Se há pontos convergentes entre democratas e republicanos nos Estados Unidos, eles estão quase todos do lado da economia: ambos os partidos temem a ameaça económica da China – e os dois defendem que deve haver um combate ativo a essa ameaça – e ambos estão pouco interessados em ver mais empresas ‘caseiras’ a irem parar às mãos de interesses estrangeiros, principalmente ‘joias da coroa’, como é o caso.
A United States Steel (US Steel) alertou esta quarta-feira que, caso sua venda aos japoneses da Nippon Steel seja bloqueada, fechará fábricas e provavelmente mudará a sua sede para Pittsburgh, Pensilvânia. A informação veiculada pela imprensa norte-americana tem como fonte oo próprio David Burrit, CEO do grupo, num dia em que se soube que a Casa Branca pretende bloquear o negócio, após concluir que a operação, avaliada em 14.900 milhões de dólares, representa um risco para a segurança nacional.
Nesse contexto, a US Steel indicou quais seriam as consequências que o veto teria sobre a força de trabalho. O grupo afirmou que essa proibição colocaria em risco “milhares de bons empregos sindicalizados” – uma referência direta a Kamala Harris, em cuja agenda política está o aumento da sindicalização – impactando negativamente as inúmeras comunidades nas cidades em que estão localizados. Além disso, o grupo lembrou que, recentemente, trabalhadores da US Steel se manifestaram na sede localizada em Pittsburgh para apoiar a compra da Nippon Steel.
O anúncio do encerramento de fábricas e abandono de Pittsburgh, feito por Burrit em conversas com o “The Wall Street Journal”, fez com que a US Steel caísse mais de 21% na bolsa de valores. Burrit afirmou a sua disposição de investir cerca de três mil milhões de milhões de dólares para retirar das fábricas tecnologia obsoleta, o que seria fundamental para manter a competitividade e os empregos. “Não faríamos isso se o acordo fracassar”, disse Burritt em jeito de ultimato. “Eu não tenho dinheiro”, reconheceu.
Burritt fez estas declarações dias depois de a vice-presidente dos Estados Unidos e candidata democrata à presidência nas eleições de novembro, Kamala Harris, se posicionou contra o negócio, afirmando que a US Steel “deve permanecer em mãos americanas”. O ex-presidente Donald Trump, seu rival republicano, chegou ao ponto de pedir que a operação fosse diretamente bloqueada.
A defesa dos interesses industriais autóctones está no horizonte dos dois candidatos, que assim parecem esquecer-se do muito longo historial de expansão do capital norte-americano para fora das suas fronteiras e a recusa em aceitar que qualquer país terceiro colocasse entraves a essa expansão. Os alarmes soaram quando, algures no início do milénio, os Estados Unidos passaram a ver o crescimento da China como uma ameaça à liderança da sua economia. Passada que está em fase – os norte-americanos sabem que serão ultrapassados, só não sabem quando – tentam agora defender os últimos exemplos da outrora poderosa indústria interna.
Paralelamente, o protecionismo está na ordem do dia – e se essa opção é clara e determinante na agenda de Donald Trump, estará por certo igualmente presenta nas intenções de Kamala Harris.
A US Steel não é apenas mais uma empresa na bolsa de valores dos EUA, refere a imprensa norte-americana. Durante décadas, a metalúrgica foi líder indiscutível de uma das indústrias mais importantes para a economia do país e a joia da coroa americana. Foi a maior empresa dos Estados Unidos e será para sempre lembrada como a primeira empresa da história a ultrapassar mil milhões de capitalização, um marco alcançado nos primeiros anos do século XX – recorda a agência Reuters. A sua dimensão e importância estratégica como motor industrial passou a fronteira da própria indústria para o imaginário coletivo dos norte-americanos. A Reuters recorda uma cena célebre do filme ‘O Padrinho II’ em que alguém diz ao patrão da mafia, Michael Corlene: “Michael, já somos maiores que a US Steel”.
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