Os mercados financeiros iniciaram a semana em sobressalto. O principal índice da bolsa de Tóquio caía 13%, na sua pior sessão desde o crash de outubro de 1987 e, em poucos dias, o iene limpava as perdas de 2024 e as bolsas japonesas anulavam os ganhos do ano.

Rapidamente, os receios alastraram, provocando quedas em todas as bolsas e a procura de refúgio em obrigações, até porque se começou a cogitar que os bancos centrais poderiam ser forçados a cortar as taxas de juro. A correção nas bolsas já tinha começado na semana anterior, após a reunião da Fed dos EUA. Não houve alterações na política monetária formal, mas o discurso foi de abertura a cortes de taxas em breve.

Infelizmente, os bancos centrais tendem a agir tardiamente, iniciando os ciclos de cortes de taxas quando a situação económica já é preocupante e, por isso, coincidem frequentemente com uma inversão nas bolsas.

Os dados do emprego nos EUA desapontaram, com a taxa de desemprego a subir para máximos de três anos e o mercado começou a recear uma recessão global, até porque os dados que têm vindo da China e da Europa não têm sido animadores. Essa é a primeira justificação para as quedas: um ajustamento das expectativas quanto à economia.

Há mais explicações, ainda de índole fundamental. A época de resultados não correu bem, com desilusões em várias empresas emblemáticas, num contexto de um mercado “quente” que acumulou subidas expressivas em alguns índices e setores, com métricas de avaliação que fazem lembrar os anos da “bolha dot-com” (na altura com o hype da internet, agora com a Inteligência Artificial). Na verdade, o índice S&P 500 já estaria negativo no ano se não fosse pelo contributo do setor tecnológico.

No entanto, a magnitude das quedas não pode ser explicada apenas por ajuste de expectativas, pelo que há também aspetos técnicos a considerar. Um deles é prosaico, mas real: em agosto há menos liquidez, logo, uma formação de preços menos eficiente. Por outro lado, sabia-se da existência de muitas posições de risco alavancadas, sobretudo com base em endividamento em ienes a taxas de juro baixas, que ao serem fechadas provocaram uma onda de vendas que se autoalimentou.

O mesmo se pode dizer da cada vez maior prevalência do trading com algoritmos, que reagem de forma automática às variações de preços. Finalmente, os montantes envolvidos nos mercados de volatilidade (opções, e derivados do VIX, entre outros) são astronómicos e, por si só fazem mexer as cotações dos ativos subjacentes. São fatores que fazem exacerbar os movimentos de mercado.