Três furacões ameaçam a terra na Bacia do Atlântico Norte, simultaneamente, e de ‘peito feito’. A tragédia de uns é, na verdade, um fenómeno que surpreende até os estudiosos. Eric Blake, cientista do Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos, diz que nunca viu nada assim, nem a história moderna.
Três furacões ao mesmo tempo: a história repete-se?
O Irma nasceu como uma tempestade clássica de Cabo Verde, e tal como alguns dos maiores furacões, ganhou força sobre o Atlântico. Está agora ao Norte da República Dominicana. O furacão José, progride seguindo as pisadas do Irma, e está a cerca de mil quilómetros do arquipélago das Pequenas Antilhas. O furacão Katia que está no sudoeste do Golfo do México.
Não é a primeira vez que o Atlântico experimenta três furacões em simultâneo. A 16 de setembro de 2010, formavam-se Igor, Julia e Karl, todos alinhados, a girar na bacia ao mesmo tempo. A história repete-se quase sete anos depois, com nuances que fazem toda a diferença. É que, em 2010, Julia, nunca tocou a terra. Esta é efetivamente a primeira vez em que três furacões atingem a terra, ao mesmo tempo.
Mas porquê?
A primeira coisa que devemos saber é que não é estranha a formação de fenómenos deste tipo, especialmente em Agosto, Setembro e Outubro, que são os meses mais quentes e tipicamente a época dos furacões. Gerry Bell, do centro de previsões climáticas do governo americano, disse ao New York Times que “este é o pico” e é exatamente quando se formam 95% de todos os furacões.
Por outro lado, não é líquido que apenas porque há três furacões em simultâneo no Atlântico, que 2017 seja um ano particularmente mau, ou pior do que outros, no que respeita ao número total de tempestades. Até agora o número de tempestades nomeadas – doze – que se transformaram em furacões, está em linha com as previsões dos cientistas que estimam entre 14 a 19 nesta temporada.
Mas uma coisa é certa: formou-se a tempestade perfeita. No final do verão e início de outono, as condições no Atlântico tropical da África tornaram-se propícias à formação de tempestades. A juntar estas condições, os cientistas alertam para as alterações climáticas, cujas consequências ajudaram à “tempestade perfeita”.
Que culpa têm as alterações climáticas?
As ligações entre as alterações climáticas e a formação de furacões são complexas, e rodeadas de incertezas. Mesmo sem respostas científicas, os cientistas vão dando algumas respostas.
Um dos maiores problemas é que não há efetivamente muitos furacões, cerca de uma dúzia a cada ano, o que se traduz em pouca matéria e dados suficientes para dar explicações científicas, mas há alguns impactos mais certos do que outros.
À medida que o planeta aquece, a atmosfera contém mais humidade, e os furacões produzem mais chuva, o que justifica mais precipitação por comparação ao ano passado. Por outro lado, à medida que aumenta o nível das águas do mar, o impacto das ondas causadas pelas tempestades é maior e causador de maiores estragos e destruição.
Estes dados permitem, aos cientistas, afirmar que o aquecimento global não está – necessariamente – a causar a formação de mais furacões, mas sim a aumentar a intensidade, o tamanho, e o potencial de destruição destes fenómenos naturais, que têm um vida cada vez mais longa (em tempo de duração).
É preciso perceber que um furacão começa por ser uma tempestade tropical e alimenta-se de calor, por isso as alterações climáticas – que aumentaram o nível da água do mar, da temperatura global da água e do ar – provavelmente pioraram tudo. Com temperaturas mais quentes o ar pode conter mais humidade, os furacões vão ter a capacidade de produzir mais chuva, e causar mais inundações e mais destruição. No entanto, isto pode significar inclusive menos furacões, já que uma tempestade grande e longa, pode substituir três ou quatro mais pequenas.
Muitos ambientalistas pedem urgência na discussão do papel das alterações climáticas na formação de três furacões deste tamanho, desta intensidade. Mas pedem mais. É que além destes fenómenos de curto prazo, o aquecimento global é uma ameaça no longo prazo. Os cientistas gritam ao mundo: falar sobre as alterações climáticas é um dever moral. E agir, é outro.
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