São cada vez mais as vozes socialistas a defender que o PS viabilize o governo da Aliança Democrática (AD), assegurando estabilidade governativa no país, depois das eleições de domingo. Ao Jornal Económico, Vitalino Canas, ex-secretário de Estado, diz ser “inevitável” que o PS “tenha uma postura de responsabilidade e que viabilize o funcionamento do governo, não vote a favor de moções de rejeição do programa do governo, não vote a favor de moções de censura”.
“Já agora, não deveria ter votado contra a moção de confiança, mas isso não foi ouvido”, acrescenta o socialista, apontado essa decisão, que ditou a queda do governo liderado por Luís Montenegro, como um “erro de cálculo” da parte do PS. Considerando um “absurdo” que se esteja a ir sucessivamente a eleições até que haja uma maioria absoluta, Vitalino Canas diz também ser cedo para “definir o perfil do próximo líder”. Mas, defende, “deve ser seguramente alguém que retome o curso normal e clássico do PS, à esquerda do centro moderado, e capaz de captar o centro político”. “E, naturalmente, deverá estar aberto a criar condições de estabilidade durante um período razoável”, frisa.
O antigo governante socialista admite ter sido surpreendido com o nível do desaire do PS, podendo inclusive passar a ser terceira força política, se ultrapassado pelo Chega em número de mandatos depois de contados os votos da emigração.
“Essa é que é a grande diferença do quadro político. As condições de governabilidade não se alteraram substancialmente em relação àquilo que havia. Não produziram uma clarificação no sentido de melhorar essas condições. Acho que o PS, que é um partido responsável e que não tem de andar sempre à procura de eleições, ao contrário do Chega. Tem de ter isso em conta e agir de acordo com o seu código genético histórico e garantir essa estabilidade”, argumenta.
O socialista sustenta, no entanto, que garantir essa estabilidade não significa permitir que a próxima legislatura dure os quatro anos, porque, nos dias que correm, com a vida política a acelerar tanto, “às vezes os governos precisam de um tónico de legitimidade”.
“Não diria peremptoriamente permitir que a legislatura dure até ao fim, mas um período mínimo razoável, dois anos, três anos, o período de vida razoável que eu achava que o governo anterior devia ter tido”, defende Vitalino, entendendo que esse é o tempo necessário para o governo mostrar o que vale e os partidos da oposição mostrarem que alternativa têm. O PS deve, por isso, “deixar que a legislatura decorra com normalidade durante um período razoável, bastante mais do que metade, pelo menos”.
Uma posição partilhada por outros socialistas que se têm pronunciado depois do dia negro de domingo, que culminou com a demissão de Pedro Nuno Santos da liderança do partido. No podcast do JE ‘Cinco Minutos’, Vitor Ramalho defendeu que o PS tem de se “refundar” ao centro e procurar dialogar com todos.
Fernando Medina, ex-ministro das Finanças e um dos nomes apontados para disputar a liderança do partido com José Luís Carneiro, disse que o PS deve viabilizar o governo da AD se Montenegro “quiser combater a progressão da extrema-direita”. Questionado na Rádio Renascença sobre a governabilidade, o antigo governante reforçou a necessidade de um “diálogo permanente” entre o governo e o PS “para se assegurar a estabilidade num quadro mais alargado do tempo”.
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