O que seria do Odemira sem água? Na Sociedade Recreativa São Teotonense, em São Teotónio, no coração do concelho, Ricardo Reis, professor da Universidade Católica Portuguesa, e Vasco Malta, chefe de missão da Organização Internacional para as Migrações (OIM) Portugal, traçaram, esta sexta-feira o retrato de uma terra sem água. Seria uma terra sem pessoas. Pobre e desoladora.
“Haveria um aumento significativo do desemprego tanto entre os estrangeiros como nos locais e provavelmente um êxodo agravando a desertificação humana de Odemira com impacto muito grande nas famílias que dependem destas atividades, o que afetaria a coesão social. A ausência provocaria diminuição da diversidade cultural”, afirmou Vasco Malta.
Ricardo Reis prosseguiu na mesma linha: “O primeiro ajustamento é o fator trabalho. As pessoas que vieram para trabalhar desapareceriam como despareceram nos anos em que não houve investimento, não houve atividade”.
No Colóquio Hortofrutícola, promovido pela Lusomorango – Organização de Produtores de Pequenos Frutos em parceria com a Universidade Católica Portuguesa e que tem o Jornal Económico como media partner, Vasco Malta começou por explicar: “A agricultura e o turismo são fundamentais para a economia de Odemira proporcionam emprego e estabilidade económica e os trabalhadores estrangeiros preenchem lacunas que existem no mercado de trabalho que a população local simplesmente não consegue preencher ou não o quer”.
Esta realidade trouxe desafios, acrescentou, como o da habitação, que não é exclusivo de Odemira, e tem que haver resposta institucional, “mas a responsabilidade pela integração não pode ser só institucional, toda a comunidade tem esse papel, todos nós, só assim se pode garantir a coesão”, considerou.
Vasco Malta disse ainda que há empresas e empresas, mas que a perceção desta agência da ONU é que a maior parte não é abusiva. “A integração é fundamental, ajuda a economia local, ajuda a coesão social. Cada vez mais as empresas têm a preocupação de ajudar a integração dos trabalhadores e de reter o talento”.
Ricardo Reis considerou “ótimo que Odemira esteja sobre escrutínio contínuo”, indica que as coisas não estão a correr mal, pois “não se veem pessoas a fugir daqui”. O professor apontou Odemira como um exemplo de integração que vai funcionando e ajudando a matizar a mais do que cinzenta pirâmide demográfica portuguesa. “Precisamos de jovens e de mão-de-obra para trabalhar, que contribui para a Segurança Social e paga impostos – tudo isso faz com que os fluxos migratórios sejam imprescindíveis”.
Considerou também que é preciso que as respostas sejam claras para que a integração seja feita de acordo com as necessidades do mercado.
Ricardo Reis selou a sua intervenção no painel dedicado ao “Retrato de Odemira: impacto da atividade agrícola hoje e o futuro do território sem a gestão de água necessária”, moderado por José Carlos Lourinho, jornalista do Jornal Económico, explicando que o problema da imigração é global, embora seja mais visível na fronteira sul dos Estados Unidos e da União Europeia, mas é um problema interno sério na China e no Brasil.
E como problema global que é, carece de resposta global: “A política de imigração não pode ser resolvida em S. Teotónio, tem de ser desenvolvida em Bruxelas numa “visão articulada” da União Europeia em parceria com as Nações Unidas e as agências internacionais.
O Colóquio Hortofrutícola é promovido pela Lusomorango – Organização de Produtores de Pequenos Frutos em parceria com a Universidade Católica Portuguesa e tem o Jornal Económico como media partner. A iniciativa, na sexta edição, enquadra-se no programa “Visão Estratégica para o Agroalimentar – Conhecer para Decidir, Planear para Agir”, que tem como objetivo refletir e produzir conhecimento para um sector agroalimentar mais sustentável, inovador e competitivo.
O encontro juntou especialistas da esfera política e autárquica, empresarial e académica. Empresas e autarquia defenderam novas fontes de água para Odemira.
Em Odemira, concelho pertencente ao distrito de Beja, as atividades económicas, em particular a agricultura, são responsáveis por cerca de 60% da economia gerada na região.
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