Não é habitual esta coluna abordar temas que se prendem com empresas concretas. No entanto, e quando tanto se debate a longevidade das empresas familiares e a sucessão accionista e de gestão, julgamos que os bons exemplos devem ser referidos. Assinala-se, por isso, o exemplo de uma empresa que em 2018 faz cem anos de actividade ininterrupta e vai já a caminho da quinta geração – o “Peter Café Sport”, localizada na cidade da Horta, Ilha do Faial, Açores.

De facto, esta empresa tem origem na actividade empresarial desenvolvida desde finais do século XIX por Ernesto Azevedo (1859-1931), sendo que o seu filho, Henrique Azevedo (1895-1975), em 1918, instala na mesma zona o “Café Sport”, consagrando assim, no nome do Café, a sua paixão pelo desporto. Foi Henrique Azevedo quem fixou as características essenciais do “Peter”: a escolha do mobiliário (ainda hoje é utilizado mobiliário do mesmo tipo), a águia como símbolo, e o “gin tónico” como bebida muito apreciada.

A este sucedeu seu filho, José Azevedo, que foi quem verdadeiramente esteve na origem do nome “Peter”. A história é curiosa e transcreve-se de seguida. “No início da Guerra, veio para a Horta o navio H.M.S. Lusitania da Royal Navy, que havia perdido a popa devido ao lançamento de uma bomba de profundidade. O navio estacionou no porto durante todo o conflito mundial. Foi no Lusitânia II que nasceu o nome do «Peter». Lá trabalhava um graduado que se tornou amigo de José Azevedo. Achando-o parecido com um filho que tinha, ausente, o inglês passou a chamá-lo pelo nome dele, «Peter», argumentando que assim pensaria ter o filho a seu lado. Dos ingleses para os portugueses, o nome de «Peter» passou tão rápida como indelevelmente de tal forma que suplantou o nome de baptismo de José Azevedo”(1).

Na década de 70 do século XX, a história repete-se e o filho de José Azevedo, José Henrique Azevedo, passa a trabalhar na empresa e a assumir progressivamente a sua direcção. O Peter Café Sport manteve-se, mas foram criadas outras actividades que respondem aos novos tempos. Quer prestando serviços de natureza turística, quer diversificando a actividade, quer, ainda, passando a ter estabelecimentos fora da ilha do Faial.

E é assim que, em 2018, vamos assistir aos cem anos desta empresa, certamente já com o actual proprietário acompanhado pela geração seguinte, que não deixará de se associar a este marco tão significativo da Família e da Empresa. Ali certamente continuará a ser ponto de acolhimento, de repouso e de convívio para os navegadores que demandam a cidade da Horta e para todos os que visitam a Ilha do Faial. Certamente confirmando que “Se velejares/viajares até à Horta e não visitares o «Peter», não viste a Horta na realidade”.

Não sei se o José Henrique Azevedo, contrariamente ao que acontece com o segredo do gin, revela o segredo da longevidade da empresa. Sei que para quem se interessar pelo tema não há como ir ao Faial e falar com ele. É fácil! Basta ir ao Peter Café Sport que ele estará lá a tomar conta da empresa.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

 

(1) O texto reproduz algumas partes do que consta do site da empresa.