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“Ucrânia? Desde que o conflito não escale, não existe muito risco”, destaca analista da XTB

No dia que marca um ano da invasão da Rússia à Ucrânia, que impacto tem tido a guerra para os mercados? “Expectativas eram muito mais sombrias do que aquelas que se apontavam”, destaca Henrique Tomé. Este analista não espera uma má reação dos mercados mas é preciso que não haja um escalar do conflito.
24 Fevereiro 2023, 07h23

O atual cenário de elevada inflação foi agravado pelo conflito na Ucrânia mas se variáveis existentes se mantiverem, o impacto da invasão russa a território ucraniano não será pior do que aquele que se registou em 2022. A conclusão é de Henrique Tomé, analista da XTB, a propósito do impacto nos mercados de um ano do conflito provado pela invasão de tropas russas à Ucrânia.

“Apesar de tudo, podemos fazer um balanço relativamente positivo quanto às consequências da conflito da Ucrânia para os mercados”, começa por referir Henrique Tomé em entrevista ao JE. No entender deste analista, “as expectativas eram muito mais sombrias do que aquelas que se apontavam inicialmente e se analisarmos o risco de crise energética na Europa, esta acabou por não se materializar, motivado pelo facto de não ter consumido tanto como aconteceu nos últimos tempos. Acabou por haver uma boa conjugação de aspetos nesse sentido”.

E como a crise energética não se agravou da forma que se esperava, podemos concluir que não foi a guerra na Ucrânia a contribuir para atual conjuntura económica, explica este analista. No entanto, tal como recorda Henrique Tomé, “estamos com uma conjuntura económica um pouco mais fragilizada e os bancos centrais estão a tomar medidas para arrefecer a atividade económica e combater a inflação mas em termos do impacto da guerra na Europa, diria que a Rússia sai muito mais penalizada”.

E a Rússia?

Que consequências económicas pode ter o conflito e como se pode agravar a conjuntura económica do país caso o conflito se estenda. “A Rússia prejudicou imenso as relações comerciais não só com a Europa mas com outros países ocidentais e quando olhamos que grande parte das receitas da Rússia são provenientes dos produtos energéticos. O facto do petróleo e do gás natural estarem a níveis baixos, isso penaliza muito fora as importações de produtos russos que deixaram de acontecer e por isso, a venda dos produtos russos é feita a preços muito mais baixos”, detalha Henrique Tomé.

O analista realça que “é difícil avaliar o impacto da guerra na economia russa porque as fontes de informação não são bem claras e a Rússia está um pouco isolada, pelo menos das grandes economias, dá para aceitar que a guerra vá ter consequências económicas para a Rússia. Se olharmos para o rublo ou para o índice russo, não notamos essa tendência”.

E se a invasão exigir da Rússia um outro esforço de guerra? “É um pouco difícil perceber esse impacto na Rússia até porque o conflito pode escalar e exigir outro esforço de guerra muito maior do que o atual”, destaca Henrique Tomé.

Guerra na Ucrânia agravou inflação

Para os mercados, a previsão de impacto da guerra nos mercados será relativamente fácil de fazer, caso se mantenham as atuais variáveis. “Se se mantiverem as atuais variáveis, diria que o conflito na Ucrânia não vai ter mais impacto do que aquele que teve no ano passado. A guerra na Ucrânia agravou um cenário que já estava a acontecer que é a inflação mas se olharmos para os preços das matérias primas que subiram, neste momento os preços já estão em níveis pré-guerra”.

“Desde que o conflito não escale, não existe muito risco. Já percebemos que a inflação não foi transitória, agora temos que perceber se as medidas aplicadas até agora são ou não suficientes. Os EUA, que começaram a aumentar as taxas de juro antes da Europa, vemos que as coisas estão um pouco tremidas. Há menos de um mês esperava-se apenas mais um aumento das taxas de juro por parte da Fed, os últimos dados já mostraram que esta inflação não é assim tão fácil de se combater e por isso espera-se pelo menos mais dois aumentos das taxas de juro”, conclui o analista da XTB.

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