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Receitas dos juros podem ter atingido o pico nalguns bancos portugueses no semestre, diz DBRS

A agência de notação financeira canadiana prevê que o recente anúncio de que Itália iria criar um imposto sobre os lucros extraordinários dos bancos “pode reacender o debate político em Portugal” sobre a taxa.
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22 Agosto 2023, 09h35

A agência de notação financeira DBRS considera que os lucros dos principais bancos portugueses – que aumentaram cerca de 50% em termos homólogos, no primeiro semestre de 2023, para 1.946 milhões de euros – foram sustentados pelo aumento da receita líquida dos juros.

Analisando as contas da Caixa Geral de Depósitos (CGD), do Banco Comercial Português (BCP), do Novobanco, do Montepio, do BPI e do Santander Totta (Totta), os seis bancos nacionais que já revelaram as suas contas do primeiro semestre, a DBRS lembra que os resultados foram sustentados por um forte aumento da margem financeira líquida (NII), compensando um aumento das provisões, menores receitas de comissões e maiores custos operacionais.

Os resultados de seis bancos portugueses beneficiaram da subida da margem financeira (NII – Net Interest Income), compensando o aumento nas provisões, menos receitas de comissões e custos operacionais mais elevados, assinala esta terça-feira a agência de rating canadiana. De facto, nos primeiros seis meses de 2023, a receita de margem financeira aumentou cerca de 73% em comparação com o mesmo período do ano passado.

Numa base trimestral, o resultado líquido aumentou para 991 milhões no segundo trimestre de 2023, face a 672 milhões no segundo trimestre de 2022.

Segundo a DBRS, deveu-se mesmo só ao aumento das taxas de juro, uma vez que os ativos continuaram a ser reavaliados a um ritmo mais rápido do que os depósitos.

A DBRS deixa alertas. “No futuro, esperamos que os resultados dos bancos portugueses permaneçam sólidos, mas poderá surgir alguma pressão”, refere a agência de rating.

A qualidade dos ativos manteve-se, em grande medida, resiliente por enquanto, com os NPL – Non Performing Loans (malparado) a manterem-se estáveis ou mesmo a diminuírem em alguns bancos, “mas continuamos a esperar alguma deterioração da qualidade dos ativos a médio prazo”, refere a DBRS.

A economia portuguesa continua a ser sólida, lembra a agência de rating canadiana que alerta para a persistência de taxas de juro elevadas e para a inflação elevada que poderão afetar a confiança dos consumidores e os investimentos e, em última análise, afetar o acesso ao crédito, contribuindo para uma maior formação de NPL (créditos improdutivos) a médio prazo.

Nicola de Caro, vice-presidente sénior da equipa de Instituições Financeiras Globais da DBRS Morningstar, começou por destacar que “os resultados beneficiaram de um forte aumento da receita líquida de juros devido ao aumento das taxas de juro”, referindo de seguida que o grupo antecipa “que os resultados dos bancos portugueses permaneçam sólidos, mas poderá surgir alguma pressão”.

O especialista da DBRS explica que “o crescimento desta receita pode ter atingido o pico em alguns bancos ou estar próximo do pico para outros, devido a uma possível estabilização das taxas de juro, a um abrandamento nos novos volumes de empréstimos e a aumentos na remuneração dos depósitos nos próximos trimestres”. “Até agora, a reavaliação dos depósitos tem sido mais lenta do que a reavaliação dos ativos”, acrescenta Nicola de Caro na análise.

A DBRS fala ainda da possibilidade de o debate político em torno de uma nova taxa sobre o lucro das instituições bancárias regressar à boleia do sucedido em Roma.

“Para já, esta possibilidade foi excluída, no entanto, os recentes desenvolvimentos em Itália, onde o Governo, a 7 de agosto, anunciou inesperadamente um novo imposto sobre os lucros extraordinários dos bancos italianos, que consiste numa taxa sobre o aumento da receita de margem financeira, podem reacender o debate político em Portugal”, defende a DBRS.

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