Jornalistas do “The New York Times” e da “The New Yorker” receberam hoje o Prémio Pulitzer, a distinção mais elevada do jornalismo nos EUA, pela sua cobertura do caso Harvey Weinstein, que revelaram no início de outubro. Jodi Kantor e Megan Twohey, do diário, e Ronan Farrow, da revista, foram distinguidos na categoria mais prestigiada, a do ‘jornalismo de serviço público’, deste prémio, cujas distinções foram atribuídas hoje, na Universidade nova-iorquina de Columbia.
O primeiro artigo do “New York Times” sobre o assunto, publicado a 5 de outubro, teve o efeito de uma bomba. No texto eram citados testemunhos de várias mulheres, que afirmavam que tinham sido assediadas pelo produtor de Hollywood, criador do Estúdio Miramax, designadamente a atriz Ashley Judd.
Relatava ainda a existência de um acordo entre Harvey Weinstein e outra atriz, Rose McGowan, mediante o qual aquele pagou 100 mil dólares em troca do silêncio desta, a propósito de uma situação ocorrida em 1997.
Mais tarde, a atriz garantiu ter-se tratado de uma violação. Apenas cinco dias depois da publicação do artigo do “New York Times”, a “New Yorker” colocava em linha um artigo longo com outras acusações a Harvey Weinstein.
Três mulheres, designadamente a atriz italiana Asia Argento, afirmavam ter sido violadas pelo produtor que transformou o cinema de Hollywood, ao apostar em filmes diferentes, que não entravam nos critérios dos grandes estúdios.
Nos dois artigos, o magnata do cinema era descrito como um predador sexual, usando do seu poder e beneficiando da compreensão, senão da cumplicidade, de parte dos seus colaboradores.
Estas revelações libertaram a palavra a antigas alegadas vítimas de Harvey Weinstein, que já são mais de 100 a ter acusado o produtor.
No seguimento do escândalo sucederam-se várias denúncias em diferentes setores de atividade, que fizeram cair dezenas de homens com poder no cinema, mas também na política, na televisão e na comunicação social.
Um destes foi o ex-candidato republicano a governador do Estado do Alabama, Roy Moore, acusado de agressões sexuais a menores.
O “Washington Post” foi o primeiro a publicar o testemunho de quatro mulheres, que se apresentaram como vítimas deste antigo juiz ultraconservador. Hoje, o diário de Washington foi distinguido na categoria ‘jornalismo de investigação’, pela série de artigos sobre este ex-juiz.
O mesmo assunto motivou a atribuição ao colunista John Archibald, do Alabama Media Group, do Pulitzer na categoria de ‘comentário’.
O “New York Times” e o “The Washington Post” foram também premiados na categoria de ‘reportagem nacional’ pelos trabalhos sobre a investigação aos eventuais contactos entre os dirigentes da campanha eleitoral de Donald Trump e representantes do Kremlin.
O californiano “Press Democrat of Santa Rosa” recebeu o galardão na categoria de ‘breaking news’, pela cobertura dos incêndios devastadores na região vinícola do Estado.
Outros premiados foram o fotógrafo Ryan Kelly, com a foto que fez, no seu último dia de trabalho no “The Daily Progress”, de Charlottesville, no Estado da Virgínia, do momento em que um carro atropelou várias pessoas que protestavam contra uma manifestação de supremacistas brancos.
Uma série de reportagens, durante uma semana, sobre o impacto do consumo de heroína numa comunidade local permitiu ao “Cincinnati Enquirer” receber o Pulitzer da ‘reportagem local’. O trabalho “Seven Days of Heroin” (“Sete Dias de Heroína”) combinou mais de 60 jornalistas para a elaboração de histórias através dos olhos das famílias, de socorristas, oficiais de justiça e outras perspetivas.
Por outro lado, Andrew Sean Greer recebeu o prémio na categoria de ‘ficção’, Martyna Majok de ‘drama’, Carolyn Fraser de ‘biografia’, James Forman Jr na ‘não ficção’, Jack E. Davis na de ‘História’ e Frank Bidart na ‘poesia’. O ‘rapper’ Kendrick Lamar recebeu o prémio na categoria de ‘música’.
Os prémios Pulitzer distinguem o melhor jornalismo em jornais, revistas e sítios na Internet. Existem 14 categorias para reportagem, fotografia, crítica e comentário. Nas artes, os prémios são atribuídos em sete categorias, incluindo ficção, drama e música.
Os primeiros prémios de jornalismo foram atribuídos em 1917, incluindo um ao New York Tribune por um editorial sobre o primeiro aniversário do afundamento do navio Lusitânia, afundado por um submarino nazi. Também nesse ano, duas filhas da abolicionista Julia Ward Howe foram premiadas por uma biografia da sua mãe, numa altura em que as mulheres não podiam votar e o mundo literário era dominado por homens.
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