[weglot_switcher]

Zouri: Como o lixo nas praias está a revolucionar o calçado português

A marca portuguesa 100% ecológica, considera ser “um manifesto à preservação dos oceanos” e tem como objetivo agir como um player relevante no setor da economia circular.
21 Maio 2019, 07h31

Se contabilizarmos a quantidade de lixo existente nos oceanos nos dias de hoje, os dados apontam para uma média de 22 milhões de toneladas a nível mundial. Só em Esposende, foram recolhidas cinco toneladas, mas para os criadores da Zouri foram necessário apenas mil quilos de plástico para criar a sua linha de calçado.

Em nome da pegada ecológica, chega a Zouri Shoes, um produto que nasceu do sonho de querer retirar o lixo plástico do oceano e incluí-lo numa linha de calçado “verde”. A marca foi criada por dois amigos minhotos que sempre tiveram o “sonho” de limpar o oceano, livrando-o de garrafas e outros plásticos. Começaram por fazer sandálias (a nova coleção vai ser lançada ainda este mês) e, mais tarde, lançaram os ténis com design retro.

Assim, Adriana Mano, que hoje lidera a empresa sozinha, junta o útil ao agradável ao criar um calçado eco-vegan, ambientalmente sustentável, feito à base de plástico recolhido que consegue, por sua vez, levantar questões ético-sociais. “A nossa grande paixão pelo oceano e pelos valores de preservação da natureza foram as maiores motivações”, explica a CEO da startup ao Jornal Económico.

No fundo, a empresa minhota considera ser “um manifesto à preservação dos oceanos” e tem como objetivo ser um player relevante no setor da economia circular. Os preços das sapatilhas variam entre os 83 e os 142 euros, mas para Adriana é importante sublinhar que um produto desta tipologia só não está à venda por 25 euros por não ser sustentável. “É impossível”, sublinha. “As pessoas têm que ter em conta que estão a pagar um produto real. Um sapato com estas bases nunca poderia custar 30 euros. Se pagam esse valor, é porque alguém do outro lado vai receber 10 cêntimos pela mão de obra”, argumenta, culpando as grandes corporações por não respeitarem os direitos humanos e não pagarem devidamente quem trabalha nas fábricas das grandes marcas de roupa e calçado.

A empresa surgiu, originalmente, em 2017, quando ainda eram dois pares de mãos a agarrar o projeto. Nesta primeira fase, a António Barros e Adriana Mano conseguiram um investimento de crowdfunding no valor de 30 mil euros. Contudo, a dupla fundadora seguiu “caminhos diferentes”, o que obrigou Adriana a relançar a marca em janeiro deste ano, angariando doações que rondaram os 9 mil euros. Desde então, os resultados têm sido positivos ao conseguir fazer um percurso de promoção e alcançando reconhecimento e vendas crescentes desde o lançamento.

Com um produto 100% ecológico produzido em Portugal, a empresária ambiciona fazer dos ténis também um produto 100% nacional, sendo que ainda depende do ‘pinatex’, um produto importado das Filipinas, que é feito a partir da fibra da folha do ananás e o algodão orgânico, que é produzido na Ásia Central.

Contudo, sublinha que apesar de serem importados “todos os materiais são certificados”. “É difícil encontrar matérias-primas locais”, admite a fundadora que revelou estar em conversações com uma empresa em Cantanhede que produz cânhamo. “É uma luta constante, mas faço os possíveis para melhorar o produto todos os dias”.

A pequena empresa conta com o apoio de vários parceiros comerciais e institucionais como a Esposende Ambiente pertencente à Câmara Municipal de Esposende, com quem desenvolveram um trabalho muito forte de limpeza das praias e ações conjuntas de sensibilização em escolas e outras iniciativas. E O CIMAR pertencente à Câmara Municipal de Viana do Castelo com quem estão a iniciar uma relação também para a limpeza e regeneração do plástico recolhido nas ações de limpeza.

No futuro, Adriana espera conseguir conquistar novos mercados como a Alemanha, a França e Espanha. Até lá, vai continuar a investir o tempo livre neste projecto – que mostra, numa escala pequena, como o tecido empresarial se modernizou e enveredou por caminhos que não seriam opção dez anos antes.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.