O ‘bromance’ entre Donald Trump e Jair Bolsonaro intensificou-se nas últimas semanas.

Em janeiro, logo após a tomada de posse do brasileiro, o presidente dos Estados Unidos iniciou a troca de mimos, dizendo que gosta mais do Brasil porque Bolsonaro aprecia ser tratado como o Donald Trump da América do Sul.

O segundo ‘date’ foi no final de junho, na cimeira do G20 em Osaka. Trump elogiou o homólogo, dizendo que é “um homem especial” e Bolsonaro retribuiu ao admitir que é há algum tempo um grande admirador do republicano.

No final de julho, nova troca de elogios. Trump disse que Eduardo Bolsonaro, filho do presidente e que este quer indicar para embaixador nos Estados Unidos, “é excelente, brilhante, maravilhoso”. Bolsonaro sénior não quis ficar para trás e admitiu estar “cada vez mais apaixonado por Trump”.

Esta sociedade de admiração mútua não é surpreendente. Os dois presidentes são nacionalistas declarados, ganharam eleições com recurso ao apelo populista e a campanhas negativas em redes sociais. Ambos têm historiais de declarações polémicas sobre mulheres, a comunidade LGBT e minorias étnicas.

Não é surpreendente, mas não deixa de ser preocupante ver o poder nos dois países mais populosos da América nas mãos de dois políticos que têm posições tão pouco conciliatórias em sociedades altamente polarizadas.

Além das novas expressões de amizade, os dois presidentes estiveram nos últimos dias focados em lidar com outro aspecto partilhado pelos dois países: níveis cada vez mais preocupantes de criminalidade e violência.

Os massacres em Dayton (Ohio) e El Paso (Texas), no fim de semana passado foram novas demonstrações da epidemia de mass shootings que os EUA não conseguem controlar. O problema não é novo, mas para Trump é especialmente sensível porque o massacre em El Paso teve motivação racial, pondo em foco o facto de o presidente ter políticas anti-imigração e ter, há meras semanas, proferido comentários considerados racistas sobre quatro políticas democratas.

Segundo a imprensa norte-americana, Trump estará a analisar impor controlos prévios à compra de armas pelos cidadãos, os chamados background checks. É pouco provável que avance, no entanto, porque quererá evitar a ira da base que o elegeu, dessa forma adiando a questão, tal como já o fez no passado.

No Brasil, um país no qual a a violência atingiu níveis difíceis de compreender, Bolsonaro demorou pouco tempo a tentar atacar o problema. A medida, a primeira após ter tomado posse em janeiro, é, no mínimo, discutível – facilitar a posse de armas.

O presidente brasileiro acredita que o direito à defesa irá ajudar a resolver o problema. Esta semana voltou à carga, afirmando que a lei da legítima defesa deve ser alterada para que os crimes contra a propriedade possam ser travados matando os criminosos.

Bolsonaro quer alterar a lei sobre exclusão de ilicitude, alargando os casos em que ações violentas podem escapar a punição para além dos casos de risco de vida.

O presidente elencou os exemplos: defesa da vida de terceiros, a propriedade própria ou de terceiros, o património próprio ou de terceiros. Segundo Bolsonaro, a alteração faria a violência cair “assustadoramente”.

“Os caras vão morrer na rua igual barata, pô, e tem que ser assim”, exclamou.

Olhar para o outro lado do Atlântico e para as posições destes dois amigos sobre um tema tão crucial, isso, sim, é verdadeiramente assustador.