“O primeiro país que eu fui em África foi o Quénia e Cabo Verde sempre foi esse sonho por se parecer muito com o Brasil, eu me vejo como um espelho aqui e então foi um sonho realizado”, afirmou a cantora e compositora brasileira aos jornalistas, após atuar na segunda noite do Kriol Jazz Festival (KJF), na cidade da Praia.
Conhecida como a brasileira mais africana do Brasil, Luedji Luna já atuou ao lado de “lendas” da música popular brasileira, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Ivete Sangalo. Luna disse que foi levar o seu país a Cabo Verde, que mesmo assim constatou que já tem uma intimidade e uma “relação bonita” com o Brasil.
“Eu já entrei em vários táxis e escutei a música brasileira e fiquei impressionada como é que a música brasileira chega aqui com força”, afirmou a cantora natural de Salvador da Baía, esperando conhecer vários sítios emblemáticos, a noite e a cultura cabo-verdiana.
Constatando uma saudade e uma melancolia no canto preto e na música popular brasileira e uma colonização parecida, a cantora disse que tem Cesária Évora como a primeira referência em Cabo Verde, mas também indicou a Mayra Andrade, Dino de Santiago, com quem já fez uma música que vai ser lançada brevemente.
“Quero conhecer mais e mais da noite, da cultura, da vida cabo-verdiana. Não gosto de viajar a turismo, gosto de conhecer Cabo Verde a partir do olhar da pessoa, do nativo”, disse Luna, classificando de boa a relação cultural na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
“Eu acho que o Brasil tem essa ponte invisível e essa ligação ancestral. Temos uma saudade, essa vontade, esse sonho do tataravô de retornar, de pisar na terra mãe”, prosseguiu, lembrando a história comum entre esses países de miscigenação de vários povos africanos com portugueses, originando muitas semelhanças culturais e até físicas.
Sobre a atuação na 12.ª edição do Kriol Jazz Festival (KJF), disse que foi perante um público quente, com muita gente sentada, mas também de pé e empolgada, e também muita gente observadora, mais reflexiva, mas que a “abraçou” e contou as suas músicas.
Para a cantora, o festival, considerado um dos melhores de jazz do mundo e um dos mais emblemáticos do continente africano, é “muito plural, diverso”, com atrações diferentes, com a particularidade de ser “música do coração”.
Luedji Luna estudou música na Escola Baiana de Canto Popular e aos 34 anos já conta com dois álbuns (Um Corpo no Mundo – 2017 e Bom mesmo é estar Debaixo d’Água – 2021) e diversas indicações e prémios, tornando-se numa referência da música popular brasileira contemporânea.
Além da brasileira, na noite de sexta-feira passaram pelo palco do festival Tcheka (Cabo Verde), Roosevelt Collier (Estados Unidos) e Bamba Wassoulou (Mali).
O festival termina hoje com as atuações de Lucibela (Cabo Verde), Dee Dee Bridgewater (Estados Unidos), Asa (Nigéria) e Doctor Prats (Espanha).
O KJF arrancou na quinta-feira, com a Orquestra Baobab (Senegal) e Pamela Bagadjogo (Gabão), na mesma noite em que terminou o Atlantic Music Expo (AME), a maior feira de música do arquipélago.
Em 2014, o Kriol Jazz foi nomeado pela revista Songlines como um dos melhores 25 festivais do mundo, e já é parte do calendário cultural e turístico da cidade da Praia e de Cabo Verde, tendo colocado o país na rota da ‘world music’.
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