Depois de uma negociação difícil e prolongada, mais do que habitualmente já o é – e que diversas vezes estiveram à beira do colapso – parecem finalmente ter ficado definidos os nomes das figuras responsáveis pelos mais altos cargos europeus. Sendo a surpresa uma derrota para os socialistas, que esperavam ficar com a presidência da Comissão Europeia e viram seu candidato Frans Timmermans quedar-se apenas como vice, depois de Ursula von der Leyen, do PPE.

Bem mais conhecida dos portugueses, Christine Lagarde ocupará o lugar deixado vago por Mario Draghi no Banco Central Europeu (BCE). O primeiro-ministro liberal belga, Charles Michel, irá liderar o Conselho Europeu e presidência do Parlamento Europeu (PE) terá o mandato dividido entre o italiano David-Maria Sassoli e Manfred Weber, o spitzenkandidat do PPE. Aos socialistas resta a colocação de Josep Borrel, o espanhol que já foi presidente do Parlamento Europeu, como Alto Representante para as relações externas da União Europeia.

O designado eixo Paris-Berlim conseguiu assim a dupla decisão inédita que levou à colocação, pela primeira vez, de uma mulher à frente da Comissão Europeia e outra no BCE. Pese embora, na altura em que escrevo, o facto de a nomeação da antiga delfim de Merkel, von der Leyen, estar a sofrer contestação e ainda não ter sido ratificada pelos deputados do PE.

Entretanto, a comunicação social tem exprimido várias opiniões com um sentido comum, o de que Portugal terá, através de António Costa, uma palavra forte a dizer quanto à pasta com que Portugal irá ficar na Comissão Europeia, sendo esse o próximo passo na complexa ronda das negociações.

Na minha opinião, duas pastas seriam muito interessantes para Portugal neste ciclo que agora se inicia nas instâncias europeias: a do Ambiente, Assuntos Marítimos e Pescas, até agora ocupada pelo maltês Karmenu Vella, e a do Emprego, Crescimento, Investimento e Competitividade, caso em que substituiria o finlandês Jyrki Katainen. Em qualquer uma destas pastas Portugal teria a ganhar com um Comissário que exercesse o seu cargo de forma criativa e competente, tal como o fez Carlos Moedas que agora deixa o pelouro da Investigação, Pesquisa e Inovação.

Regressando às escolhas para os altos cargos, as expectativas recaem sobre que mudanças na política financeira do BCE poderão ser esperadas, ocupando Lagarde o lugar que era de Draghi. Para já, a sua experiência à frente do Fundo Monetário Internacional poderá ser determinante caso o BCE seja forçado a intervir, num cenário em que a conturbada economia italiana venha a necessitar de apoio. Esperemos que tal não aconteça mas, a suceder, a figura que já se definiu no passado como “advogada, ministra, gerente e mulher“ parece ter todas as condições para dar conta do problema.

 

Impressionante ficarmos a saber que um medicamento pode custar dois milhões de euros. Impressionante também a cadeia de solidariedade dos portugueses para com a bebé Matilde e seus pais, reunindo esse valor em contributos. Esteve mal o Estado português que só muito tarde admitiu poder custear o tratamento depois do valor necessário já ter sido reunido pelos cidadãos. Espera-se da farmacêutica internacional também a colaboração que estes casos exigem.