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Venezuela: candidato da oposição pede asilo político a Espanha

Edmundo González deixou o país e, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros de Espanha, José Manuel Albares, pediu asilo político. “Enquanto Maduro pagar aos militares, não terá problemas internos”, diz Seixas da Costa.
9 Setembro 2024, 07h30

O líder da oposição venezuelana e ex-candidato presidencial, Edmundo González, pediu asilo político a Espanha, desferindo um duro golpe nos opositores do presidente do país, Nicolás Maduro. O governo espanhol disse este domingo que um avião da Força Aérea espanhola transportando González e a sua mulher pousou na base militar de Torrejón de Ardoz, nos arredores de Madrid.

“O governo espanhol, obviamente, concederá” o asilo, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros de Espanha, José Manuel Albares, “Pude falar com González e, uma vez que ele estava a bordo do avião, expressou a sua gratidão ao governo espanhol e à Espanha”, acrescentou. Citado pela comunicação social. O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, descreveu o líder da oposição venezuelana como “um herói que a Espanha não abandonará”, segundo as mesmas fontes.

González, um diplomata reformado de 75 anos, é considerado pela oposição interna mas também por vários analistas externos o vencedor das eleições presidenciais realizadas a 28 de julho, mas Maduro reivindicou a vitória. No início deste, foi emitido um mandado de prisão contra González por supostos crimes que poderiam levar a passar o resto da vida na prisão: entre outros, associação criminosa, com uma pena de prisão de até 10 anos, e conspiração, que pode ser punida com uma sentença de 16 anos.

A vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, disse que González deixou o país depois de “procurar refúgio voluntariamente” na embaixada espanhola e que o regime lhe concedeu passagem segura para fora do país como forma de “contribuir para a paz política”.

Para os analistas, a recente decisão de Maduro de nomear Diosdado Cabello, uma das figuras mais de linha-dura do regime, como ministro do Interior, aumentou a insegurança da generalidade da oposição, mas principalmente dos seus líderes. Francisco Seixas da Costa disse ao JE que “o que segura o regime é o que Maduro paga ao exército” e que enquanto isso suceder, o ‘herdeiro’ de Hugo Chávez “não terá qualquer problema para se manter no poder”. O contrário também é verdade: enquanto a relação entre Maduro e os militares estiver bem ‘oleada’, a oposição não terá qualquer hipótese de, pela via democrática ou outra, mudar a essência do regime.

A verdadeira líder da oposição María Corina Machado – que foi impedida de concorrer tendo sido inesperadamente substituída por González quando havia outros nomes na calha – pode vir a seguir o mesmo caminho do ex-candidato, uma vez que é ela a maior preocupação do regime de Caracas. Mas, pelo menos para já, não há sinais de que Maria Corina Machado esteja a pensar seguir González. Questionada pelo jornal britânico “The Guardian” sobre o assunto, a oposicionista disse que “acredito que o meu dever é ficar na Venezuela” – mas admitiu que a cada dia essa opção se torna “mais difícil e arriscada”.

Maduro foi declarado vencedor com 52% dos votos, mas as folhas de contagem de mais de dois terços das urnas eletrónicas e publicadas online indicam que González venceu por uma margem de mais de 2 para 1 – ou seja, 66%. Mas o principal tribunal da Venezuela – que é controlado por aliados de Maduro – confirmou a vitória do candidato do regime. Estados Unidos, União Europeia e várias nações latino-americanas recusaram reconhecer a reeleição de Maduro para um terceiro mandato de seis anos, a menos que Caracas divulgue dados completos da votação. Do outro lado, China, Rússia e o Partido Comunista Português (PCP), entre outros, foram lestos em reconhecer a vitória de Maduro.

Até o presidente do Brasil, Inácio Lula da Silva – reconhecidamente um apoiante do regime – parece já não ter dúvidas sobre o descalabro político que se vive na Venezuela, tendo afirmado, ainda na passada sexta-feira, que o chefe de Estado venezuelano “deixa a desejar” e que é do interesse de todos que as eleições sejam repetidas ou que Maduro dê lugar à formação de um governo de coligação com a oposição. Os governos do Brasil e da Colômbia divulgaram uma nota conjunta em que afirmam manifestar “profunda preocupação” com a ordem de prisão emitida contra González. “Esta medida judicial afeta gravemente os compromissos assumidos pelo governo venezuelano no âmbito dos Acordos de Barbados, em que o regime e a oposição reafirmaram o seu compromisso com o fortalecimento da democracia e a promoção de uma cultura de tolerância e convivência”, refere a nota comum.

A notícia do asilo de González provocou uma onda de solidariedade com o líder da oposição e de condenação do regime de Maduro frustração e angústia no domingo entre apoiadores da oposição e membros da comunidade internacional. “É um dia triste para a democracia na Venezuela… Em democracia, nenhum líder político deve ser forçado a procurar asilo noutro país”, disse o chefe de política externa da União, o espanhol Josep Borrell, em comunicado.

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