[weglot_switcher]

Uma forma alternativa de fazer o dinheiro render mais

Aqui vai um conselho de algibeira. Não tem o requinte e a sofisticação do que lê em 90% dos manuais de finanças pessoais, mas é provável que seja mais eficaz. Quer rentabilizar os seus investimentos e obter um retorno acima da média do mercado? É simples: torne-se rico.
27 Julho 2017, 14h25

Dito assim, o conselho pode parecer trivial ou até tautológico. Por isso convém ser um pouco mais específico e explicar melhor a ideia encapsulada nesta recomendação – e, pelo meio, tentar mostrar por que é que a ideia é importante.

Uma equipa de economistas deu-se ao trabalho de olhar para a rentabilidade dos investimentos da população sueca. Não foi a primeira nem será a última, mas neste caso há uma coisa que a distingue das outras: o facto de a análise incidir sobre a rentabilidade dos activos em cada decil de riqueza da população. Dito de outra forma, os economistas dividiram a amostra por escalões de riqueza (os mais ricos de um lado, os remediados do outro, e toda uma série de escalões intermédios algures no meio destes dois extremos) e perguntaram: haverá diferenças no retorno que cada escalão consegue obter na forma como investe o seu dinheiro?

E a resposta é: sim, há. Como se lê no estudo, “o retorno esperado do património aumenta monotonicamente com a dimensão da riqueza do agregado familiar”. O grupo dos 0.5-1% mais ricos da sociedade sueca consegue um retorno cerca de 4,1% mais alto do que o retorno mediano, e o lote dos 0,01% mais ricos têm uma vantagem de 6,2% ao ano. As diferenças são absolutamente impressionantes.

Isto é tão importante quanto estranho. Afinal de contas, uma ideia central em economia financeira é o que todos os investimentos devem ter retornos semelhantes. Isto não quer dizer que todas as taxas de juro tenham de ser iguais, que todas as acções valorizem da mesma forma ou que haja apenas uma yield para as milhares de obrigações que circulam por esse mundo fora. Significa apenas que, em princípio, os diferenciais de rentabilidade entre os vários activos devem reflectir riscos diferentes. O património com que cada pessoa parte para o mercado não devia ser um factor relevante para determinar o seu retorno.

Imagine-se, por exemplo, que uma obrigação do Estado português  paga uma taxa de juro de 3%, e que uma obrigação alemã paga uma taxa de 1%. Se os dois activos têm o mesmo risco, não faz sentido um investidor contentar-se com a taxa ‘baixa’ alemã, quando pode colher um fruto mais suculento comprando a dívida portuguesa. Ora, se todos os investidores fizerem o mesmo raciocínio e venderem a dívida alemã para comprar dívida portuguesa, as taxas de juro destes dois activos tenderão a evoluir sem sentidos divergentes. Até onde? Bom, até ao ponto em que as taxas de juro atingem valores rigorosamente iguais. Qualquer diferença, por pequena que seja, constitui um ‘almoço grátis’ que será explorado por investidores atentos ao detalhe e desejosos de lucros fáceis.

Este processo de arbitragem pode acontecer com qualquer activo. Se fizermos o raciocínio de trás para a frente, partindo do princípio de que a acção dos investidores tende a nivelar todas as rentabilidades, somos forçados a concluir que o facto de as rentabilidades observadas não serem todas iguais reflecte percepções de risco diferentes.

O mundo, claro, é mais complicado do que isto. Mas a ideia de arbitragem, e de equalização de retornos, é uma noção poderosa que nos ajuda a perceber alguns dos factos centrais (e evitar alguns dos erros mais comuns) na análise de mercados financeiros. Por exemplo, já reparou como há tantos investidores profissionais que não conseguem sequer bater o mercado nas suas estratégias de investimento (e por vezes ficam até atrás de gatos caseiros)? Apesar de este facto parecer bizarro a quem vê as coisas de fora, ele não surpreende os que sabem que os ‘lucros fáceis’ tendem a ser rapidamente eliminados pelo mercado. Um corolário prático desta ideia: se alguém lhe propõe um retorno muito alto, desconfie sempre: de risco excessivo, de crime (insider-trading) ou de burla.

Por que razão conseguem os suecos abastados ‘bater o mercado’ dos suecos remediados? O estudo aponta uma explicação: tem (quase) tudo que ver com maior risco. Quem está no topo da distribuição de riqueza tem mais apetite por acções e outros activos mais voláteis, que garantem um retorno à custa de um risco adicional. A imagem de baixo mostra o retorno de escalão, associado ao “risco implícito” (assinalado a vermelho).

Portanto, convém ter algum cuidado quando se interpreta os diferenciais de rentabilidade. Os frutos colhidos pelos mais ricos podem parecer suculentos à primeira vista, mas é bem possível que alguns tenham produtos tóxicos à mistura.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.