A Tech Hub Conference, iniciativa anual que já vai para a sua nona edição e que tem lugar na Alfândega do Porto, espera este ano a presença de cerca de 1.400 pessoas, ultrapassando o número do ano passado. Dedicado à área tecnológica, o evento, que reúne a comunidade tecnológica internacional na cidade desde 2015, abordará as últimas tendências do setor – desde um workshop de computação quântica à inteligência artificial e blockchain. A iniciativa contará cerca de 30 stands, 25 palestras e quatro workshops, “consolidando-se como um encontro anual indispensável para profissionais e organizações do setor tecnológico”.
Nos últimos nove anos, a Porto Tech Hub Conference já contou com mais de cinco mil participantes e 80 oradores e trouxe à cidade empresas de renome como a Google, Amazon, eBay, Facebook, Spotify, Microsoft e Netflix. Em entrevista, Luís Silva, presidente da Porto Tech Hub, explica a amplitude e as prioridades do evento.
No quadro de mais um congresso da organização, qual é o ‘estado da arte’ do setor?
O setor tecnológico continua a ser um dos motores de dinamismo da economia global, com um crescimento impulsionado pela inovação constante e pela transversalidade a diferentes indústrias. Em Portugal, temos assistido a uma evolução muito positiva nos últimos anos, algo que está em linha com o que acontece globalmente. Hoje, contamos com empresas cada vez mais focadas em tecnologias emergentes, quer seja a desenvolvê-las ou a implementá-las, como é o caso da Inteligência Artificial (IA), desenvolvimento de software e soluções tecnológicas sustentáveis.
A Porto Tech Hub Conference reflete precisamente esta evolução, promovendo o debate em torno destas tendências e reunindo profissionais e interessados em tecnologia. Este ano, por exemplo, vamos promover um workshop sobre computação quântica e várias palestras sobre IA, que sublinham como estas áreas estão a deixar o campo teórico para começarem a impactar os negócios e os profissionais.
Ao mesmo tempo, o setor enfrenta desafios importantes, como a escassez de talento especializado, uma vez que é uma área que exige uma constante atualização de competências e a necessidade de fomentar uma maior diversidade e inclusão na tecnologia. O evento é uma plataforma para identificar estas questões e pensar em soluções coletivas, que, aliás, têm vindo a ser desenvolvidas pela Porto Tech Hub com o apoio de parceiros como o ISEP e a Câmara Municipal do Porto – como os cursos SWitCH, que especializam e requalificam profissionais para promover aprendizagens em tecnologia.
Quais são os principais pontos da agenda para o congresso deste ano?
A edição deste ano da Porto Tech Hub Conference destaca-se por trazer à cidade do Porto temas na vanguarda da tecnologia, consolidando o evento como referência no setor. Entre os momentos-chave, realça-se a sessão de abertura e o primeiro keynote apresentado por Stephen Chin, “Give Your LLMs a Left Brain”
O foco em inteligência artificial (IA) é evidente, com apresentações como ‘Avoid common LLM pitfalls’, de Mete Atamel, que exploram os desafios desta tecnologia. Outros destaques incluem a palestra ‘Leading self-organizing teams’, de Kim van Wilgen, que aborda metodologias ágeis e gestão de equipas, e ‘Make your security policy auditable’, de Nicolas Fränkel, uma abordagem crítica à cibersegurança no contexto atual. Adicionalmente, o workshop de computação quântica liderado por Gavin King promete atrair atenção especial, ao explorar uma tecnologia que é frequentemente apontada como a próxima grande revolução tecnológica.
Que perspetivas são abertas ao setor pelo OE2025?
O Orçamento do Estado para 2025 apresenta perspetivas relevantes para o setor tecnológico, especialmente em áreas como a digitalização, a formação de competências e o apoio à inovação. Em primeiro lugar, o reforço do investimento na educação e modernização tecnológica é promissor. A alocação de mais de 214 milhões de euros para a melhoria da conectividade e capacitação da gestão escolar e 78,8 milhões em recursos educativos digitais nas escolas, juntamente com os 188,6 milhões de euros em centros tecnológicos especializados, pode potenciar a formação da próxima geração de talentos tecnológicos, algo que é essencial para sustentar o crescimento do setor.
Além disso, a Estratégia Digital Nacional apresenta um horizonte promissor para o setor tecnológico, alinhando esforços em áreas estratégicas como inteligência artificial, 5G, e computação avançada. Esta abordagem integrada visa não apenas impulsionar a inovação, mas também garantir a inclusão e acessibilidade a todos os cidadãos e empresas. Para o setor tecnológico, esta estratégia traz oportunidades em três grandes pilares: transformação digital do tecido empresarial, capacitação digital das pessoas e digitalização da Administração Pública.
Por fim, é fundamental garantir que estas medidas sejam implementadas com agilidade e que o ecossistema tecnológico continue a ser visto como uma prioridade estratégica. Na Porto Tech Hub estamos empenhados em colaborar com instituições e stakeholders para maximizar o impacto dessas iniciativas no fortalecimento da competitividade tecnológica de Portugal.
Por definição, o setor é adverso à ‘desglobalização’ em curso. Que resposta podem dar os seus agentes?
O setor tecnológico, por natureza, é global. As soluções desenvolvidas localmente têm, muitas vezes, impacto à escala global e a colaboração entre países e culturas é essencial para a sua inovação. A desglobalização representa, por isso, um desafio relevante.
Contudo, a resposta dos agentes do setor tem sido resiliente: vemos empresas tecnológicas a trabalhar ativamente para criar ecossistemas colaborativos que transcendem fronteiras. No Porto, em particular, temos conseguido atrair talento e empresas estrangeiras, reforçando o posicionamento da cidade como um hub tecnológico internacional. A acrescentar, iniciativas como a Porto Tech Hub Conference ajudam a fortalecer estas redes, promovendo um diálogo aberto entre empresas e profissionais de diferentes origens. Acreditamos que o papel da tecnologia será, cada vez mais, o de construir pontes, favorecendo soluções que aproximem as pessoas e resolvam problemas globais.
Por outro lado, o ecossistema enfrenta desafios como a incerteza económica e política. Este novo contexto traz uma maior instabilidade para as empresas e para o desenvolvimento de soluções e produtos, nas condições e competitividade do mercado e nas hipóteses de ganhar uma maior escala a nível internacional. Para contornar este problema, é necessário adotarmos uma mentalidade e visão estratégicas, que se alinhem com as exigências do mercado.
Que motivos de interesses destacaria da agenda do congresso deste ano?
O foco da Porto Tech Hub Conference deste ano reflete as principais tendências do setor tecnológico, atualmente e nos próximos anos. A inteligência artificial (IA), em particular, assume um papel central, com destaque para vertentes como IA generativa e as suas aplicações práticas em diversas indústrias. Outra tendência crescente é a segurança tecnológica, uma área cada vez mais crítica e valorizada, dada a crescente complexidade da segurança digital. A computação quântica, por sua vez, é apontada como o próximo grande salto após a IA, o que nos levou a incluir uma sessão prática para explorar o seu potencial e aplicações futuras.
Além disso, o evento tem também foco em aspetos relacionados com práticas de gestão de equipas e recursos humanos, essenciais para apoiar o crescimento sustentável das empresas e do setor tecnológico. Acreditamos que a combinação entre inovação tecnológica e gestão eficiente é fundamental para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades do futuro.
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