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BCP com lucros de 234,2 milhões no primeiro trimestre a subirem 8,4% ajudado pelas menores provisões

A rentabilidade dos capitais próprios caiu de 17% para 15%. Olhando só para a atividade em Portugal os lucros ascenderam a 203,5 milhões aumentando 18,4% face ao mesmo período de 2023.
Cristina Bernardo
15 Maio 2024, 17h06

O BCP registou lucros no primeiro trimestre de 234,3 milhões de euros, o que traduz um aumento de 8,4% face ao mesmo período do ano anterior (216,1 milhões).

A rentabilidade dos capitais próprios (ROE) fixou-se em 15,0%, “acima do custo de capital”, disse o presidente do banco, Miguel Maya, que desvalorizou o facto de a rentabilidade ter caído face ao rácio de 17,0% no último ano.

O resultado operacional core do Grupo ascendeu a 584,6 milhões de euros no primeiro trimestre de 2024, ou sejam -1,2% do que o alcançado no trimestre homólogo do ano anterior, por causa da subida dos custos superior à subida das receitas.

O banco destaca o aumento de 3,8% registado nos proveitos core, de 860,0 milhões de euros no primeiro trimestre de 2023 para 892,6 milhões de euros no primeiro trimestre de 2024, contribuiu em larga medida para o desempenho favorável do resultado do Grupo,beneficiando sobretudo da evolução da margem financeira na atividade internacional, nomeadamente na subsidiária polaca”.

O Millennium BCP destaca que para o crescimento do resultado líquido do Grupo “contribuiu largamente a evolução favorável das outras imparidades e provisões, de 237,7 milhões de euros no primeiro trimestre de 2023, para 145,2 milhões de euros no primeiro trimestre de 2024″. Ora, este desempenho reflete, maioritariamente, a redução das provisões adicionais para fazer face ao risco de litigância implícito na carteira de créditos hipotecários em moeda estrangeira na subsidiária polaca (-57,1 milhões de euros, de 174,5 milhões de euros para 117,4 milhões de euros).

Os lucros consolidados do banco tiveram ajuda da redução das imparidades e provisões. O mesmo aconteceu em Portugal.

Em Portugal os lucros ascenderam a 203,5 milhões aumentando 18,4% face ao mesmo período de 2023.

“A evolução do resultado líquido na atividade em Portugal beneficiou da redução das imparidades e provisões verificada no último ano, com as outras imparidades e provisões a apresentarem uma diminuição de 64,4% (-31,7 milhões de euros), fixando-se em 17,5 milhões de euros no final do primeiro trimestre de 2024, enquanto a imparidade do crédito se situou 12,9% abaixo (-6,8 milhões de euros) do montante reconhecido no primeiro trimestre de 2023, totalizando 46,2 milhões de euros no primeiro trimestre deste ano”, lê-se no comunicado.

A evolução do perfil de risco da carteira de crédito permitiu uma redução das dotações para a imparidade do crédito (líquida de recuperações), nomeadamente na atividade em Portugal, que em termos consolidados totalizou 73,5 milhões de euros, situando-se 6,9 milhões de euros abaixo (-8,5%) do montante apurado no primeiro trimestre de 2023.

O BCP diz ainda que o resultado líquido da atividade em Portugal foi condicionado pelo desempenho dos resultados em operações financeiras (-14,5 milhões de euros, passando de um proveito de 10,2 milhões de euros para 4,3 milhões de euros negativos), pelo aumento de 5,5% (+8,1 milhões de euros) registado nos custos operacionais e pela quebra de 34,9% (-4,9 milhões de euros) registada nos resultados por equivalência patrimonial.

O custo do risco de crédito caiu 31,2% para 0,52%. Em Portugal o custo do risco melhorou de 0,53% para 0,48%.

Na conta de resultados, a margem financeira atingiu o pico no quarto trimestre de 2023, mas nem por isso o banco liderado por Miguel Maya sofreu um impacto muito pesado na conta de resultados. Ainda assim o produto bancário caiu 13,1% para 868,8 milhões de euros.

A margem financeira no primeiro trimestre subiu num ano 4,8% para 696,2 milhões de euros.

