O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Rangel, afirmou hoje que Lisboa “não se revê” em algumas das propostas da China para pôr fim à guerra na Ucrânia, mas apontou que Pequim pode ter “papel positivo”.
“Nós não nos revemos em alguns dos princípios que estão nessa declaração, mas todos os contributos daqueles que podem exercer um papel positivo são bem-vindos”, disse à agência Lusa em Pequim, após reunir-se com o homólogo chinês Wang Yi.
O ministro português iniciou hoje uma deslocação de quatro dias ao país asiático, que põe termo a mais de cinco anos sem visitas de alto nível de Portugal a Pequim, numa altura de reconfiguração da ordem internacional.
A proposta chinesa, apresentada em conjunto com o Brasil, prevê uma trégua na batalha, que resultaria no congelamento da atual linha de frente, o aumento da ajuda humanitária e a criação de um “clube da paz”, para discutir a resolução do conflito entre as partes envolvidas.
No entanto, a iniciativa enfrentou resistência por parte da Ucrânia e dos aliados europeus, uma vez que não prevê a retirada das tropas russas do território ucraniano.
Paulo Rangel disse, porém, que é “importante compreender a visão do outro”.
“A diplomacia também é isto, não é impor aos outros a nossa visão, mas é explicar a visão que temos, e compreender a visão que os outros têm, e a partir daí sermos capazes de ter atuações úteis, conhecendo melhor a posição de cada um”, afirmou.
A China recusou condenar a Rússia pela invasão da Ucrânia e criticou a imposição de sanções contra Moscovo. O país asiático tem prestado importante apoio político, diplomático e económico à Rússia. O comércio bilateral registou, em 2023, um crescimento homólogo de 26,3%, para 240 mil milhões de dólares (223 mil milhões de euros).
O Presidente chinês, Xi Jinping, frisou por várias vezes que manter relações robustas com a Rússia é uma “escolha estratégica” de Pequim.
As reivindicações territoriais da China sobre Taiwan e o Mar do Sul da China suscitaram tensões entre Pequim e quase todos os países vizinhos, desde o Japão às Filipinas. A crescente assertividade da China no Indo-Pacífico levou já à formação de parcerias regionais lideradas pelos Estados Unidos, incluindo o grupo Quad ou o pacto de segurança AUKUS.
Manter boas relações com Moscovo é assim vista pela liderança chinesa como forma de assegurar estabilidade na fronteira terrestre com a Rússia, que tem mais de 4.300 quilómetros de extensão, e fornecimento estável de energia.
Paulo Rangel defendeu que a relação entre Lisboa e Pequim continua a ser “muito positiva” e “independente” do contexto geopolítico atual.
“A nossa relação com a China é bilateral. Não está dependente das circunstâncias geopolíticas de cada momento, ainda que possam ser relevantes, em termos de mudanças de orientação, que achemos que possam ter impacto de médio ou longo prazo, e não apenas de curto prazo”, descreveu.
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