O antigo administrador da TAP Diogo Lacerda Machado, que ficou conhecido como o estratega que permitiu a reversão parcial da privatização da TAP, será ouvido esta quinta-feira na comissão parlamentar de inquérito à tutela política da companhia aérea. Machado já foi ouvido pelos deputados esta semana na comissão de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação, a pedido do Partido Socialista.
Depois do ex-acionista Humberto Pedrosa, dono do grupo Barraqueiro, e do ex-CEO interino e atual COO da transportadora, Ramiro Sequeira, é a vez de Lacerda Machado responder à comissão de inquérito, que a partir de quarta-feira passou a ser liderada pelo socialista António Lacerda Sales, que assumiu as lides da comissão parlamentar depois de Jorge Seguro Sanches bater com a porta horas antes.
O anterior presidente excusou-se de continuar nos trabalhos depois de uma acesa discussão em torno das grelhas de inquérito e dos tempos de que cada grupo parlamentar dispõe para inquirir os convidados.
Na sua audição, na terça-feira, Lacerda Machado disse que o pagamento de 55 milhões de euros a David Neeleman aquando da saída deste do capital da TAP, não foi pago pela empresa mas sim pela Direção-Geral do Tesouro e Finanças (DGTF) — que já foi ouvida nesta comissão de inquérito. Resta saber se será chamada de novo para esclarecer este ponto.
Recorde-se que Neeleman saiu aquando da reversão da privatização e levou a simpática quantia amíude de alguma controvérsia relacionada com os chamados fundos Airbus. A fabricante terá ‘emprestado’ ao empresário quase 230 milhões de euros para adquirir a participação acionista da TAP – um empréstimo que o ex-acionista Humberto Pedrosa classificou como ‘doação’.
Pedrosa, por exemplo, entrou com cinco milhões de capital próprio e deixou na TAP mais de 12 milhões em prestações acessórias, tendo inclusive efetuado linhas de crédito em garantia pessoal para pagar, entre outras coisas, salários na TAP, logo no primeiro mês de gestão privada, revelou o empresário português esta terça-feira. No momento de saída, não reaveu qualquer valor, mas diz que “não chorou” o “dinheiro que ficou na TAP” e que até investeria novamente na companhia.
Lacerda Machado esteve na administração da TAP até março de 2021, quando Ramiro Sequeira segurava as rédeas executivas e três meses antes de ser contratada Christine Ourmières-Widener.
Sobre os polémicos fundos Airbus, Machado esclareceu esta semana só teve conhecimento da renegociação do contrato para a compra de 53 aeronaves A330, ao invés de 12 A350, em 2016 — quando já decorria o processo de renegociação da participação pública da empresa.
O requerimento para ouvir o antigo administrador nesta comissão dá-se depois de várias notícias terem referido que a privatização da TAP em 2015 foi ganha por Beeleman com dinheiro da própria empresa. De acordo com Eurico Brilhante Dias (PS), podem estar em causa contornos criminosos, desde logo de assistência financeira e gestão danosa.
A audição de Lacerda Machado tem arranque agendado para as 17h00 e terá transmissão na ARTV.
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