[weglot_switcher]

Venda de dívida pública compensará queda de margem dos bancos no semestre. Novo Banco será exceção

A venda de dívida soberana será o grande tema dos resultados de junho dos bancos. A descida de taxas de juro terá impulsionado a venda de títulos com mais-valias e assim gerado resultados de ‘trading’ altos, que ajudaram a fazer resultados líquidos. Mas em compensação penalizam a margem financeira.
  • Cristina Bernardo
29 Julho 2019, 07h49

O BPI, o BCP, a CGD, o Santander Totta e Novo Banco apresentam resultados do semestre esta semana. O que podemos esperar dos números? A descida de taxas de juro da dívida soberana será o grande tema dos resultados de junho dos bancos.

A descida dos juros impulsiona a venda da dívida com mais-valias para gerar resultados de trading altos, que ajudam a fazer resultados líquidos. Mas em compensação a margem financeira desce, porque os bancos deixam de ter onde aplicar o dinheiro e assim comprometem as receitas futuras da margem financeira. É sempre o trade-off da banca: resultados hoje ou resultados amanhã.

Quem é a exceção a esta regra? O Novo Banco. A gestão de António Ramalho é avaliada por Bruxelas pela sustentabilidade dos resultados e não pelo valor desses resultados. Isto é, pelos resultados resultantes da margem financeira e comissões e não pelos resultados que vêm de operações de mercados.

O Novo Banco não tem incentivo a vender títulos de dívida para aumentar o produto bancário por via dos resultados de trading, ao contrário dos seus pares, por causa do seu plano estratégico. Pelo contrário, tem mesmo o incentivo oposto que é o de gerar margem financeira para demonstrar que na atividade core o banco recorrente é viável. Por isso é altamente provável que o Novo Banco não tenha vendido dívida no semestre e como tal espera-se maus resultados de trading, mas um crescimento da margem financeira.

Que outros temas serão revelados pelos bancos? Uma descida do crédito malparado, impulsionada não só pela melhoria económica que reduz o novo malparado, mas também uma redução no stock de NPL, devido à venda de carteiras.

As contas de junho terão ainda um efeito sazonal: na sua rubrica de custos está a contribuição para o Fundo de Resolução (tanto o português como o europeu).

 

BPI inicia a temporada

O BPI inicia a temporada da apresentação dos números de junho. Sabe-se já que a filial portuguesa do CaixaBank contribuiu com 147 milhões de euros para o resultado consolidado do banco espanhol: 98 milhões do negócio financeiro em Portugal e o restante através das participações do BPI em Angola (BFA) e Moçambique (BCI). O BFA contribui com dividendos de 46 milhões de euros.

Como se sabe o grupo CaixaBank obteve lucros de 622 milhões de euros no primeiro semestre de 2019, uma diminuição de 52,1% em relação ao mesmo período de 2018, devido ao acordo laboral com os sindicatos.

“Queria sublinhar que o BPI está a ir pelo caminho correto e continua a contribuir para o nosso crescimento e para os nossos resultados”, disse o presidente executivo do CaixaBank, Gonzalo Gortázar, aos jornalistas na conferência de imprensa dos resultados do grupo bancário, em Valência, Espanha, segundo a Lusa.

“Em Portugal, o ajuste significativo já foi feito em 2017, quando comprámos a maioria do capital do BPI”, explicou ainda Gonzalo Gortázar, afastando a possibilidade de serem feitas alterações importantes no quadro de colaboradores da filial portuguesa, refere a Lusa.

O CEO do CaixaBank afastou também o interesse numa futura compra do Novo Banco (para 2020 ou depois) dizendo que “gostamos do crescimento orgânico” e “não temos previstas aquisições em Portugal”. A quota de mercado do BPI era de “10-12%” quando foi adquirido.

 

BCP com venda de dívida, descida de malparado e questões laborais no menu

O BCP apresenta os seus números depois do mercado fechar. O banco liderado por Miguel Maya tem pela frente um braço de ferro com os sindicatos. O banco recusou a proposta de  três sindicatos – o Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB), o Sindicato dos Bancários do Norte (SBN) e o Sindicato Independente da Banca (SIB). Isto é, um aumento de 2,25%, igual ao verificado no setor bancário no mesmo período em que não se verificaram aumentos salariais no BCP, desde 2010, para igualarem os trabalhadores aos restantes da banca.

Com as  propostas sindicais de revisão do Acordo Coletivo de Trabalho recusadas pelo Millennium BCP, a negociação do ACT prossegue agora com a mediação da Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT).

