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Venda de crédito malparado em Portugal deve atingir um novo recorde este ano

Um estudo da Prime Yield prevê que a venda de malparado atinja um total de oito mil milhões de euros este ano.
  • Money Conference
28 Novembro 2019, 12h16

“O ano de 2019 deverá voltar a ser marcado pelo dinamismo na transação de carteiras de crédito malparado (Non-Performing Loans,NPL) na Ibéria””, quem o diz é a Prime Yield, parte da Gloval, no seu mais recente relatório referente a este mercado, “Investing in NPL in Iberia 2019”.

O grupo espanhol líder nas áreas de avaliação, engenharia e consultoria, antecipa que a transação desses portfólios de malparado possa ascender a 28.000 milhões de euros este ano, “simultaneamente beneficiando do crescente interesse dos investidores por este tipo de ativos e pelos mercados sul-europeus. Mas também, e especialmente, porque a Ibéria se afirma como um mercado que proporciona oportunidades para perfis e tickets de investimento variados”, diz a empresa que defende que Portugal e Espanha se encontram em fases distintas de maturidade deste mercado, com níveis de retorno e competitividade diferentes.

O estudo da Prime Yield prevê que Portugal registe um novo ano recorde na transação deste tipo de carteiras, atingindo um volume de 8.000 milhões de euros, à medida que a procura e oferta estão cada vez mais alinhados.

“Excedendo as melhores expetativas e seguindo dois anos em que volume médio de venda de malparado se situou em torno dos 2.000 milhões e os 3.000 milhões de euros, o mercado de NPL acelerou de forma acentuada em 2018 e atingiu um pico de 7.500 milhões a 8.000 milhões de euros em transações, um número inédito no país, com todos os grandes bancos a transacionarem portfólios [de crédito malparado]”, conclui o estudo.

A Prime Yield antevê que a transação das grandes carteiras deverá continuar a marcar a atividade este ano, “com uma dinâmica especial nos ativos garantidos por imóveis, cada vez mais atrativos dado o crescimento dos preços no setor imobiliário”, defende a empresa.

O stock de malparado no sistema financeiro português atingiu os 21.300 milhões de euros no 2º trimestre de 2019, menos 8.500 milhões do que um ano antes  que era de 29.800 milhões de euros, conforme os dados da Autoridade Bancária Europeia (EBA).

O stock nacional é agora equivalente a 3,3% do montante de NPL contabilizado no sistema financeiro europeu, que soma 635.800 milhões de euros.

A par desta redução expressiva no stock de malparado, o peso do crédito em incumprimento sobre o montante total de empréstimos (rácio de NPL) também tem vindo a decrescer de forma consistente, recuando agora para 8,9%. Isto é, 3,5 pontos percentuais abaixo do rácio de NPL de 12,4% registado um ano antes.

Mas, ainda assim, ressalva a Prime Yield, Portugal mantém o terceiro rácio de malparado mais elevado da Europa, apenas superado, ainda que bem de longe, pelo Chipre e Grécia, com rácios de, respetivamente, 21,5% e 39,2% no 2º trimestre de 2019.

“O mercado português está muito ativo. Os bancos continuam muito abertos a vender os seus portfólios de malparado, pressionados pelas metas europeias e encetando estratégias muito ambiciosas de desalavancagem. Do lado da procura, Portugal emergiu como um alvo atrativo para os investidores globais especialmente nos últimos dois anos, beneficiando de bons indicadores económicos e do facto de ser um mercado ainda imaturo com muito boas oportunidades face a outros concorrentes em fases mais avançadas de desenvolvimento, como Espanha”, diz Nelson Rêgo, Diretor Geral da Prime Yield.

O também responsável pelo Desenvolvimento do Negócio para Fundos de Investimento da Gloval, defende que “para investidores focados nos mercados de NPL e REO  [Real Estate Owned], a Ibéria é agora, mais que nunca, o local para apostar, especialmente se for um mercado abordado com uma visão integrada. Por um lado, Espanha é um mercado mais maduro, onde as transações deste tipo de carteiras deverão estabilizar. Atualmente gera yields mais moderadas e a concorrência pelos melhores ativos também é mais forte. Tendo em conta esta fase de desenvolvimento, a maioria das operações em Espanha deverá realizar-se no mercado secundário, com uma dinâmica elevada nas operações de securitização”.

O mesmo responsável diz que “Portugal emergiu no mapa europeu mais lentamente, mas ganhou um forte impulso nos últimos dois anos. Está numa fase em que ainda há muito para fazer no mercado principal e em que os Bancos estão mais abertos a colocar este tipo de portfólios em venda”.

Numa perspetiva Ibérica, os dois países podem beneficiar, entre si, do facto de se encontrarem em diferentes fases. “Se é verdade que cada vez mais investidores especializados vão começar a mudar o seu foco de Espanha para Portugal, procurando retornos mais elevados e portfólios menos polidos, também Espanha deverá receber novos investidores, com maior apetência pelo risco”, diz Nelson Rêgo.

O caso do mercado espanhol

Em Espanha, “a venda de NPL parece já ter atingido o seu pico, após o forte percurso dos últimos anos e o volume histórico de 60.000 milhões de euros vendidos em 2018”, diz o estudo. A Prime Yield antecipa que o volume de vendas estabilize este ano próximo dos 20.000 milhões, refletindo um decréscimo no volume total de transações relacionados com malparado com garantias, mas com prevendo que o mercado secundário ganhe escala, à medida que os investidores parecem mais propensos a setores de maior risco, impulsionados pela procura de melhores retornos.

O alto stock de malparado não é apenas uma vicissitude de Portugal, apesar dos progressos dos últimos anos, o stock de NPL em Espanha ainda é o terceiro mais elevado da Europa. A Prime Yield contabiliza 84.400 de euros milhões de malparado no sistema financeiro espanhol, o equivalente a 13,3% da carteira europeia no 2º trimestre de 2019. No entanto, há apenas um ano, tal volume ascendia a 98.900 milhões, o que quer dizer que no espaço de um ano, o montante de malparado na banca espanhola encolheu 14.500 milhões de euros.

Já o rácio de NPL da banca espanhola também tem decrescido, situando-se em 3,5% (4,2% no 2º trimestre de 2018), apenas 0,5% acima da média europeia, de 3,0%. “É importante notar que não há escassez de oferta de NPL para investimento em Espanha. Mas depois de quase 18 meses de vendas de carteiras de grande dimensão (jumbo sales) e agora que os Bancos entram na fase final de limpeza dos seus balanços, 2019 deverá ser o ano de descolagem do mercado secundário no país. Isso significa que há ainda muito por explorar neste mercado, mas envolvendo ativos que são menos atrativos para o tipo de investidores predominantes até agora e abrindo portas para novos perfis de investidores”, explica Nelson Rêgo.

Na Europa em geral, a qualidade dos ativos do sistema financeiro melhorou bastante nos últimos semestres, como confirma o rácio de NPL de 3,0% no 2º trimestre de 2019, graças a uma redução cada vez mais generalizada do crédito malparado, defende  Prime Yield.

Ainda assim, 66,5% do stock europeu continua concentrado em apenas 4 países: a Itália, que lidera com um stock de 137.200 milhões de euros; seguida da França, com 123.700 milhões de euros de NPL na Banca; Espanha, com 84.400 milhões; e, finalmente, Grécia, com 79.200 milhões contabilizados no 2º trimestre de 2019, conclui o comunicado sobre o research da Prime Yield.

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