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Passos questiona défice sem medidas extra e Costa responde com o “diabo”

O líder do PSD disse hoje que o défice de 2016 seria de 3,4%, descontadas as medidas extraordinárias e os cortes no investimento público planeado pelo Governo, e questionou António Costa sobre qual seria o valor sem estas medidas.
Rafael Marchante/Reuters
27 Janeiro 2017, 12h08

Na resposta, o primeiro-ministro, António Costa, contrapôs, primeiro, que o saldo primário melhorou no ano passado 747 milhões de euros em relação à execução orçamental de 2015.

Perante a insistência de Pedro Passos Coelho, na sua intervenção no debate quinzenal no parlamento, de qual seria o valor do défice sem recursos a medidas extraordinárias, António Costa respondeu: “Senhor deputado, terá a resposta quando o diabo cá chegar”, disse, provocando protestos na bancada do PSD.

Num debate muito tenso entre o primeiro-ministro e o líder da oposição, Passos Coelho voltou a acusar o Governo de viver num mundo de “fantasias e faz de conta”, nomeadamente no que diz respeito ao valor do défice de 2016, que António Costa já disse que não será superior a 2,3%.

“Se tivermos em conta que o Governo cortou qualquer coisa como 956 milhões de euros ao investimento que tinha planeado, (…) se contarmos com os 500 milhões de euros de encaixe extraordinário do Peres [programa extraordinário de regularização de dívidas], se contarmos com a reavaliação de ativos extraordinária de 125 milhões de euros, se contarmos com as cativações definitivas de 445 milhões de euros, somos levados, por uma conta simples, a considerar que o défice estaria em 3,4% do Produto Interno Bruto”, detalhou Passos Coelho.

Na resposta, o primeiro-ministro acusou o líder do PSD de “azedume relativamente ao sucesso do país” e de ter aderido “à nova doutrina dos factos alternativos”, numa referência a uma expressão utilizada pelo gabinete do novo presidente norte-americano Donald Trump.

“Quando o crescimento aumenta, afinal diminui, quando o desemprego desce, afinal sobe”, criticou.

António Costa salientou que o Governo conseguirá ter o défice mais baixo dos últimos 42 anos “repondo salários, pensões, baixando a carga fiscal”.

“Não só tivemos melhores resultados, tivemos melhores resultados com uma política diferente da sua”, acrescentou o primeiro-ministro.

Passos Coelho e António Costa divergiram também em matéria de crescimento, com o líder da oposição a salientar que o atual Governo beneficiou da dinâmica da economia em 2015 — quando PSD e CDS-PP eram Governo -, ao que o primeiro-ministro respondeu com a desaceleração da economia no segundo semestre de 2015.

Ao longo do debate entre os dois, o presidente do PSD foi insistindo com o primeiro-ministro para que respondesse à pergunta sobre o valor do défice de 2016 corrigido de medidas extraordinárias, levando o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, a intervir, dizendo que “há conclusões políticas a tirar quer da resposta quer da não resposta”.

“Tenho a certeza que o senhor primeiro-ministro não precisa da sua ajuda para mostrar a sua ignorância, não responde porque não sabe”, acusou Passos Coelho, dizendo que o resultado de 2016 se deve a cortes em áreas como a saúde ou educação.

O líder do PSD acusou ainda António Costa de “rebaixar o debate” e lamentou que o primeiro-ministro não tenha estado presente no debate das apreciações parlamentares de BE e PCP sobre a eliminação da Taxa Social Única (TSU), que o PSD votou favoravelmente.

“Conte mesmo que o PSD está na oposição e não está na oposição nem para fazer a vida fácil ao Governo, nem para substituir o PCP e o BE quando lhe falharem. Quando precisar do PSD para negociar alguma coisa importante primeiro peça”, disse Passos Coelho, numa intervenção aplaudida de pé pela sua bancada.

Na resposta, Costa acusou Passos Coelho de “ficar zangado com tudo o que corre bem ao país”.

“A alegria que dá à sua bancada é o desgosto que dá a todos os trabalhadores portugueses que vão beneficiar de aumento do Salário Mínimo Nacional”, disse o primeiro-ministro.

António Costa fez ainda questão de dizer que a Escola Alexandre Herculano, que fechou portas no Porto depois de chover em algumas salas, tinha necessidade de obras que, segundo o primeiro-ministro, deveriam ter sido feitas pelo Governo anterior.

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