Mais umas sondagens que falharam o alvo: um populista de extrema-direita, pouco conhecido, assumiu a liderança nas eleições presidenciais da Roménia e deverá enfrentar o primeiro-ministro de esquerda Marcel Ciolacu na segunda volta dentro de duas semanas.
É um resultado que abala o panorama político do país, depois de, com cerca de 93% dos votos contados – e uma abstenção que terá rondado os 48% – o candidato independente Calin Georgescu liderar as contagens com cerca de 22% dos votos, enquanto Ciolacu, do Partido Social-Democrata (PSD), seguia com 20%. Elena Lasconi, do partido União Salvar a Roménia (USR), ficou com cerca de 18% e George Simion, líder da Aliança para a União dos Romenos (AUR), de extrema-direita, com 14,1%.
Georgescu concorreu de forma independente e não é conhecido – ou seja, nem sequer contava para os cenários pós-eleitorais que os comentadores foram analisando. O establishment político romeno ficou em estado de choque, como revela a reportagem do Euronews. Depois de ter votado no domingo, Georgescu disse numa publicação no Facebook que votou “pelos injustos, pelos humilhados, por aqueles que sentem que não importam e que, na verdade, são os que mais importam… o voto é uma oração pela nação”.
De acordo com o seu site, Georgescu é doutorado em Pedologia, um ramo da ciência do solo, e ocupou diferentes cargos no Ministério do Ambiente da Roménia na década de 1990. Entre 1999 e 2012, foi representante da Roménia no comité nacional do Programa das Nações Unidas para o Ambiente.
Na véspera da votação de domingo, muitos esperavam ver George Simion, um apoiante declarado do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, enfrentar Ciolacu na segunda volta. Simion fez campanha pela reunificação com a Moldávia, que este ano renovou uma proibição de cinco anos de entrada no país por motivos de segurança contra Simion, que está também proibido, pelas mesmas razões, de entrar na vizinha Ucrânia.
Enquanto os boletins de voto ainda estavam a ser contados, Simion felicitou Georgescu e disse estar “muito feliz por cerca de 40% dos votos dos romenos terem ido para a opção soberana”. Antes da votação da primeira volta, Ciolacu disse que um dos seus maiores objetivos era “convencer os romenos de que vale a pena ficar em casa ou regressar” à Roménia, que tem uma enorme diáspora espalhada pelos países da UE.
Entre os outros candidatos contam-se o antigo secretário-geral adjunto da NATO, Mircea Geoana, que concorreu de forma independente e obteve cerca de 6%, e Nicolae Ciuca, antigo general do exército e líder do Partido Nacional Liberal, de centro-direita, atualmente numa coligação tensa com o PSD, que obteve 9,3%. Treze candidatos concorreram à presidência do país.
O enorme défice orçamental da Roménia, a elevada inflação e o abrandamento económico poderão levar os candidatos mais tradicionais a adotar posições populistas, num contexto de insatisfação generalizada – um facto detetado pelos analistas e que se repete um pouco por toda a Europa.
O presidente exerce um mandato de cinco anos e tem poderes de decisão significativos em domínios como a segurança nacional, a política externa e as nomeações judiciais.
A segunda volta das eleições presidenciais realizar-se-á a 8 de dezembro, uma semana após as eleições legislativas.
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