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Trump longe de Kim Jong-un. E de Michael Cohen

Ao contrário do que tudo indicava, a cimeira entre os dois líderes acabou sem um acordo conjunto. Nem sequer daqueles suficientemente vagos para acomodar todas as expectativas. Entretanto, o regresso de Trump a Washington afigura-se difícil.
28 Fevereiro 2019, 07h44

A cimeira entre os presidentes dos Estados Unidos e da Coreia do Norte, Donald Trump e Kim Jong-un, que termina esta quinta-feira, deveria encerrar com a produção de um documento conjunto tão vago quanto aquele que emanou da cimeira de Singapura – o que permitiria acomodar todas as expectativas criadas à volta do encontro. Mas, contra todas as expectativas, não foi nada disso que aconteceu: a cimeira terminou sem acordo, com as duas partes a não serem capazes de atingir uma plataforma comum.

No final, Kim Jong-un pretendia que os Estados Unidos suspendessem todas as sanções impostas pelos Estados Unidos, mas Donald Trump não podia aceitar semelhante proposta. As sanções continuam, as negociação também, e adiante se verá se os dois países voltam a convergir, ou entram numa rota de divergência que volte a colocar Estados Unidos e Coreia do Norte em tora de rutura.

Os dois líderes optaram por mostrar cordialidade em vez de crispação e sorrisos em vez de má disposição – e é precisamente para isso que servem estas cimeiras, recordam os analistas. Mas desta vez não chegou, mesmo que as expectativas, sob este ponto de vista, não fossem muitas.

De algum modo, a realização da cimeira é já em si uma vitória política – ainda por cima averbável pelos dois lados do jogo – e fina-se em si mesmo. A única consequência, aquela que importa, é que o entendimento entre os dois países continua e, aparentemente, não há qualquer escolho grave à vista.

O pior de tudo acabará por ser o regresso de Trump aos Estados Unidos, onde o esperam mais um coro de críticas e uma situação política próxima da crise. As declarações de ontem do seu ex-advogado Michael Cohen não podem deixar de incendiar os próximos dias de Trump.

Michael Cohen, que foi durante uma década advogado e ‘homem de mão’ de Donald Trump, lançou em pleno Congresso tremendas acusações ao presidente dos Estados Unidos: conhecimento de antemão do Wikileaks e comprometimento com a campanha de boicote a Hillary Clinton – para além da questão do pagamento a duas mulheres pelo seu silêncio em relação a umas infidelidades, que o Congresso releva mais pelo lado do financiamento ilícito.

Até agora, Trump tem escapado – não totalmente de forma incólume – às investidas de Cohen, que o presidente dos Estados Unidos já apelidou de ridículas e feitas para escapar às suas próprias dificuldades. Mas os analistas consideram que o acumular deste tipo de declarações poderá acabar por fazer mossa ao presidente – já que mais não seja minando-lhe a possibilidade de uma candidatura vitoriosa a um segundo mandato.

Segundo os jornais norte-americanos, as declarações do ex-advogado de Trump transformaram a enorme operação mediática em torno da cimeira num pequeno acontecimento sem importância.

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