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Venezuela: gasolina mais barata do mundo não consola país a ferro e fogo em dia de eleições

O litro de gasolina é mais barato do que uma garrafa de água pequena. Atualmente, a turbulência social não está relacionada com os combustíveis, mas sim com a grave crise económica que o país atravessa.
20 Maio 2018, 11h00

A Venezuela tem a gasolina mais barata do mundo. Um litro de super, a mais usada, custa 0,01 dólares por litro (0,009 euros). Para se ter um termo de comparação, os habitantes sabem que um litro de combustível é vinte vezes mais barato do que uma garrafa de água pequena. Os poços mais importantes estão nos estados de Carabobo e de Maracaibo. Diariamente são produzidos 2,2 milhões de barris, o principal produto exportado pelo país, segundo dados de fevereiro de 2017.
A alta produção de petróleo e o baixo preço da gasolina influencia o dia-a-dia dos venezuelanos. A começar pelo tráfego. O trânsito na cidade é caótico e carros de marca Toyota, Chevrolet ou Hyundai têm, no mínimo, 1.900 de cilindrada. Não vale a pena comprar um carro fraco se o preço da gasolina é tão barato.
Às seis da manhã, as filas entopem todos os acessos da capital. Para piorar ainda mais a situação, muitos condutores estacionam os carros na berma da estrada para ir ao banco, à padaria ou até comprar o jornal. A esta hora, o ponteiro que controla a velocidade dos automóveis quase não mexe: 1,2 quilómetros por hora é a velocidade máxima a que se consegue circular na Avenida Francisco de Miranda, uma das principais de Caracas.
A decisão de aumentar o preço do combustível sempre provocou reações fortes por parte da população. No dia 27 de fevereiro de 1989, data que ficou conhecida como o “Caracazo”, o governo do presidente Carlos Andrés Perez anunciou uma série de medidas anti-populares para conter a crise económica do país. Uma delas foi o aumento do preço da gasolina.
Milhares de pessoas saíram às ruas para protestar. Os conflitos duraram cinco dias e morreram mais de mil pessoas. Em 2002, temeu-se que acontecesse o mesmo. O presidente Hugo Chávez decidiu demitir os gestores da PDVSA e substituí-los por pessoas da sua confiança. Em protesto, e para tentar forçar a queda do presidente, os opositores convocaram uma greve geral de trabalhadores. Como consequência, metade dos poços do país ficaram paralisados.
No entanto, atualmente, a turbulência social não está relacionada com os combustíveis, mas sim com a grave crise económica que o país atravessa. Este domingo, a Venezuela organiza a sua quarta eleição em menos de um ano e, tal como as anteriores, está envolta em polémica. Em todas as frentes. Desde logo porque a oposição não conseguiu encontrar um candidato de consenso, que reunisse em seu torno o enorme capital de desespero que o país e o seu presidente, Nicolás Maduro, enfrentam. E depois porque a comunidade internacional, ou parte dela, duvida da qualidade do ato para que foram chamados 20,5 milhões de venezuelanos.
Neste quadro de desunião, o apelo é para que os eleitores da oposição fiquem em casa. A estratégia é tornar a mais que provável eleição de Nicolás Maduro o mais estreita possível – retirando-lhe legitimidade e dificultando-lhe a ação política.
Segundo as sondagens, Nicolás Maduro está frente, com 57% de intenções de voto; de seguida aparece Henri Falcón (32%) e depois Javier Bertucci (7%). Cerca de 67% dos venezuelanos pretende votar.
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