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Uma caixa de preservativos custa 153 euros na Venezuela. Saúde pública está em causa

A crise económica e política que se sente no país de Maduro levou a uma escassez geral de produtos e, em circunstâncias favoráveis, alguns destes bens nunca se considerariam preciosos, como medicamentos, géneros alimentares e contracepção.
17 Setembro 2019, 18h01

A prática de sexo seguro é uma máxima pregada em todos os consultórios médicos e em todas as sociedades. A proteção contra doenças sexualmente transmissíveis e contra gravidezes indesejadas é simples: preservativo.

No entanto, o acesso a preservativos não é garantido em todos os países. Em Portugal, uma caixa de 24 custa uma média de 15 euros, o que significa pouco mais de 0,60 euros por cada pequena embalagem. Na Venezuela, o preço deste objeto é de 1.687,88 bolívares venezuelanos (152,9 euros), avança a Unilad.

Este é um valor elevado em comparação com os restantes países desenvolvidos. O facto de a Venezuela atravessar uma crise, que perdura desde o fim do governo de Hugo Chávez, apresenta uma relação direta com o constante aumento de preços.

Apesar de Nicolás Maduro ter aumentado o salário mínimo para 40 mil bolívares, o equivalente a 6,96 euros devido à inflação que se sente na Venezuela, os preços dos produtos permanecem elevados. Os elevados preços de um produto como o preservativo significa que os venezuelanos são obrigados a escolher entre abstinência sexual, gravidez ou sujeitar-se a doenças sexualmente transmissíveis.

Segundo as estatísticas da Biblioteca Global de Medicina da Mulher, cerca de 600 mil mulheres morrem todos os anos devidos a causa relacionadas com a gravidez, enquanto cerca de 75 mil morrem devido a abortos mal realizados. Sabe-se que perto de 200 mil das mortes maternas podem ser atribuídas a falhas nos serviços contraceptivos.

Na Venezuela, os cidadãos estão a ser vítimas de uma realidade desanimadora, que é a vida sem contracepção acessível. Esta é uma questão que pode contribuir o colapso do sistema de saúde venezuelano. Ainda que os serviços de saúde relacionados com o sexo não sejam classificados como ‘luxo’, esta é a palavra de ordem que se aplica no caso da Venezuela, em que poucos podem pagar o acesso a preservativos.

A crise económica e política que se sente no país de Maduro levou a uma escassez geral de produtos e, em circunstâncias favoráveis, alguns destes bens nunca se considerariam preciosos, como medicamentos, géneros alimentares e contracepção. As pílulas, DIU e preservativos estavam disponíveis de forma gratuita em hospitais públicos ou através de programas governamentais, à semelhança de Portugal, mas essa iniciativa foi suspensa devido a cortes orçamentais do governo.

Sem produtos disponíveis nas prateleiras, assistiu-se a uma quebra de disponibilidade de 90% entre 2015 e 2018, e os preços dispararam. Em 2016, três embalagens de preservativos no mercado negro custavam 1.687,88 bolívares venezuelanos (153 euros).

Em termos de utilização do salário mínimo, uma embalagem mensal da pílula pode custa até um quarto do salário, enquanto um único preservativo pode superar metade do mesmo salário mínimo, quando adquiridas corretamente.

Sendo que o aborto na Venezuela é ilegal, muitas mulheres optam pela laqueação de trompas ou remoção do útero, de forma a não existir risco de engravidarem. Outras mulheres optam por terminar a gravidez recorrendo a métodos impróprios.

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