Um em cada três jornalistas trabalha sem contrato fixo e 26% está a recibos verdes. A maioria diz trabalhar entre 35 e 40 horas por semana, no entanto, apenas 4% afirma ser remunerada pelas horas extraordinárias.
Estas são algumas conclusões do estudo “Os jornalistas portugueses são bem pagos?”, conduzido por uma equipa do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia, em parceria com o Sindicato dos Jornalistas e o Observatório da Comunicação, junto de 1500 profissionais. O estudo revela que, no ano passado, 69% dos jornalistas recebiam entre 501 e 1.500 euros líquidos por mês, dos quais 23,3% recebiam entre 1001 e 1.500 euros, 23,9% entre 701 e 1.000 euros e 21,8% menos de 700 euros.
“É negativo que mais de 50% receba menos de mil euros por mês, especialmente tendo em conta que a maioria trabalha mais de 40 horas por semana e que quase 80% é licenciado”, vincou o investigador do CIES, Miguel Crespo, citado pela publicação “O Congresso”, feita por alunos de vários cursos de Comunicação de todo o país, numa redação multimedia instalada no Cinema S. Jorge.
A questão laboral e os vínculos precários é um dos temas fortes deste congresso. Durante uma mega mesa redonda com 19 diretores de orgãos de informação, realizada na sexta feira, o jornalista Adelino Gomes pediu contas aos presentes, sem que nenhum reconhecesse a existência de precários nas suas redações.
Em entrevista publicada na primeira edição de ”O Congresso”, Maria Flôr Pedroso, presidente da Comissão Organizadora, contou que uma jornalista que quis fazer um artigo sobre a precariedade na profissão “contactou cinco pessoas e nenhuma quis falar”. O facto, sublinhou, “levanta questões acerca do medo e da condição do jornalista”.
INDEPENDÊNCIA
Um painel sobre o estado do jornalismo reuniu diferentes gerações de jornalistas de áreas distintas. Nicolau Santos, do Expresso, apontou o dedo ao papel desempenhado pelo jornalismo económico nos últimos anos em que foi “suporte da troika, dos banqueiros e do programa de ajustamento”.
José Pedro Castanheira, do mesmo jornal, enunciou alguns problemas que a profissão enfrenta, à cabeça dos quais está a deontologia profissional: O Código Deontológico data de 1993 e nem “sequer prevê sanções aos jornalistas que não o respeitem”, a Comissão da Carteira, que não é presidida por um jornalista e onde só metade dos membros são eleitos, é “um organismo burocrático”, há diretores “que são quase saltitantes” e empresários sem sensibilidade para o negócio . “Não há verdadeiro pluralismo na imprensa escrita, não existe pluralismo interno”, afirmou.
Nas televisões, o excesso de futebol e a presença de comentadores com interesses ligados ao mundo político e económico e no digital, a ditadura do clique foram algumas das questões levantados pelo professor Manuel Pinho. Diana Andringa, antiga presidente do Sindicato dos Jornalistas, questionou as caixas de comentário do ódio e o jornalista Fernando Valdez apontou outro problema dos nossos dias o da confusão entre informação e conteúdos. “O jornalista não produz conteúdos, produz informação”, vincou.
Pela primeira vez em 18 anos, os jornalistas reúnem-se para analisar o estado da profissão. O objetivo é obter uma lista de propostas que ajudem à “afirmação do jornalismo como um pilar da democracia”. O congresso conta com o envolvimento das três entidades representativas da profissão: Sindicato dos Jornalistas, Casa da Imprensa e Clube dos Jornalistas.
Na sessão de abertura, a presidente do Sindicato, Sofia Branco, alertou para o “preço demasiado alto” de pertencer a organizações sindicais na conjuntura atual. E Goulart Machado, presidente da Casa da Imprensa, denunciou a situação precária em que se encontram alguns profissionais: “Alguns jornalistas vivem com o rendimento social de inserção.”
PERSPETIVAS
No primeiro dia do ciclo de cinema que antecedeu o Congresso, a cientista Maria Manuel Mota, a escritora Dulce Maria Cardoso e o historiador e comentador político José Pacheco Pereira deram a sua perspetiva sobre o estado do jornalismo.
“Penso que o facto de o jornalismo de ciência ser bem-sucedido depende do contributo de ambas as partes: cientistas e jornalista”, disse Maria Manuel Mota.
Dulce Maria Cardoso: “A necessidade de haver jornalistas é inquestionável, mas o seu financiamento parece que não.
“O jornalismo é muito sensível ao poder”, vincou Pacheco Pereira.
Foto Emanuel Câmara
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