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“Viajar com os Reis de Portugal”

São vinte as histórias das viagens empreendidas pela realeza portuguesa ao estrangeiro e recolhidas pelo historiador Miguel Ribeiro Pedras. Um retrato da viagem enquanto ferramenta política e diplomática.
  • Marta Teives
29 Fevereiro 2020, 10h12

 

Na sequência de um convite para um casamento, o infante D. Pedro chega a Colónia no final de fevereiro de 1426. No meio de outros peregrinos, visita a Catedral, onde estavam depostas as ossadas e as relíquias dos três reis magos. Daí segue para Viena, onde presta homenagem ao imperador Segismundo, passa por Ratisbona (sobre a qual um italiano que lá viveria três décadas mais tarde falaria de “um odor fétido e persistente que obriga o estrangeiro, de regresso a casa, a lavar-se cinco e mesmo sete vezes para dele se livrar”) e acaba a integrar o exército do dito imperador que, na Roménia, combatia o império otomano.

Em 1428, parte da Hungria para Veneza, onde é recebido pelo doge Francesco Foscari que, em sua honra, oferece uma festa com a presença de 250 damas, para além de receber ainda um exemplar do livro sobre as viagens de Marco Polo.

Em 1856, finalmente liberto da regência pela chegada do filho D. Pedro à maioridade que lhe permitia assumir o trono, D. Fernando, viúvo da rainha D. Maria II, parte no navio “Mindelo” em direção a Cádis. Segundo o cônsul português em Marrocos, ao desembarcar em Tânger, D. Fernando é recebido pelo “bachá”, o governador local, em pleno Ramadão. Como durante este período, para além de não poderem comer nem beber, os muçulmanos também não podem fumar, o governador recebe D. Fernando tapando a boca e o nariz, para evitar inalar o fumo do tabaco que sai da boca do pai do rei de Portugal.

Em novembro de 1904, o rei D. Carlos e a rainha D. Amélia retribuíam a visita que o rei inglês Eduardo VII fizera a Portugal no ano anterior, deixando a rainha-mãe, D. Maria Pia, a assegurar a regência. Foram recebidos em Windsor, D. Amélia andou de trenó em Chatsworth, o casal fez compras em Londres – em Regent Street, o rei adquiriu um piano, o que levou a loja a afixar na montra um cartaz onde se lia “Fornecedor do Rei de Portugal” –, passeou, visitou museus e foi ao teatro.

São vinte as histórias das viagens empreendidas pela realeza portuguesa ao estrangeiro e recolhidas pelo historiador Miguel Ribeiro Pedras em “Viajar com os Reis de Portugal”, livro editado por A Esfera dos Livros. Fossem deslocações por lazer, para celebrar casamentos (e, portanto, alianças), com cariz diplomático ou político – ou mesmo de aprendizagem para melhor poder governar o país quando fossem reis, como no caso do infante D. Pedro, no século XV – as famíias reais europeias viajavam com frequência e a portuguesa não era exceção.

E, como afirma o autor na introdução, “é na individualidade dos monarcas, na sua personalidade, modo de pensar e de se envolverem com o seu tempo, que está a verdadeira diferença entre as jornadas, mais do que o século em que estas ocorreram ou o país visitado.”

Eis a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.

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