Também outro sindicato, o Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas (SBSI) exige aumentos das pensões para os reformados do BCP, que dizem estar estagnadas desde 2010.

O tema laboral, com ameaça de greve, é sem dúvida um desafio para os bancos, mas sobretudo para o BCP que depois de ter aprovado a proposta de compensação aos trabalhadores pelos anos de cortes salariais, de 12,6 milhões de euros, recebe agora este confronto sindical para aumentos salariais e de pensões.

A compensação aos trabalhadores de 12,6 milhões é um dos argumentos apontado pelos analistas para a queda dos lucros no segundo trimestre.

BCP com trimestre penalizado com compensação aos trabalhadores por cortes salariais

O CaixaBank BPI fez uma análise aos resultados do BCP que serão apresentados esta segunda-feira. O banco terá subido os lucros no semestre mas à custa dos resultados obtidos no primeiro trimestre. Porque no segundo trimestre o BCP sofre vários impactos que fazem cair o resultado, nomeadamente a compensação aos trabalhadores por cortes salariais.

O BPI estima assim que os resultados do segundo trimestre do banco liderado por Miguel Maya tenham sido muito inferiores ao trimestre anterior, altura em que dispararam 80% para 154 milhões. Se os números do BPI se confirmarem o BCP no segundo trimestre, face a março, sofre uma quebra nos lucros de 90%.

Os custos de reestruturação e um encargo de 12 milhões de euros relacionado com a distribuição de lucros aos empregados que aceitaram cortes nos salários durante o programa de reestruturação (troika) penalizaram os lucros do segundo trimestre do BCP.

Os analistas do BPI esperam que no conjunto dos primeiros seis meses o BCP tenha subido os lucros 12% para 169 milhões de euros (no ano passado os resultados no semestre foram de 151 milhões de euros).  Salientam ainda que os resultados semestrais sobem devido ao crescimento da margem financeira (+8% para 746 milhões de euros), e ao aumento das receitas conseguidas através de comissões (+1%) apesar da queda dos dividendos recebidos de 18%. O produto bancário terá subido 6% no semestre.

No entanto é preciso esperar para ver a evolução da margem financeira que está dependente da dimensão da dívida pública vendida. Os resultados operacionais (produto bancário – custos operativos) do BCP, terão crescido 2% para um total de 566 milhões de euros e os resultados antes de impostos, segundo o BPI, sobem 19% para 327 milhões.

Ao nível do semestre, o BPI estima ainda para o BCP uma redução do stock de NPE – Non Performing Exposure (crédito malparado e garantias prestadas que são executadas por incumprimento de crédito) de 24% a nível consolidado e de 31% em Portugal.

Os ativos recebidos em dação em pagamento (foreclosed assets) do BCP terão caído em junho, numa base anual, 18% para 1.357 milhões, segundo esta estimativa. As imparidades para crédito caem, nesta análise, 10% para 199 milhões na primeira metade do ano e as outras provisões descem 32%.

As previsões do CaixaBank apontam ainda para um aumento de 12% dos custos com pessoal no BCP parcialmente compensada com uma queda de 7% dos custos administrativos.

No que toca ao segundo trimestre propriamente dito, o BPI refere que os lucros do BCP terão caído para 15 milhões de euros, devido a itens sazonais como a contribuição para o Fundo de Resolução (tanto o português como o europeu – SRF), mas também alguns itens específicos.

Por exemplo neste trimestre, o BCP consolida o Euro Bank pela primeira vez, com alguns impactos no resultado e nos rácios de capital. A primeira consolidação do EuroBank deve ter um impacto negativo de 50 pontos base no rácio de CET1 que, segundo as estimativas do BPI, baixa de 12,7% em março para 12% em junho.

Depois há a mudança na taxa de desconto do fundo de pensões que poderá ter um impacto negativo de 41 pontos base no rácio de CET1 (assumindo um corte de 35 pontos base na taxa de desconto). Este impacto devem ser parcialmente compensado ​​por um desempenho positivo dos ativos do fundo de pensões durante o primeiro semestre (+ 15 pontos base no rácio) e o mark-to-market carteira de títulos available for sale –  activos financeiros disponíveis para venda (+ 15 pontos base), refere o BPI no research.

O BPI espera uma redução de 330 milhões de NPE no 2º trimestre de 2019 do BCP em Portugal, praticamente em linha com o trimestre anterior. Ao nível do grupo, a redução de NPE deve ser menor, uma vez que o banco consolida o EuroBank (NPEs de cerca de 160 milhões de euros).

