás e eletricidade), segundo os dados da DGEG.
No gás natural, o maior fornecedor em 2023 foi a Nigéria (39%) e os EUA (38%).
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