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Futuro da RTP é continuar a diferenciar-se dos privados

Gonçalo Reis diz que a RTP tem de continuar a apostar no digital e quer uma escola para a produção de séries de qualidade, em português.
13 Outubro 2017, 06h55

O presidente da RTP defende que o futuro do operador público de televisão passa pela continuação da aposta na diferenciação dos operadores privados. “Para ser verdadeiro serviço público, tem de fazer o que os operadores privados não estão dispostos a fazer e tem de deixar de fazer muitas das coisas que os operadores comerciais fazem. É muito importante esta diferenciação”, defendeu Gonçalo Reis, que foi o orador convidado da conferência promovida pelo International Club of Portugal (ICPT) e fez uma intervenção sobre “a RTP, o serviço público e os desafios dos media”.

Esta lógica traduz-se num maior investimento na produção de conteúdos originais em português, numa maior relação com a cultura e, também, na informação. “É na sociedade da pós-verdade, das fake news, do populismo, que é muito importante afirmar conteúdos, afirmar jornalismo, afirmar uma lógica de qualidade”, afirmou.

Em declarações ao Jornal Económico, à margem da conferência do ICPT, Gonçalo Reis explicou que a estratégia da empresa tem sido “sempre colocar coisas novas em cima da mesa, para demonstrar que a RTP está a fazer mais”, mas com o mesmo financiamento.

“Quando recebemos visitas de operadores europeus, eles ficam absolutamente surpreendidos com a multiplicidade de serviços que estamos a prestar e a acrescentar, com os recursos que temos”, diz o gestor, acrescentando que “a RTP não depende do orçamento do Estado, é financiada apenas pelo cidadão”.

“O financiamento da RTP, comparando com outros operadores de serviço público europeus é muito baixo”, só superior ao de países como a Albânia e a Roménia. Países como a Grécia e a Bósnia têm maior financiamento.

Decisão rápida para negócio da Media Capital

Gonçalo Reis referiu também a situação do mercado, marcado pela fragmentação e pela emergência de novos players e plataformas. Em Portugal, marcado também pelo processo de aquisição da Media Capital, dona da estação de televisão TVI, pela Altice, empresa que é dona da operadora de telecomunicações Portugal Telecom.
“A relação ou a articulação entre media e telecom não surpreende ninguém que esteja neste setor”, apontou, referindo que a operação “tem impacto”, mas não condiciona de forma determinante o desenvolvimento da operação da RTP: “Do ponto de vista da RTP, nós temos de estar focados muito na nossa estratégia, na nossa agenda. E aquilo que nós temos de fazer – 90% daquilo que nós temos de fazer não depende dos equilíbrios entre operadores privados, são coisas que nós fazemos com enorme autonomia”, diz.

O presidente da RTP diz que, “agora é o tempo dos reguladores analisarem” a operação. “Creio que os reguladores vão certamente acautelar os temas fundamentais de concorrência, de acesso dos conteúdos às várias plataformas de distribuição, de não discriminação e de não se criarem distorções a um ecossistema que, apesar de tudo, tem sido um ecossistema saudável”, diz.

“Eu sou dos que acredita que operadores privados com uma posição estável, segura, sem ansiedade, isso é melhor para eles e também para a RTP. Nós queremos um sector sem grandes ansiedades. Quanto mais rápido e melhor se resolverem esses temas, é bom para todos”, afirma.

A aposta da RTP para o futuro passa por manter o trajeto feito até agora: “Nós, cada vez mais, somos uma empresa de rádio e de televisão com uma presença fortíssima no digital. Portanto, trouxemos o digital para o centro da nossa estratégia corporativa e de conteúdos”, diz Reis ao Jornal Económico.

A RTP investiu no digital, com a renovação dos sites e do RTP play, com o lançamento de newsletters diárias de informação e de programação e com novas aplicações para tablets e smartphones. O presidente da empresa diz que “o digital é um meio excelente para chegarmos aos portugueses que estão fora. Entre 35% e 40% à nossa oferta digital são feitos a partir de fora de Portugal”.

O alargamento da oferta é demonstrado com dois novos canais na TDT e a disponibilização dos arquivos online, que é um projeto inovador a nível europeu – que conta já 600 mil utilizadores únicos.

Gonçalo Reis diz, também, que a RTP aumentou o apoio ao cinema, investindo 20% acima daquilo a que empresa está obrigada.

E quer ainda mais: “A nível de conteúdos, temos de continuar, cada vez mais, numa lógica de inovação e de qualificação. Dou como exemplo a aposta nas séries: a estratégia faz todo o sentido e acrescenta ao panorama, mas agora temos de entrar na fase B, que é criar uma escola de produção de séries de grande qualidade. Que sejam apelativas junto do público e que sejam realmente bem sucedidas”, diz.

“Temos um caminho enorme para fazer na área dos documentários, que é um género nobre de serviço público, que se prende com os temas de informação e de investigação, em que a RTP já está a fazer alguma coisa, mas queremos fazer muito mais. Não só emitir os melhores documentários do mundo, mas também encomendar originais em Portugal, fomentando também esse formato. Temos de ter mais reportagem, investigação e espaços de debate atualizados”, acrescenta.

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