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Trump sabe há dois meses que o seu nome está nos ficheiros Epstein

Procuradora-geral dos EUA informou o presidente há dois meses que o nome de Trump e de outras pessoas com notoriedade constam nos ficheiros Epstein, a investigação a uma rede de pedofilia. Passado umas semanas, Trump anunciou que, afinal, não iria divulgar os ficheiros, como tinha prometido anteriormente.
Tony Webster
24 Julho 2025, 10h02

Elon Musk bem tinha dito há um mês que o nome de Donald Trump surgia nos ficheiros Epstein. Agora, surge a confirmação de que a Procuradora-Geral dos EUA informou o presidente há dois meses que o seu nome consta “múltiplas vezes” nos ficheiros Epstein, revela o “Wall Street Journal”.

Os ficheiros Epstein são um conjunto de ficheiros que revelam a escala da rede de pedofilia montada por Jeffrey Epstein, que foi amigo de Donald Trump durante muito tempo, contendo os nomes dos clientes, muitos deles famosos e poderosos, do financeiro que se suicidou na prisão.

Várias notícias têm dado conta da relação de amizade entre Trump e Epstein com muitos a questionarem se Trump sabia ou se esteve envolvido nas atividades ilegais e moralmente decadentes de Epstein. Há muitos vídeos e há muitas fotografias dos dois homens em eventos sociais ao longo dos anos, em amena cavaqueira.

O Congresso já chamou a depor Ghislaine Maxwell, a parceira de Jeffrey Epstein, e que geria a rede de pedofilia em conjunto com o financeiro.

Donald Trump já veio a público rejeitar que tenha sido informado.

O jornal norte-americano – detido por Rupert Murdoch, próximo do Partido Republicano – cita vários membros da administração Trump revela que muitos outros nomes conhecidos figuram nos ficheiros.

A Procuradoria-Geral já tinha vindo a público revelar que não iria divulgar mais documentos relacionados com a investigação, que estão em segredo de justiça.

Ora, isto provocou um ataque de ira da base de apoio ao presidente – o movimento informal MAGA (Make America Great Again) -, depois de Trump ter fomentado teorias de conspiração sobre os ficheiros Epstein, envolvendo Bill Clinton, o ex-presidente democrata.

Em 2010, Jeffrey Epstein declarou, sob juramento, a um advogado de uma vítima sua menor de idade que tinha socializado com Donald Trump e invocou a 5a, 6a e 14a emendas para não responder se tinha socializado com Trump na presença de raparigas com menos de 18 anos, revelou o “Daily Wire” em 2016.

Nos últimos dias, Donald Trump tem feito manobras de diversão, segundo os seus críticos, tentando desviar atenções do caso, mas sem grande sucesso, entre acusar Barack Obama de traição, divulgar relatórios do FBI sobre Martin Luther King, atacar publicamente a juiza que tem o caso de Harvard vs Trump, publicar vídeos aleatórios, ou tentar impedir que uma equipa de futebol americano construa um estádio porque quer que os Washington Commanders voltem a ter um nome que é considerado uma ofensa racial aos nativos americanos (redskins).

“Trump tem um medo de morte dos ficheiros Epstein”, disse o ex-congressista republicano Joe Walsh citado pela “ABC”.

A grande trapalhada de Trump nos ficheiros Epstein

No final da semana passada, o presidente dos EUA processou o Wall Street Journal e os seus donos em 10 mil milhões de dólares por uma notícia relacionada com Jeffrey Epstein, que realizava festas sexuais com celebridades e onde participavam menores de idade.

O dono do jornal é a News Corp detida pelo empresário dos media Rupert Murdoch, curiosamente, conhecido por ser apoiante do Partido Republicano. A empresa já se prometeu defender nos tribunais.

A notícia relacionava Donald Trump com Jeffrey Epstein e o presidente diz sentir-se difamado e que sofreu “pesados” danos reputacionais e financeiros.

Muitas das festas tinham lugar na sua ilha privada nas Caraíbas transportadas a bordo do jato privado do financeiro: o “Lolita Express”, numa referência óbvia ao livro de  Vladimir Nabokov.

Para parte do eleitorado nos EUA, o caso ilustra como o sistema protege os ricos e poderosos, mesmo que tenham cometido crimes graves.

Epstein chegou a ser condenado por abusos sexuais de menores e por organizar uma rede de pedofilia.

O facto de Jeffrey Epstein ter mantido uma relação de amizade com o ex-presidente democrata Bill Clinton foi usado como arma política de arremesso nos EUA pelo Partido Republicano. “O Bill Clinton esteve na ilha?”, chegou a questionar Trump, tendo o ex-presidente democrata rejeitado a acusação.

Donald Trump chegou a anunciar que iria divulgar todos os ficheiros Epstein ao público, para gáudio da sua base de apoiantes, mas recentemente recuou e começou a ser atacado pela sua própria base, conhecida como MAGA – Make America Great Again.

Nos ficheiros, estará, em teoria, uma alegada lista de clientes de Epstein, que frequentariam as suas festas incluindo na sua ilha privada nas Caraíbas.

Os adversários políticos acusam Trump de se estar a encobrir, apontando que o presidente mantinha uma relação pessoal com Jeffrey Epstein.

A pressão aumenta sobre Trump que viu o tiro agora sair pela culatra depois de anos a usar a teoria da conspiração à volta deste caso para ganhos políticos. Antes, chegou a promover outra teoria da conspiração de que Barack Obama não tinha nascido nos EUA e que não podia ser presidente. A polémica levou Obama a responder-lhe à letra em 2011 durante um discurso num evento onde Donald Trump estava presente.

Na carta citada pelo jornal, assinada por Trump, e que desejava feliz aniversário a Epstein, com conotações sexuais, fazendo referência a “segredo” e assinada por “Donald”, um sinal de proximidade.

“Conheço o Jeff há 15 anos. É um tipo fantástico. É muito engraçado. Até dizem que ele gosta tanto de mulheres bonitas como eu, e muitas são assim para o mais novo”, disse Donald Trump em 2022 em entrevista à revista “New York”.

Mais tarde, em 2019, tentou criar espaço entre si e Epstein, afirmando que tinham-se afastado 15 anos antes.

Em 2017, Epstein disse que foi o “melhor amigo de Donald durante 10 anos”, acusando-o de ter relações com as mulheres dos seus amigos e de trair as suas esposas. Considerava-o “charmoso” e “sempre divertido” com qualidades de vendedor, mas que era um homem sem coração incapaz de ser bondoso, segundo as declarações citadas pelo “Daily Beast”.

“Entregámos um processo poderoso contra todos os envolvidos na publicação das ‘fake news’ falsas, maliciosas, difamatórias, usadas no trapo inútil que é o Wall Street Journal”, escreveu Donald Trump nas redes sociais.

O presidente terá de provar que os acusados atuaram com “malícia” e com conhecimento de que o artigo era falso ou que agiram sem respeito pela verdade.

A “Reuters” destaca que os 10 mil milhões de dólares de compensação superam em muito qualquer decisão tomada recentemente em processos de difamação.

“É um número ridículo. Seria o maior caso de difamação na história dos EUA”, segundo Jesse Gessin, advogado com experiência em difamação.

O Departamento de Justiça concluiu este mês que Epstein suicidou-se e que não existia uma lista de clientes ou provas de que teria chantageado pessoas.

Entretanto, perante a pressão, Trump deu ordens à Procuradora-Geral para libertar os ficheiros tanto do caso de Epstein como da sua sócia Ghislaine Maxwell, que foi condenada a 20 anos de prisão pelo seu envolvimento na rede de abusos sexuais de menores de Epstein.

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