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Os ex-governantes do PS que exercem cargos na EDP

Além de quatro ex-governantes, destaque para um militante do PS, João Marques da Cruz, que festejou a vitória de Costa contra Seguro.
EDP
2 Dezembro 2017, 15h00

A proposta do BE incidia sobre todos os produtores de energias renováveis, com destaque para a EDP, que detém uma quota de mercado de 25%. Do total de 250 milhões de euros que seriam arrecadados com a taxa extraordinária, visando a extinção da dívida tarifária do Sistema Elétrico Nacional, caberia à EDP pagar cerca de 60 milhões de euros. A mesma empresa onde trabalham vários ex-governantes do PS.

Desde logo António Vitorino, ex-ministro da Defesa Nacional, que é membro do Conselho Geral e de Supervisão da EDP e presidente da Mesa da Assembleia Geral da EDP. O vice-presidente do Conselho Geral e de Supervisão da EDP é Luís Amado, outro ex-ministro da Defesa Nacional (e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros) em governos do PS.

Augusto Mateus, ex-ministro da Economia, também integra o Conselho Geral e de Supervisão da EDP. Quanto a Francisco Seixas da Costa, ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus, desde abril de 2016 que exerce o cargo de administrador não-executivo da EDP Renováveis, onde estão concentrados os negócios da EDP no setor das energias renováveis.

Por sua vez, João Marques da Cruz (administrador executivo da EDP) não é um ex-governante, mas é um militante do PS e apoiante de Costa. Na noite de 28 de setembro de 2014, Marques da Cruz festejou a vitória de Costa nas eleições diretas contra António José Seguro, empunhando uma bandeira do PS junto ao Fórum Lisboa (quartel-general da candidatura de Costa), como relatou na altura a Rádio Renascença.

“Estas eleições são a prova de que quando os partidos se abrem às pessoas, a adesão é sempre boa. Nasce um novo ciclo para o PS e para o país”, disse Marques da Cruz. “Numa campanha em que as acusações de promiscuidade entre negócios e política foram feitas a António Costa, nomeando apoiantes que o personificam, sendo Marques da Cruz administrador da EDP, não se sentiu atingido?”, perguntou a jornalista da Rádio Renascença. “Separo totalmente as minhas responsabilidades como cidadão e profissionais. Estou cá como cidadão,“ respondeu Marques da Cruz.

Enquanto administrador da EDP, desta vez Marques da Cruz também terá festejado a vitória de Costa sobre a proposta do BE, negociada por Jorge Seguro Sanches, atual secretário de Estado da Energia (e, por ironia do destino, primo de António José Seguro).

Muitos outros ex-governantes ou ex-políticos (do PS, como do PSD e do CDS-PP) foram recrutados pela EDP (antes e depois da privatização) ao longo das últimas décadas. Por exemplo, o atual presidente executivo da EDP, António Mexia, foi ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações num Governo de coligação entre o PSD e o CDS-PP. Aliás, Mexia foi nomeado presidente do Conselho de Administração da EDP em 2005, menos de um ano depois de ter cessado funções governativas. E o presidente do Conselho Geral e de Supervisão, Eduardo Catroga, foi ministro das Finanças do PSD.

Mais discreta foi a passagem de Vital Moreira (ex-deputado e ex-eurodeputado do PS) pelo Conselho de Supervisão da EDP, entre 2007 e 2009. Curiosamente, Moreira foi uma das vozes do PS que alertaram nos últimos dias para os riscos inerentes à proposta do BE. “Iria gerar seguramente pedidos de indemnização por responsabilidade extracontratual do Estado,“ sublinhou Moreira no dia 28 de novembro, em texto publicado no blogue “Causa Nossa”.

“Que o BE tenha congeminado esta brilhante solução de ‘expropriação por via fiscal’, isso faz parte do irresponsável radicalismo antinegócios, típico da agremiação. Que o PS se tenha associado a ela até quase ao final, caindo na tentação da leviandade política, de que só à última hora recuou, já é bastante mais inquietante. Afinal, o esquerdismo pega-se por contacto”, escreveu Moreira, antigo militante do PCP.

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