Passaram pouco mais de 26 anos desde que o HAL 9000 se tornou operacional, a 12 de janeiro de 1992, na fábrica de Urbana, no Estado do Ilinóis, nos Estados Unidos da América. O Heuristically programmed ALgorithmic Computer era a inteligência artificial que controlava a nave espacial Discovery. Tinha a capacidade de falar, ler lábios, interpretar emoções, sentir e jogar xadrez. Imaginado por Arthur C. Clarke e tornado famoso como protagonista de “2001: Odisseia no Espaço”, filme de Stanley Kubrick, de 1968, nunca aconteceu. Nem a rede Skynet, o verdadeiro vilão da série de filmes “Exterminador”, que ganhou consciência às 02h14 de 29 de agosto de 1997, hora do Este, nos EUA (em Portugal eram 06h14). Ou, na realidade alternativa – em que, apesar de todas as peripécias, o “Dia do Julgamento Final” foi apenas adiado -, passou a estar online às 05h18 da tarde do dia 25 de julho de 2004 (já noite em Portugal), ganhando consciência pouco depois disso e lançando um ataque nuclear de larga escala. Nada disto se tornou história e as máquinas não ganharam consciência, como nos filmes. Nem sequer quando a conceituada Harvard Business Review perguntava, em 2011, se teríamos já construído o HAL 9000, porque a gigante da informática IBM criou o Watson, o computador que conseguiu bater os campeões do concurso televisivo de cultura geral “Jeopardy!”, similar ao “Quem quer ser milionário?” que é transmitido pela RTP.
O futuro das máquinas independentes
Mas o tempo passou e, repentinamente, a chamada “singularidade” é um assunto transversal e objeto de receio, sendo tema de reflexão na academia, mas também de pensamento popular, ou não tivesse sido assunto para o último livro de Dan Brown ou para um filme hollywoodesco – intitulado, exatamente, “Singularidade” -, em que Johnny Depp consegue transferir-se para a rede de comunicações que liga computadores e servidores em todo o mundo. A “singularidade tecnológica” postula que o progresso tecnológico será de tal ordem rápido que fará com que as máquinas se tornem independentes do homem ou se combinem com este numa nova espécie. O termo “singularidade” refere-se, na física ou na matemática, a pontos de rutura ou inflexão. Neste caso, indica o momento em que a inteligência artificial ganha consciência e se torna independente. Vernor Vinge introduziu o conceito, primeiro, nos seus livros de ficção científica, e depois, também, no meio científico, enquanto membro do Departamento de Ciências Matemáticas da Universidade de San Diego, na Califórnia, com um estudo de 1993 intitulado “A singularidade tecnológica vindoura: como sobreviver na era pós-humana”. No abstract, Vinge aponta que “dentro de trinta anos, teremos os meios tecnológicos para criar inteligência sobre humana. Um pouco depois, a era humana terá terminado”. Pois bem, desde que esta profecia foi feita passaram vinte e cinco anos, tempo suficiente para assistirmos a desenvolvimentos tecnológicos fulgurantes que antes julgávamos ser do campo da ficção científica e que, agora, os próprios cientistas olham com preocupação. A 1 de maio de 2014, o conceituado físico britânico Stephen Hawking escreve um artigo no jornal “The Independente”, onde alerta para os perigos do desenvolvimento da inteligência artificial. É secundado por outros cientistas, como o Nobel da Física Frank Wilczeck. Em pouco tempo, é seguido por outros cientistas, mas também por empresários ligados à informática – Bill Gates -, à tecnologia – Elon Musk. A preocupação cresce e consubstancia-se numa carta aberta assinada por mais de 150 personalidades. Pede-se atenção e recomenda-se que a pesquisa torne os sistemas de “inteligência artificial cada vez mais robustos e benéficos”. Assinam as personalidades já referidas e outras, como o cofundador da Apple Steve Wozniak, o cofundador da Deepmind Demis Hassabis e Huw Price, atual dono da cátedra Bertrand Russel na Faculdade de Filosofia de Cambridge. A lista inclui, também, Vernor Vinge. E entre as linhas do documento sobre as prioridades que devem ser impostas à inteligência artificial, existe um capítulo sobre “controlo”, em que se alerta para os perigos dos mecanismos autónomos, capazes de decidir sem intervenção humana e capazes de evitar serem encerrados. Como o HAL 9000 ou o Skynet.