No entanto em Portugal a receita de juros caiu 0,2%, para 339,1 milhões, por causa da normalização dos juros dos depósitos, explicou o CEO.

No consolidado as comissões subiram 0,5% para 196,4 milhões de euros, sendo que na atividade doméstica esta receita caiu também 0,2% para 141,4 milhões.

Os custos agravaram 14,7% para 308,1 milhões de euros na atividade consolidada e em Portugal subiram 5,5% para 154,6 milhões. Com isto o cost-to-income (eficiência) piorou de 31% para 35% no consolidado e em Portugal de 21% para 29%.

O agravamento dos custos reflete maioritariamente o aumento dos custos operacionais na atividade internacional (+25,8%, de 122,1 milhões para 153,5 milhões de euros), pese embora na atividade em Portugal também se tenha registado um aumento, ainda que de menor expressão (+5,5%, de 146,4 milhões para 154,6 milhões de euros).

Na atividade em Portugal, a evolução os custos operacionais foi assim determinada pelo crescimento de 6,0 milhões de euros (+7,5%) registado nos custos com o pessoal e pelo aumento de 2,2 milhões de euros (+4,5%) dos outros gastos administrativos.

Na área internacional, o banco destaca que o seu banco polaco, Bank Millennium, registou o sexto trimestre consecutivo com resultados positivos. No primeiro trimestre de 2024, o resultado líquido foi de 29,7 milhões de euros, apesar dos encargos de 190,91 milhões de euros associados à carteira de créditos hipotecários em francos suíços (dos quais 117,42 milhões de euros de provisões).

“Importa salientar que a evolução do resultado líquido da atividade internacional, e consequentemente do Grupo, face ao primeiro trimestre do ano anterior, foi influenciada pelo ganho extraordinário registado nesse período, no montante de 127,02 milhões de euros associado à venda, por parte do Bank Millennium, de 80% das ações da Millennium Financial Services no âmbito da parceria estratégica na área de bancassurance”, refere o banco.

Por sua vez,  o Millennium BIM em Moçambique obteve um resultado de 22,6 milhões de euros no primeiro trimestre do ano.

O maior banco privado revelou também uma redução do volume de negócios. Em Portugal o banco deu menos 1,53 mil milhões em crédito. 

A redução do volume de negócio “era expectável” num contexto de política monetária restritiva, defendeu Miguel Maya.

A carteira de crédito (bruto) consolidada do BCP cifrou-se em 56.822 milhões de euros em 31 de março de 2024, fixando-se 0,8% abaixo dos 57.290 milhões de euros apurados no final do primeiro trimestre de 2023. “Esta evolução reflete a redução verificada na atividade em Portugal, embora o aumento registado na atividade internacional tenha compensado parcialmente a referida redução”, acrescenta o banco.

Na atividade em Portugal, o crédito a clientes (crédito bruto) fixou-se em 38.409 milhões de euros em 31 de março de 2024, situando-se 3,8% abaixo dos 39.937 milhões apurados no final do primeiro trimestre de 2023.

“A diminuição da carteira de crédito resulta de um menor nível de crédito performing e de uma redução das non performing exposures (NPE) (menos 1.336 milhões e menos 192 milhões de euros face a igual período do ano anterior, respetivamente)”, acrescenta o BCP.

O crédito a particulares na atividade em Portugal cifrou-se em 21.217 milhões de euros em 31 de março de 2024, fixando-se ligeiramente acima dos 21.115 milhões de euros registados em 31 de março de 2023. Por segmentos, verificou-se um aumento do crédito pessoal (mais 177 milhões de euros face ao valor registado no final do primeiro trimestre de 2023) e uma ligeira redução do crédito hipotecário (menos 75 milhões de euros do que no período homólogo do ano anterior) devido ao aumento das amortizações e liquidações antecipadas.

Já o crédito a empresas na atividade em Portugal ascendeu a 17.192 milhões de euros no final do primeiro trimestre de 2024, fixando-se num valor abaixo dos 18.822 milhões registados no período homólogo do ano anterior, devido à menor procura de crédito em virtude de taxas de juro mais elevadas e aos atrasos nos projetos de investimento, nomeadamente os co-financiados com fundos europeus.

