É um dos melhores da atualidade e isso ficou provado quando James Cameron o convidou para gerir toda a preparação da equipa de Avatar. Kirk Krack é uma das maiores estrelas do mergulho livre, prática que passa despercebida a quem não conhece o meio, e está em Portugal para falar na conferência Diving Talks que se iniciou esta sexta-feira.
Apesar do desconhecimento, o mundo aquático é um dos grandes atrativos de Portugal. Dada a presença de Kirk Krack no nosso país, o Jornal Económico falou com o mergulhador profissional para saber qual a importância da sua profissão numa altura em que o oceano é das partes mais ameaças do planeta. Ficou a promessa de um regresso já no próximo ano para usufruir do melhor que Portugal tem para dar.
O que o levou a seguir uma carreira na apneia e no mergulho livre? Como vê a importância desta profissão no campo desportivo e no desenvolvimento de tecnologia e segurança subaquática?
Cresci como nadador-salvador e instrutor de natação, e o meu tempo livre com a família era passado no nosso veleiro a fazer snorkelling e skindiving, o que eventualmente evoluiu, sem que me apercebesse, para o mergulho livre. Mais tarde, tornei-me profissional de mergulho com escafandro, mas continuei a desfrutar do mergulho livre no meu tempo livre. Hoje, o mergulho livre e os seus avanços tornaram-se numa ferramenta adicional para explorar e descobrir o mundo subaquático, e o mergulho livre, ou em apneia, também serve como treino complementar, melhorando as competências no mergulho com escafandro e no mergulho técnico, tornando os mergulhadores mais completos e seguros.
Treina algumas das maiores estrelas do mundo, desde mergulhadores com recordes até realizadores de Hollywood. Como consegue equilibrar a preparação física e mental necessária para o mergulho com a necessidade de garantir a máxima segurança dos mergulhadores? De que forma este compromisso com a segurança impacta a evolução das práticas de mergulho livre a nível global?
Ao trabalhar com James Cameron nas sequelas de Avatar, treinei o elenco e a equipa utilizando o mergulho livre. No entanto, o grupo variava entre os 6 e os 69 anos, com alguns a terem um elevado nível de competência e confiança na água, enquanto outros tinham fobias em relação à água. No entanto, as personagens que interpretavam nem sempre refletiam as suas competências. Por exemplo, uma atriz interpretava uma personagem que, literalmente, deveria ter nascido na água e passar os seus dias nela, mas na realidade ela não gostava e tinha uma fobia da água. Portanto, conhecer as forças e fraquezas de cada indivíduo é fundamental, assim como perceber que as capacidades de aprendizagem variam entre as pessoas. Estar aberto a personalizar o programa de treino e as competências exigidas ao longo de um período de tempo maior permite desenvolver uma maior capacidade, tanto mental como física, de forma segura, ao ensinar pelo exemplo a importância da segurança.
A conferência Diving Talks em Portugal é um evento importante para o mundo subaquático, reunindo especialistas de várias áreas do mergulho. O que o motiva a participar em eventos como este? O que espera partilhar com os participantes e aprender com outros profissionais durante a conferência?
As Diving Talks motivam-me porque me permitem crescer pessoalmente, ao estar rodeado por alguns dos melhores especialistas do mundo e pela troca de ideias e experiências através de conversas informais. Além disso, tenho a oportunidade de conhecer um grupo mais diversificado de mergulhadores, mais focados no mergulho com escafandro, onde posso mostrar como o mergulho livre/apneia tem um papel importante no seu desenvolvimento global e nas suas competências enquanto mergulhadores holísticos.
A comunidade de mergulho livre tem crescido significativamente nos últimos anos. Na sua opinião, quais são os maiores desafios e oportunidades para o futuro desta prática?
O maior desafio para a comunidade de mergulho livre é a representação enviesada dos acidentes de alto perfil nos media. Quando ocorrem acidentes e são noticiados, o público tem dificuldade em compreender a ideia de reter a respiração, porque, em algum momento, todos nós já sentimos a falta de ar, o que se baseia num medo primário: o da asfixia. Assim, estamos sempre a lidar com a pressão negativa da imprensa, que faz com que o público, sem conhecimento, pense que somos loucos. Isso tem repercussões negativas na nossa capacidade de assegurar infraestruturas, como piscinas, barcos de charter e outros recursos necessários para ensinar o mergulho livre de forma segura e responsável. As pessoas afogam-se a nadar, mas não limitamos o acesso às piscinas; oferecemos mais iniciativas e cursos de natação.
Como podem eventos como as Diving Talks ajudar a moldar o futuro do mergulho?
As Diving Talks podem moldar o futuro do mergulho ao permitir a livre troca de ideias, tanto a nível de especialistas como entre os consumidores.
Teve a oportunidade de explorar ou conhecer a comunidade de mergulho em Portugal?
Infelizmente, ainda não tive a oportunidade de passar tempo suficiente em Portugal para desfrutar do seu oceanos, mas está no nosso calendário para duas semanas no verão de 2025, com a minha filha e o meu parceiro, para finalmente aproveitar Portugal, o seu povo, a sua gastronomia e cultura, para além das Diving Talks. Estou muito entusiasmado.
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