O Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância (Unicef) disse hoje estar profundamente alarmado com a intensificação da violência no leste da República Democrática do Congo (RDCongo) e com o seu impacto nas crianças.
“Estou profundamente alarmada com a intensificação da violência no leste da RDCongo e com o seu impacto nas crianças e nas famílias”, disse a diretora executiva da Unicef, Catherine Russell, citada no comunicado.
Segundo Russell, nas províncias de Kivu do Norte e Kivu do Sul, a Unicef está a receber “relatos horríveis de graves violações contra crianças pelas partes em conflito, incluindo violações e outras formas de violência sexual”, a níveis que ultrapassam tudo o que foi visto “nos últimos anos”.
“Durante a semana de 27 de janeiro a 02 de fevereiro, os parceiros da Unicef relataram que o número de casos de violação tratados em 42 instalações de saúde quintuplicou”, sendo que, das pessoas tratadas, 30% eram crianças, lamentou a diretora executiva.
Todavia, Russell sublinhou que os números reais podem ser bem mais elevados, “porque muitos sobreviventes têm medo” de pedir ajuda.
“Os nossos parceiros estão a ficar sem os medicamentos utilizados para reduzir o risco de infeção pelo VIH [Vírus da Imunodeficiência Humana] após uma agressão sexual”, alertou.
Uma das histórias partilhadas pela Unicef no comunicado é a de uma mãe que relata que as suas seis filhas – nomeadamente a mais nova, de apenas 12 anos – foram sistematicamente “violadas por homens armados, enquanto procuravam comida”.
“As crianças e as famílias em grande parte do leste da RDCongo continuam a enfrentar bombardeamentos e tiroteios incessantes. Nos últimos meses, milhares de crianças vulneráveis em campos de deslocação foram obrigadas a fugir várias vezes para escapar aos combates”, lamentou a responsável da Unicef.
Outra questão a lamentar, e que já acontecia antes da intensificação dos confrontos, é o aumento do recrutamento de crianças pelos grupos armados, disse.
“Agora, como as partes em conflito apelam à mobilização de jovens combatentes é provável que as taxas de recrutamento aumentem. Os relatórios indicam que crianças de apenas 12 anos estão a ser recrutadas ou coagidas a juntar-se a grupos armados”, frisou.
Na sua opinião, “as partes em conflito devem cessar imediatamente e prevenir as graves violações dos direitos das crianças”, assim como “devem também tomar medidas concretas para proteger os civis e as infraestruturas essenciais”.
O grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23), apoiado pelo Ruanda, ocupou Goma, capital da província do Kivu do Norte, no final de janeiro, e avançou para a província vizinha do Kivu do Sul.
De momento, a comunidade internacional limita-se a apelar ao desanuviamento e a um cessar-fogo, com alguns países e a ONU a solicitarem também a retirada das tropas ruandesas do leste da RDCongo.
No passado, já foram impostas várias sanções contra os líderes do M23 e dois oficiais ruandeses envolvidos na RDCongo (congelamento de bens e proibição de viajar), mas sem nunca visar altos funcionários ruandeses.
Desde 1998, o leste da RDCongo, país vizinho de Angola, está mergulhado num conflito alimentado por milícias rebeldes e pelo exército, apesar da presença da Missão de Estabilização das Nações Unidas na República Democrática do Congo (Monusco).
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