Os recursos de clientes subiram 7,0% para 98,54 mil milhões de euros. Os depósitos à ordem e a prazo somam 80,81 mil milhões, o que traduz uma subida de 7,7%.

Os depósitos a prazo estão e rota ascendente ao contrário dos depósitos à ordem.

Na atividade em Portugal, os recursos totais de clientes alcançaram 67.977 milhões de euros em 31 de março de 2024, o que compara com 66.996 milhões de euros apurados na mesma data do ano anterior, sendo esta evolução justificada na quase totalidade pela evolução dos recursos de balanço, mais especificamente pelo aumento dos depósitos e outros recursos de clientes (mais 895 milhões de euros face ao nível registado no final do primeiro trimestre de 2023).

Na qualidade da carteira de crédito, o rácio de NPE fixou-se em 3,4%, abaixo dos 3,8% um ano antes (em Portugal desceu de 3,2% para 2,8%).

O banco destacou a redução continuada de ativos não produtivos, face a março de 2023, uma redução de 223 milhões em NPE, de 60 milhões em imóveis recebidos por recuperação (para 158 milhões) e de 43 milhões em fundos de reestruturação para 373 milhões, ou seja, uma redução de 10,3%.

A carteira líquida de imóveis recebidos por recuperação reduziuse 39,0% entre março de 2023 e março de 2024. O BCP vendeu 93 imóveis no 1º trimestre deste ano contra 181 no 1º trimestre de 2023, tendo o valor de venda excedido o valor contabilístico em dois milhões.

“O stock de NPE, em termos consolidados, diminuiu para 1.950 milhões de euros em 31 de março de 2024, apresentando uma redução de 223 milhões face ao final do primeiro trimestre de 2023, tendo o rácio de NPE em percentagem da carteira de crédito total diminuído de 3,8% para 3,4%”, acrescenta.

Na atividade em Portugal, o stock de NPE totalizava 1.087 milhões de euros no final do primeiro trimestre de 2024, “tendo sido registada uma redução de 192 milhões de euros face ao final do primeiro trimestre do ano anterior, com o rácio de NPE em percentagem da carteira de crédito total a evoluir de 3,2% para 2,8%”, sublinha o banco.

A redução face a março de 2023 resulta de 162 milhões de vendas, 107 milhões de write-offs e 77 milhões de entradas líquidas. O decréscimo de NPE face a março de 2023 é sobretudo atribuível à redução de 202 milhões dos outros NPE.

Quanto à cobertura por imparidades, a cobertura de NPL há mais de 90 dias, em termos consolidados, fixou-se em 211,1% em 31 de março de 2024, permanecendo estável face à percentagem verificada no período homólogo do ano anterior.

A cobertura de NPE por imparidade, em termos consolidados, fixou-se em 81,7% no final do primeiro trimestre de 2024, situando-se num patamar acima dos 71,1% registados em 31 de março de 2023. Em Portugal, a cobertura de NPE por imparidade situou-se em 88,6% em 31 de março de 2024, também num patamar acima do registado no ano anterior (74,3% em 31 de março de 2023).

Por fim, o reforço significativo dos rácios de capital é uma das boas notícias do trimestre. O rácio de capital CET1 de 16,0% e o rácio de capital total de 20,5%, corresponde respetivamente a um aumento de 246 pb e 255 pb face ao período homólogo, evidenciando a forte capacidade de geração orgânica de capital.

O BCP realça que os rácios de capital estão “confortavelmente acima dos requisitos regulamentares SREP, mesmo considerando a reserva para risco sistémico setorial comunicada pelo BdP que visa reforçar a resiliência do setor bancário face a uma deterioração dos preços do imobiliário residencial”.

Com referência a março de 2024, esta reserva em base proforma resulta num aumento estimado dos requisitos de fundos próprios de 29 pb, a partir de outubro de 2024.

O CEO, Miguel Maya, concluiu dizendo que “temos um banco claramente preparado para o futuro, com boa qualidade de balanço, muito robusto em termos de capital e de liquidez”.

(atualizada)

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