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Imigração no Reino Unido “bastante singular” face a outros países europeus

A investigadora do Centro de Migração do Conselho Alemão de Relações Exteriores (DGAP), Sophie Meiners, afirma que o caso da imigração no Reino Unido é “bastante singular” no contexto europeu, mas alerta para crescentes retórica xenófoba também na Alemanha.
Reino Unido
10 Agosto 2024, 17h29

A investigadora do Centro de Migração do Conselho Alemão de Relações Exteriores (DGAP), Sophie Meiners, afirma que o caso da imigração no Reino Unido é “bastante singular” no contexto europeu, mas alerta para crescentes retórica xenófoba também na Alemanha.

“Os membros do anterior governo britânico têm alimentado abertamente sentimentos xenófobos, tornando-os de certa forma mais aceitáveis. Há, por exemplo, provas de que os comentários racistas de Boris Johnson conduziram efetivamente a mais incidentes antimuçulmanos”, disse Meiners à agência Lusa, diferenciando o caso britânico, com vários protestos anti-imigração e xenófobos e confrontos com as autoridades os últimos dias, do alemão.

“A este respeito, o caso alemão é certamente diferente. Embora (o chanceler) Olaf Scholz tenha apelado repetidamente a mais deportações e queira ser visto como alguém que luta contra a imigração irregular, também salienta a necessidade que a Alemanha tem de mão-de-obra qualificada, ou seja, de trabalhadores estrangeiros”, adiantou.

Ainda assim, e de acordo com números divulgados pelo Ministério do Interior alemão no início do ano, 2023 registou o maior número de crimes contra refugiados e requerentes de asilo desde 2016. As autoridades alemãs identificaram 2.378 ataques a refugiados ou alojamentos de refugiados no ano passado, quase o dobro do ano anterior.

“Alguns responsáveis políticos na Alemanha estão a adotar ativamente a retórica da extrema-direita para limitar os sucessos eleitorais destes partidos. No passado, houve vários exemplos de que esta estratégia se revelou infrutífera e que a adoção de posições de direita por partidos centristas conduz, na realidade, a um reforço da extrema-direita”, apontou Meiners, dando o exemplo do partido AfD.

“Na Alemanha, os acontecimentos no Reino Unido fizeram lembrar os motins contra a imigração na década de 1990, em Rostock-Lichtenhagen, onde várias centenas de neonazis, mas também habitantes locais, cercaram o ‘Sonnenblumenhaus’, que albergava o centro de acolhimento central para requerentes de asilo e um albergue para trabalhadores vietnamitas contratados. Em comparação, os meios de comunicação social e a divulgação muito eficaz de notícias falsas ajudaram a extrema-direita no Reino Unido a espalhar os seus motins por todo o país”, realçou a investigadora.

A atual política de migração da Alemanha pretende, por um lado, reduzir a imigração irregular depois do aumento da violência, e por outro facilitar a migração regular.

No final de maio, Scholz, que pertence ao Partido Social Democrata alemão (SPD), apresentou um projeto-lei que permite a deportação de estrangeiros que elogiem atos de terror e outras violências, mesmo que apenas através das redes sociais.

A proposta surgiu em reação ao assassínio de um polícia por um suspeito de nacionalidade afegã. O crime provocou indignação por todo o país, agravada pelos elogios online ao ataque por parte de islamitas radicais.

A especialista em integração e migrações admite que, enquanto o governo alemão aprova leis para facilitar os repatriamentos, ou estuda formas de expulsar os migrantes que cometeram crimes, especialmente para a Síria e Afeganistão, Berlim também assina acordos com países como a Índia, o Quénia ou o Uzbequistão para atrair mais mão-de-obra estrangeira.

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