Há milhares de vendedores da Tupperware em Portugal que aguardam notícias sobre a continuação do negócio em Portugal da marca fundada em 1946.
Em jovem rendeu-se à Tupperware como cliente e há 24 anos passou a ser vendedora, Vicência Teles fez no domingo aquela que pode ter sido a última encomenda à marca que não consegue imaginar ausente da cozinha dos portugueses.
“Estamos à espera de saber. Tenho pena, mas acredito que possamos continuar a vender em Portugal, até porque a marca é muito forte cá”, contou à Lusa no ‘quiosque’ da Tupperware do centro comercial Colombo, em Lisboa, onde a afluência aumentou desde que saíram as notícias da insolvência da multinacional norte-americana.
Vicência Teles conta que “tem havido muito mais procura”. “No outro dia chegou-me aqui uma cliente a dizer que a mãe tinha entrado completamente em pânico. Veio comprar mais caixas iguais às que tem com medo que deixem de existir”, relata.
Da empresa recebeu informação de que as encomendas de produtos na plataforma da marca fechavam às 23:00 do passado domingo, pelo que ‘correu’ a reforçar o ‘stock’ de produtos da marca mais conhecida pelas caixas de plástico para guardar alimentos.
Em comunicado publicado na página ‘online’ da Tupperware Portugal, a “família Tupperware” é informada de que “no contexto das decisões tomadas pela empresa-mãe para todos os países europeus […] está de momento suspensa a possibilidade de processar novas encomendas”, sem mais informações sobre o futuro da empresa no país.
“Para já, vamos continuar a vender, enquanto tivermos mercadoria”, mas “desde segunda-feira que já não conseguimos comprar mais nada”, avisa a uma cliente que disse que voltava em outro dia.
Aos 65 anos, Vicência Teles recorda que fez o enxoval com produtos da Tupperware que comprava “aos poucos” a uma colega na fábrica em que trabalhava e, anos mais tarde, quando estava desempregada, passou a vendedora, ou consultora, como é designada a função. No início, conta, fazia apresentações do catálogo em casa de clientes (hospedeiras), nos chamados encontros da Tupperware (ou party’s, como lhe chamam mais recentemente).
Estes encontros foram se tornando menos frequentes à medida que o negócio crescia nas redes sociais, explica outra consultora da Tupperware da zona de Lisboa, que faz da venda de produtos da marca o seu emprego desde 2018, gerindo uma rede de centenas de vendedores da marca.
Preferindo não se identificar, R. diz que aguarda a entrega de muitas encomendas feitas nos últimos dias e o pagamento das respetivas comissões, porque “as pessoas compraram imensas coisas com medo que a marca desapareça ou que deixe de se vender na Europa”. “Se os produtos hoje já são caros, se tiverem que ser importados dos Estados Unidos, ainda vão encarecer mais”, realça.
R. tem esperança de que a decisão de fecho da fábrica ainda possa ser revertida, lembrando que a atividade da marca em Portugal, apesar de ser um mercado pequeno, “sempre deu lucro” e a fábrica portuguesa “é exportadora”.
Também Rosa Antunes, com 66 anos, conta “quase 25 anos a vender Tupperware”, e uma história de afetividade, tratando os produtos da marca pelos nomes. “Quando me casei já levava um móvel cheio e todos os meses comprava mais alguma coisa. Não consigo fazer arroz de outra maneira, e a minha nora a mesma coisa”.
Residente em Castelo Branco, conta que visitou “várias vezes” a fábrica portuguesa, a funcionar desde 1980 em Montalvo, Constância (Santarém), um “prémio” para o qual os vendedores da marca “tinham que se qualificar”, referindo que “era muito bonita”, acreditando que “haja qualquer esperança”.
A fábrica da multinacional Tupperware em Portugal dependia a 100% da casa-mãe norte-americana, vendida depois de em setembro ter entrado em falência, e os planos para o futuro não parecem passar pela Europa, uma vez que a empresa revogou a sua licença de venda de produtos em todos os países europeus, segundo noticiou a imprensa internacional.
Estava previsto para hoje o último dia de atividade, mas a fábrica vai manter a atividade por mais uns dias para dar resposta às encomendas, segundo adiantaram à Lusa trabalhadores da empresa.
A par dos 200 trabalhadores da unidade de produção, há milhares de vendedores em Portugal que aguardam notícias sobre a continuação do negócio em Portugal da marca fundada em 1946.
A Lusa contactou a Tupperware em Portugal a pedir esclarecimentos, mas até ao momento não obteve resposta.
O presidente da câmara adiantou hoje à Lusa que um grupo de investidores está interessado na fábrica da Tupperware, tendo sido já apresentada uma proposta de aquisição à empresa norte americana.