[weglot_switcher]

Turquia posiciona-se como parceiro da Europa e Ucrânia para a segurança

Capacidade, prontidão, diversidade e uma cadeia de fornecimento mínima. É esta a oferta da indústria turca de armamento à Europa. O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, esteve em Ancara a analisar uma possível aproximação.
13 Março 2025, 15h17

A Turquia está a emergir como um parceiro potencial no quadro da reestruturação da segurança europeia – que passa também pelo rearmamento, setor que está em grande desenvolvimento há pelo menos uma década – numa altura em que o ‘velho’ continente inicia esforços para encontrar um novo posicionamento militar. Até agora, a Europa tem descartado esta hipótese – pelo menos no que se refere a uma iniciativa em escala por parte da União Europeia – mas para alguns analistas esta ‘falha’ acabará por ter de ser ultrapassada. O embaixador Seixas da Costa é um deles, tendo dito ao JE que faz pouco sentido que a Turquia esteja (ainda) posta de lado nesta fase de reescalonamento dos interesses militares europeus.

É que a Turquia não só se apresenta como um país dos mais inovadores em diversos sub-setores da defesa – nomeadamente no que tem a ver com veículos não tripulados (e não apenas os que voam), como tem capacidade de fornecimento e é numa pequena parte um país europeu – o que é essencial em termos de cadeia de fornecimento.

Os analistas dizem que a pressão dos europeus para manter as capacidades militares da Ucrânia e concordar com garantias de segurança, ao mesmo tempo em que reforça a sua própria defesa sem o recurso tradicional a Washington, criou uma rara oportunidade para a Turquia aprofundar os laços com a Europa. Isto apesar das disputas persistentes sobre o Estado de direito, questões marítimas com a Grécia e Chipre, e a tentativa de adesão de Ancara à União Europeia, há muito paralisada sem que ninguém se tivesse lembrado de explicar aos turcos que o interesse europeu está suspenso.

“Os países europeus que até hoje achavam que tinham o luxo de excluir a Turquia, estão agora a ver que não podem excluí-la”, disse Sinan Ulgen, ex-diplomata turco e diretor do Centro de Estudos Econômicos e de Política Externa (EDAM), citado pela agência Reuters. Falando após conversas com o presidente turco Recep Erdogan em Ancara esta quarta-feira, o primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, disse que trouxe uma “proposta clara para a Turquia assumir a maior corresponsabilidade possível” pela paz na Ucrânia e pela estabilidade regional.

Além do posicionamento de Ancara face ao setor da defesa, o país tem provas dadas em termos diplomáticos: o presidente turco conseguiu equilibrar o relacionamento entre Zelenskiy e o presidente russo Vladimir Putin durante a guerra, tendo sido, nomeadamente, um dos ‘autores’ (juntamente com o secretário-geral da ONU António Guterres) do acordo do Mar Negor, que permitiu fazer regressar os cereais ucranianos aos mercados mundiais.

‘Last but not least’, a Turquia é um membro da NATO e tem o segundo maior exército da aliança. Ou seja, é um país onde a Europa pode abastecer-se sem criar um conflito de interesses: Washington com certeza não gostaria de ver os europeus a comprarem armas fora do perímetro da organização que lideram. Isto apesar de as relações entre Ancara e Washington serem ‘sazonalmente’ marcadas por desentendimentos e ’amuos’ de parte a parte.

A Turquia começou a produzir os seus próprios jatos, tanques e porta-aviões nos últimos anos, e vende drones armados globalmente, incluindo à Ucrânia. As suas exportações da indústria de defesa totalizaram 7,1 mil milhões de dólares em 2024.

Erdogan e o ministro das Relações Exteriores Hakan Fidan disseram recentemente que a Europa deve incluir a Turquia na reestruturação da sua arquitetura de segurança de uma forma “sustentável e dissuasiva”.

O único entrave a um entendimento mais amplo na defesa – para além da ‘vergonha’ europeia pela forma como tratou a entrada do país na União – é o facto de Erdogan manter uma relação amistosa com a Rússia: Ancara recusou impor sanções após a invasão da Ucrânia e ainda mantém fortes laços nas áreas da energia, turismo e comércio.

Mesmo assim, a Turquia apoiou militarmente a Ucrânia e expressou suporte à sua integridade territorial e soberania. Na semana passada, uma fonte do Ministério da Defesa turco disse que a Turquia poderia considerar contribuir para uma potencial missão de manutenção da paz na Ucrânia, se for declarado um cessar-fogo.

Recorde-se que o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Turquia, Metin Gurak, participou numa reunião de chefes do exército europeu em Paris esta semana e encontrou-se com militares da Grã-Bretanha e de França.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.