O analista fala do reconhecimento de imparidades decorrente da consolidação pela primeira vez da carteira de crédito do EuroBank.

Os ativos recebidos por dação em cumprimento devem apresentar um declínio mais pequeno e os níveis de cobertura devem permanecer praticamente estáveis ​​em relação ao trimestre anterior, refere o research do BPI.

O BPI aponta ainda para uma redução dos DTAs (ativos por impostos diferidos) no BCP que passaram a ser considerados não recuperáveis ​​no cenário atual de taxas de juros.

 

CGD, melhoria do malparado e da rentabilidade

A Caixa Geral de Depósitos apresenta os seus números de junho na terça-feira, dia 30. Apesar dos factores conjunturais, como o pagamento das contribuição aos Fundos de Resolução, a CGD deverá reportar progressos na rentabilidade e na qualidade de ativos, que aliás já se tinha verificado no primeiro trimestre e que levou Paulo Macedo a dizer que ia retomar o pagamento de dividendos ao acionista Estado.

Recorde-se que no primeiro trimestre do ano a Caixa teve um Resultado líquido consolidado de 126,1 milhões de euros (+58 milhões que em março de 2018, o que traduziu um crescimento de 85%), equivalente a uma rendibilidade de capitais próprios (ROE) de 6,6%. É esperado um crescimento não tão expressivo no segundo trimestre, devido a factores sazonais, mas no computo geral o semestre deverá trazer uma subida anual dos lucros e da rentabilidade.

O tema da venda de dívida pública estará também na agenda dos resultados do banco liderado por Paulo Macedo.

 

Novo Banco: será que o banco recorrente vai gerar números positivos?

Mais uma vez a apresentação dos resultados do Novo Banco vai ser dividida em banco recorrente e legacy,

Comecemos pelo banco recorrente, que é aquele que está sob escrutínio de Bruxelas. É sobre o banco recorrente que incide o plano estratégico do Novo Banco.

Até que ponto a atividade recorrente do Novo Banco começa a dar sinais positivos de forma expressiva? É o que vamos saber no início de agosto, quando o banco apresentar resultados.

O tema principal da atividade do banco recorrente é o chamado “core banking income“, que basicamente consiste em margem financeira e comissões, menos os custos operativos. Isto é, resultado operacional sem a receita de trading de títulos.

Aqui voltamos ao tema da dívida. A dívida pública viu as taxas de juro descerem muito na primeira metade do ano e isso significa a valorização dos títulos na carteira dos bancos. Essa valorização é um incentivo à venda para fazer resultados de operações financeiras, que ajuda a subir os lucros.

Mas o Novo Banco vai em sentido contrário. Como o seu plano estratégico privilegia o crescimento da margem financeira, o banco tem todo o interesse em manter a dívida em carteira e não a vender, para assim subir a margem financeira, mesmo que isso implique perder a oportunidade de gerar resultados.

Portanto espera-se no Novo Banco uma boa evolução da margem em detrimento dos resultados.

Agora o “banco legacy“, o chamado banco mau dentro do bom. O Novo Banco vendeu neste semestre dois portfólios: O Albatros, uma carteira de crédito malparado em Espanha no valor de 400 milhões de euros; e o Projeto Sertorius, uma carteira de imóveis recebidos pelo banco como dação em cumprimento, com um valor contabilístico bruto de 500 milhões de euros.

Já se sabe que nestas duas operações o Novo Banco registou perdas de 400 milhões de euros, pelo que os prejuízos não vão ser soft no banco legacy.

O banco legacy fecha junho com uma dimensão de 10 mil milhões de euros, isto inclui 4,5 mil milhões da GNB Vida que o Novo Banco ainda não concretizou a venda. Tal como o Jornal Económico avançou a Global Bankers estava em risco de não poder concretizar a compra da seguradora portuguesa anunciada no ano passado. Para contornar isso a Global Bankers mudou de acionistas o que passou a permitir que a compra da GNB Vida fosse autorizada pelos reguladores.

Para além da GNB Vida, nesses 10 mil milhões de ativos legacy ainda estão créditos malparados que estão à venda no Projeto Nata 2. Pelo que no final do ano o Novo Banco poderá ver o legacy reduzir para 3 mil milhões de euros. Estes ativos estão protegidos pelo mecanismo de capital contingente do Fundo de Resolução.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.