Assinalam-se esta quinta-feira, 25 de abril de 2024, do golpe militar que levou Portugal a instaurar uma democracia. Atualmente, os portugueses vivem há mais tempo em democracia do que a ditadura e o Estado Novo duraram (48 anos).
Há meio século os portugueses viviam a Revolução dos Cravos e hoje empunham cravos e gritam liberdade. Lá fora, a imprensa internacional dá conta das operações militares que acabaram com o regime autoritário.
Por exemplo, o “El Pais” lembra os cinco mil soldados que saíram à rua na noite de 24 para 25 de abril de 1974. “Cada um deles desempenhou um papel crucial ou secundário para contribuir para o sucesso daquela missão histórica, que se desdobrou sem violência”, escreve a jornalista.
A espanhola Tereixa Constenla recorda que os cidadãos se juntaram aos militares para impedir um retrocesso de toda a situação que vinha a acontecer desde a primeira senha radiofónica.
Este jornal falou ainda com alguns dos nomes que viram a revolução a acontecer à sua frente. Falou com José Alves da Costa, que recebeu a distinção de Grão-Mestre da Ordem da Liberdade, por se ter recusado a disparar sobre as tropas que acompanhavam Salgueiro Maia, também com Manuel Correia Silva, que vigiou Marcello Caetano no veículo blindado após este se ter rendido aos militares, e ainda com José Manuel Costa Neves, que liderou toda a ocupação do Rádio Clube Português, onde o Movimento das Forças Armadas transmitiu as comunicações a partir das 4h26 da manhã do dia da liberdade.
Noutro texto, ainda evocando a liberdade portuguesa, a jornalista espanhola lembra o que foi atingido no ano em que se celebra a democracia: “Por cada ano de democracia portuguesa há um deputado da extrema-direita na Assembleia da República. Cinquenta anos e cinquenta deputados. Uma coincidência casual que, no entanto, expõe a contradição que hoje vive a sociedade portuguesa, orgulhosa da democracia que conquistou em 1974 e surpreendida com o crescimento dos desencantados que abraçaram o populismo de direita”.
Já o francês “Le Monde” inspira-se numa fotografia de 1 de maio de 1974, dias depois da Revolução dos Cravos, onde a liberdade já era sentida. Socorrendo-se de imagens tiradas por Gérald Bloncourt, que partiu para Lisboa quando as notícias do movimento se espalharam, o jornalista Guillaume Delacroix falou com José Vieira, amigo do fotógrafo.
A esta publicação, o português, atualmente com 66 anos, lembra que “as multidões hipnotizadas” anteriormente por Salazar, quem apelida de “espécie de padre com voz de falsete”, se “transformaram num povo em marcha, a gritar palavras de ordem” a partir do 25 de Abril.
Na mesma publicação, a jornalista Raphaëlle Rérolle dá o mote: “Há 50 anos, a Revolução dos Cravos acabou com a ditadura de Portugal numa noite”. No entanto, não foi fácil, como lhe contaram os intervenientes.
A “Reuters” opta por fazer uma visita rápida ao golpe dos Capitães de Abril, destacando as celebrações do dia em que a democracia portuguesa completa 50 anos. A agência regressa ao início desta quinta-feira, quando as duas fragatas da Marinha nacional atracaram no Tejo, em conjunto com os veículos e militares na Praça do Comércio.
Na reportagem fotográfica, a “Reuters” acompanha os militares vivos à boleia da ‘Bula’, aquele que é o chaimite mais reconhecido da revolução.
Por sua vez, a “BBC” dá destaque às músicas de Abril: “E Depois do Adeus” de Paulo de Carvalho e “Grândola, Vila Morena” de Zeca Afonso.
“Os militares escolheram especificamente a música ‘E Depois do Adeus’ porque não era controversa. Foi ao Festival da Eurovisão nesse ano [1974]. A segunda foi ‘Grândola, Vila Morena’. A ideia era os militares esperarem por um determinado momento e quando ouvissem essa música na rádio e saberem que era o sinal para avançar com o golpe”, diz Alex Fernandes, autor do livro “The Carnation Revolution”.
À publicação britânica, Alex Fernandes explicou o momento em que Celeste Caeiro deu um cravo a um militar que lhe tinha pedido um cigarro e este colocou o símbolo da liberdade na espingarda e batizou o dia em que Portugal colocava um ponto final naquele que permanece até aos dias de hoje como o “mais longe regime fascista da Europa”.
Assim, 50 anos depois, a imprensa internacional lembra um dos dias mais importantes para a democracia portuguesa.
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