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“Um Bárbaro no Jardim”

“Um Bárbaro no Jardim”, do polaco Zbigniew Herbert, não é um livro de viagens qualquer. É Literatura em estado puro. Eis a sugestão desta semana da livraria Palavra de Viajante.
  • Marta Teives
21 Setembro 2019, 11h05

Numa altura em que a noção de Europa tanto tem sido posta em causa, nada melhor do que este livro maravilhoso para nos recordar que há uma herança cultural que dá unidade ao conceito, transcendendo assim a mera realidade geográfica. Sem qualquer ironia, sublinhe-se que o autor era polaco e que nada nesta reflexão se relaciona com a nova pasta da Comissão Europeia tristemente denominada Proteção do Modo de Vida Europeu.

Considerado pela crítica uma das figuras mais marcantes da literatura europeia da segunda metade do século XX, o poeta Zbigniew Herbert estava praticamente inédito em Portugal; a honrosa exceção era a antologia poética “Escolhido pelas Estrelas”, editada pela Assírio & Alvim e infelizmente já esgotada. Mas eis que agora surge “Um Bárbaro no Jardim”, pelas mãos da Cavalo de Ferro e tradução do polaco de Teresa Fernandes Swiatkiewicz, resultante das suas viagens por França e Itália, entre 1958 e 1961.

 

 

Este não é um qualquer livro de viagens, pois Zbigniew Herbert não se limita a descrever o que vê, enriquecendo os seus ensaios com reflexões sobre história, arquitetura, pintura e biografias de pessoas ilustres. Para além do que escreveu, há ainda a forma como escreveu e Herbert pertence a esse grupo de poetas da Europa Central e de Leste que, quando se dedicam à prosa, assinam textos magníficos, belíssimos; pura literatura (como a sua conterrânea Wislawa Szymborska ou a búlgara Kapka Kassabova).

A diversidade e riqueza dos seus estudos universitários terão sem dúvida contribuído para a grande amplitude e profundidade dos seus conhecimentos. Tudo isto faz com que o autor nos leve numa viagem extraordinária, das grutas de Lascaux ao seu pintor preferido, Piero della Francesca, passando por Arles e Siena ou ainda pelos vestígios dos Albigenses, no sul de França.

Zbigniew Herbert nasceu em Lviv (então na Polónia, hoje na Ucrânia), em 1924, cidade onde iniciou a sua educação, que continuou de forma clandestina sob a ocupação alemã, tendo concluído o curso de Literatura Polaca. Em 1944, depois de ter pertencido à Resistência, mudou-se para Cracóvia onde, três anos depois, se licenciou em Economia. Mais tarde, ainda juntaria às suas habilitações académicas o Direito e a Filosofia.

Viajou pela Europa ocidental, lendo os seus poemas e ensinando em universidades, tendo vivido em Paris, Berlim e nos Estados Unidos. Enquanto poeta, começou a publicar tarde pois recusava-se a escrever de acordo com os preceitos do Realismo Socialista. Chegou a ser coeditor do jornal “Poezja” em meados da década de 1960, mas demitiu-se em protesto contra as políticas antissemitas do governo polaco.

Ficamos a aguardar a edição dos restantes dois livros de viagem, “Labirinto Junto ao Mar”, consagrado à Antiguidade grega e latina, começando no Palácio de Cnossos, em Creta, e acabando na Sicília, e “Natureza Morta com Rédea”, onde Herbert percorre a paisagem flamenga na senda dos pintores holandeses do século XVII.

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