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Venezuela: tensão nas ruas está para durar

Com as posições dos dois lados da barricada a radicalizarem-se, ninguém sabe ao certo o que poderá acontecer. Entretanto, os Estados Unidos dizem-se prontos a intervir no terreno, mas ninguém parece disponível para os acompanhar.
  • Juan Guaidó
2 Maio 2019, 07h48

Enquanto a administração norte-americana mantém a ameaça de intervenção militar no país, as ruas venezuelanas, principalmente nas grandes cidades, continuam a viver em regime de enorme tensão. Para os observadores – e depois do ‘milagre’ de praticamente não ter havido ainda derramamento de sangue – a tensão deverá continuar nos próximos dias, até porque o fim-de-semana vem já a seguir e é costume que os confrontos aumentem de tom nessas alturas.

Ao longo dos dois últimos dias, a esmagadora maioria dos parceiros internacionais manteve os pedidos de diálogo e a recusa em aceitar a violência como forma de solucionar o impasse em que a Venezuela caiu. O que quer dizer que não se vislumbra que qualquer um das várias dezenas de países que aceitaram Juan Guaidó como presidente interino está disponível para acompanhar os Estados Unidos numa eventual aventura militar na América do Sul.

A maioria dos observadores fala também num impasse a que chegaram os dois grupos, oposição e apoiantes do regime: qualquer ponto de contacto que ainda fosse possível está neste momento completamente quebrado e não há nenhuma evidência de que, dos dois dias de tensão que começaram a 30 de abril, resulte uma posição mais consolidada dos apoiantes de Juan Guaidó.

Com a libertação de Leopoldo López, Guiadó conseguiu mesmo introduzir um sinal de ambiguidade no movimento: quem será a partir de agora o líder da oposição – o líder histórico libertado ou o presidente da Assembleia Nacional? Ou, por outras palavras: numa situação de eleições presidenciais, quem seria o concorrente da oposição: López ou Guaidó?

Só para complicar, Leopoldo López, juntamente com a sua esposa, Lilian Tintori, e a sua filha (o casal tem outra filha e um filho), refugiou-se na embaixada de Espanha em Caracas e, apesar de não ter ainda pedido asilo político, retirou-se do terreno dos confrontos. Para já, o governo de Pedro Sánchez e o Embaixador Jesus Silva Fernandez consideram López bem-vindo, apesar da evidente dificuldade da situação: Espanha não rompeu relações com o regime de Nicolás Maduro, apesar de ter reconhecido Guaidó como presidente encarregado de convocar eleições.

Entretanto, nas ruas, repetiu-se ontem o cenário do dia anterior: milhares de venezuelanos encheram as artérias de Caracas e de outros estados em resposta aos apelos por Nicolas Maduro e Juan Guaidó. Medir a sua força através destas manifestações parece ser o motivo das convocações. Que acabam sempre em picardias e confrontos mas que os analistas afirmam não passarem disso.

A incógnita continua assim a ser a melhor palavra para descrever os dias que se seguem. Bem mais fácil de discernir é a evidência de que o país continua ingovernável do ponto de vista económico e que a população em geral se mantém num nível próximo do desespero.

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