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Violência política atinge recorde no Brasil em 2024

Levantamento aponta para número mais elevado desde 2016, com entrada do crime organizado e ameaças virtuais. Investigadores alertam que os números estão subestimados.
21 Dezembro 2024, 16h00

A violência política que vitimou Marielle Franco há seis anos não só persiste, como cresce no Brasil. Um estudo recente mostra que os casos contra políticos e candidatos bateram um recorde em 2024, no mesmo ano em que os assassinos da vereadora carioca foram condenados. Foram 558 as ocorrências contabilizadas de janeiro até à segunda volta destas eleições, incluindo ameaças, atentados, agressões, ofensas e mesmo assassinatos divulgados nos media. É o maior valor registado desde 2016, início da série histórica apurada pelas organizações Justiça Global e Terra de Direitos. O número equivale a quase duas vítimas por dia.

Em todo o ano de 2020, quando foram contabilizados 214 casos, a proporção era de uma ocorrência a cada quase dois dias. Já em 2016, com 46 registos, a frequência era de uma vítima a cada oito dias. O ritmo costuma disparar em anos e em períodos eleitorais: os três meses de campanha concentraram 75% dos episódios deste ano, e a semana que antecedeu o primeira volta da votação teve uma média de 17 ocorrências por dia.

O crime político, no entanto, é um fenómeno que acontece o ano inteiro. Os resultados do estudo vão na mesma linha de um outro levantamento, realizado pelo Observatório da Violência Política e Eleitoral da Unirio, que também apontou um recorde de casos monitorizados na imprensa nas eleições de 2024. “A violência política tornou-se um instrumento real para manter e obter privilégios políticos no Brasil, e há uma ausência de resposta do Estado como um todo. A partir dessa naturalização, os casos vêm crescendo”, diz Gisele Barbieri, coordenadora de incidência política da Terra de Direitos, que lembra que os casos são subnotificados. Somam-se aos motivos para o aumento a proliferação de notícias falsas, ameaças e ofensas virtuais sem regulação e a expansão do crime organizado, seja no financiamento de campanhas ou na intimidação de agentes políticos. “Tivemos dificuldade em classificar casos no Rio de Janeiro ou na Amazónia, por exemplo, em que os dois âmbitos se misturam”, afirma Barbieri.

As ameaças correspondem a 40% dos casos deste ano, seguidas dos atentados (23%), que cresceram 42% em relação a 2020. A persistência destes ataques e dos assassinatos nos últimos anos indica que a violência extrema tem-se tornado uma resposta cada vez mais comum nas disputas políticas, conclui o relatório.

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