O Representante da República, Ireneu Barreto, acrescentou ‘mais um ponto’ à história que vai marcando a atualidade política madeirense. Ireneu Barreto afirmou, na segunda-feira, que indigitou Miguel Albuquerque como presidente do executivo, tendo por base nas informações dos partidos depois da audições que decorreram na sequência das regionais de 26 de maio, e que existiam condições para um Governo minoritário, liderado pelo PSD, na Assembleia Legislativa da Madeira.
Mas o cenário que tinha sido traçado pelos partidos a Ireneu Barreto, acabou por ser alterado, tendo em conta que houve “quem tivesse mudado” [de posição], de acordo com as palavras do Representante da República, da passada segunda-feira. Ou seja, os pressupostos que levaram Ireneu Barreto a indigitar Albuquerque foram alteradas e as garantias de estabilidade que existiriam por altura das audições aos partidos deixaram de existir.
Mas afinal, quem é que mudou de posição?
Ireneu Barreto, após a audição aos partidos, tinha indicado que existia um acordo parlamentar entre o PSD e o CDS-PP e a não hostilização do Chega, PAN, e Iniciativa Liberal.
Em termos práticos, os 19 deputados do PSD, os dois do CDS-PP, e os quatro do Chega era a única fórmula, entre os “não hostis”, que permitia aprovar o Programa de Governo e respetiva moção de confiança, para o qual são necessários pelo menos 24 deputados.
A Assembleia da Madeira tem 19 deputados do PSD, 11 do PS, nove do JPP, dois do CDS-PP, um da Iniciativa Liberal, e uma deputada do PAN.
Contudo, não foi isso que aconteceu. O líder do executivo madeirense foi forçado a retirar a votação do Programa de Governo na Assembleia da Madeira na semana passada, convocando uma reunião com os partidos na passada segunda-feira para se chegar a um acordo para um novo Programa de Governo.
O líder do Chega Madeira, Miguel Castro, disse ao Económico Madeira, que a força partidária “não mudou de posição”. Este responsável reforçou que disse ao Representante da República que “não viabilizava” nenhum Governo à esquerda mas que tinha um “problema na equação” de Albuquerque.
O líder do Chega critica ainda a postura “antidemocrática” do PS e do JPP de não se reunirem com o PSD.
Da parte do Chega, Miguel Castro diz que o partido vai continuar a “conversar, a negociar, e a ouvir” mas que não vai abdicar do que quer. “Vamos insistir, a ver se Albuquerque desiste”, disse Miguel Castro, ou seja mantém o ‘não’ a Albuquerque, enquanto presidente do executivo.
Perante a decisão de Albuquerque de retirar da votação do Programa de Governo, o JPP decidiu marcar uma audição com o Representante da República, que acabou por se realizar na passada sexta-feira, no sentido de perceber quem estaria a “mentir” face às garantias dadas por Ireneu Barreto e por Miguel Albuquerque, de que haviam condições para aprovar o Programa de Governo.
Recorde-se que o JPP e o PS tinham apresentado ao Representante da República uma solução de Governo, sem o PSD, mas a solução não convenceu Ireneu Barreto, que afirmou que esta não tinha hipótese de sucesso.
O PS e o JPP decidiram não aceitar a reunião com o Governo para se chegar a acordo a propósito de um novo Programa de Governo.
O líder do PS Madeira, Paulo Cafôfo, transmitiu esta rejeição ao apelo de Albuquerque, no passado sábado, considerando que as reunião que o Governo queria manter com os partidos, esta segunda-feira, eram uma “farsa” e “contorcionismo”, afirmando que a força partidária não iria fazer parte desta “encenação” mantendo a sua postura de “coerência e responsabilidade”.
Cafôfo afirmou que “não deixa de ser significativo” que um presidente do Governo que deu as garantias de que tinha condições para ser indigitado como presidente do Governo e que tinha apoio dos partidos da direita para fazer passar a moção de confiança venha, agora, dizer que “nunca deu essas garantias”.
O líder socialista disse que “o PS não tem confiança no PSD, neste Governo e em Miguel Albuquerque” e que a reunião com o Governo quer fazer com os partidos, para um novo Programa de Governo, “é uma encenação” para o governo se vitimizar.
“Não queremos fazer parte de um encontro onde os intervenientes não têm credibilidade no uso da palavra, não são de confiança e praticam a mentira, com a ajuda dos meios de propaganda subsidiados pela Região. Os encontros devem ser à vista de todos os madeirenses, abertos à população, ao vivo e a cores, sem segredinhos nas costas dos madeirenses. Não confiamos na palavra de Albuquerque, nem deste Jaime Ramos [líder parlamentar do PSD na Assembleia da Madeira], outro fiel-escudeiro, para continuarem a explorar os madeirenses, como recentemente denunciamos no vergonhoso negócio do gás”, disse Élvio Sousa.
No passado fim-de-semana, Albuquerque afirmou que “não deu garantias” de estabilidade ao Representante da República, aquando das audições que se realizaram apos as regionais de 26 de maio, e acrescentou que essa foi a conclusão a que Ireneu Barreto chegou face às audições que teve com as restantes forças partidárias com assento parlamentar.
Face ao atual ambiente político na Madeira, Manuel António Correia, que concorreu com Miguel Albuquerque, às eleições internas no PSD, em março deste ano, disse, em comunicado, publicado nas redes sociais, no passado fim-de-semana, que o cerne do problema “não está nos militantes” nem no Partido em si, mas na liderança que se “recusa a reconhecer que este não é o caminho adequado”.
Manuel António Correia diz que “não pode compactuar” com uma liderança partidária que “parece conduzir o partido em direção ao abismo, arrastando não só a estrutura partidária, mas também os interesses” da Região.
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